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A Mãe Terra e os povos da Amazônia, pregados na Cruz por uma economia que mata .

A história de Deus se repete na vida da humanidade, na tentativa de transformar, de construir o Reino. Esse compromisso muitas vezes leva à morte, que não pode ser entendida como final, mas como um passo em direção à vida plena, em direção à Ressurreição.

A Amazônia, sua Igreja e seus povos vivem um momento transformador, que se concretiza no Sínodo. Trata-se de descobrir que Cristo está encarnado neste território e em seu povo, conseguindo viver, morrer e ressuscitar na Pan-Amazônia. Os povos da Amazônia queriam expressar na Via Crucis que este sábado percorreu as ruas de Roma, saindo do Castel Sant’Angelo até o Obelisco da Praça de São Pedro, pela Via della Conciliazione, um momento de oração, mas também de denúncia em face de injustiças, muitas vezes causadas por uma economia que mata.

Foram os povos e a Igreja que carregaram essa cruz, incluindo os bispos, comprometidos com a vida de seus povos. Na cruz, os rostos de tantos homens e mulheres que deram a vida pela causa da Amazônia, da Mãe Terra, pela causa de quem percorreu as ruas de Jerusalém a caminho do Calvário. Esse Jesus, Crucificado e Ressuscitado, é quem nós católicos seguimos, juntamente com a Igreja, que quer irradiar um testemunho de vida para a humanidade do Vaticano na figura de um Papa que veio da periferia e se sente muito à vontade com quem mora na periferia.

 

 

 

Um Papa profeta, que denuncia os poderes deste mundo, a economia que mata, e a quem tantos tem crucificado, incluindo alguns que se apresentado sob pele de cordeiro, são lobos que estão apenas interessados em comunicar morte. Essa mesma profecia foi lembrada ao longo das estações, que assumiram um rosto amazônico, em seus temas e nos mártires lembrados ao longo da caminhada. São pessoas da Amazônia e dos que legaram a vida para transmitir o Evangelho, Irmã Cleusa, Marçal de Souza, Padre Josimo Moraes, Irmão Vicente Cañas, Galdino Pataxó, Irmã Inês Arango, Padre Alcides Jiménez, Irmã Dorothy Stang, Dom Alejandro Labaka, São Oscar Romero, Padre Ezequiel Ramin, Padre Rodolfo Lukenbein e Simón Bororo, Chico Mendes, e muitos outros e outras que, sem serem conhecidos, deram a vida pela Amazônia, pelo seu povo e pelo Reino.

O Instrumentum Laboris e a Palavra de Deus iluminaram a reflexão e a oração dos presentes. Falar em Direitos Humanos, se posicionar contra os grandes projetos de desenvolvimento, acompanhar os migrantes que se aglomeram nas periferias das grandes cidades da Pan-Amazônia, preservar as culturas, apoiar aqueles que lutam pelo território, às mulheres, garantir os direitos dos povos indígenas em isolamento voluntário, lutar contra a destruição da natureza e a opressão do povo, como foi visto no Equador nas últimas semanas, devem ser uma missão prioritária de uma Igreja que acredita e testemunha o Deus encarnado.

É o Povo de Deus que emerge, que caminha junto, que gera vida e se posiciona contra a morte, que se manifesta em tantas situações na Amazônia. Esse é o povo que está construindo novos caminhos, expressão do novo céu e da nova terra que muitos, a maioria da humanidade, sonham e se esforçam para construir, em fidelidade a Jesus e como testemunho de vida, de compromisso com o Reino, pois é isso que leva à Vida. Foi o que, no final da Via Crucis, pediram os participantes e alguns surpresos ao longo do caminho, que juntaram-se a um grito que vem da periferia e chegou ao centro.

O futuro da Amazônia não depende apenas dos povos que a habitam, é uma questão planetária, na qual todos devemos nos envolver, especialmente as novas gerações. Portanto, o gesto de uma garota europeia entrando na canoa amazônica foi significativo, com uma camisa que dizia “A Causa Indígena é de todos nós”. São as sementes que o Sínodo para a Amazônia está plantando, que podem não dar frutos imediatos, mas que sem dúvida já estão abrindo novos caminhos.

Luis Miguel Modino

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