As CEBs do Nordeste estão dando um novo passo na construção de uma comunicação popular, coerente com a identidade e a história deste jeito de ser igreja a partir da base.
Essa forma de fazer comunicação indica alguns pontos fundamentais. Entre eles:
– fazer uma leitura crítica da mídia;
– compreender o mal que a concentração de poder no setor (oligopólio) causa à democracia;
– participar do movimento pela democratização da mídia;
– produzir a notícia sadia em vez do sensacionalismo;
– abordar assuntos que envolvam igreja e sociedade;
– equilibrar a denúncia das injustiças com o anúncio de ações para superação dos problemas.
Esse mergulho no universo da comunicação também revela questões específicas que afetam a sociedade. Exemplos são os abusos na publicidade infantil, a valorização da estética branca e a divulgação de símbolos preconceituosos como a “mulher-mercadoria” e a “periferia violenta”.
“Que comunicação a igreja está fazendo? As comunidades estão desamparadas, e nosso papel é levar uma comunicação que mostre a realidade e promova transformações”, afirma Ana Café
Tais percepções foram apontadas durante o 2º Encontro de Comunicadoras e Comunicadores de CEBs do Nordeste, que ocorreu de 20 a 22 de julho em Teresina (Piauí). Integrantes do Ceará (NE 1), Piauí (4) e Maranhão (5) refletiram sobre o tema “CEBs, Democratização da mídia e a Construção do Poder Popular”.
A assessoria foi dada pelos jornalistas e membros da equipe de comunicação das CEBs de Mato Grosso (Regional Oeste 2), Ana Paula Carnahiba e Gibran Luis Lachowski. O encontro teve exposição, místicas, cantos, bate-papo, grupos de discussão, leitura de documentos do papa e oficina de produção de textos, áudios e vídeos. (Confira galeria de fotos ao final da matéria)
O primeiro encontro foi realizado em 2017 em Juazeiro (Ceará).
“Que comunicação a igreja está fazendo? E a Pastoral da Juventude? Que comunicação a Comissão Pastoral da Terra e o Conselho Missionário Indigenista estão fazendo? E as Pastorais da Comunicação, o que estão fazendo? E as organizações sociais? As comunidades estão desamparadas, e nosso papel é levar uma comunicação que mostre a realidade e promova transformações”.
As palavras são de Ana Lúcia da Silva Santos, das CEBs do Piauí, que participou e ajudou a organizar o encontro em Teresina.
As perguntas de Ana Café, como é mais conhecida, dão o tom dos desafios no Nordeste. Uma das atividades do encontro foi rever o Plano de Comunicação traçado em 2017. De cara, é preciso ampliar a mobilização para envolver os regionais 2 (Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas e Pernambuco) e 3 (Bahia e Sergipe).
Por isso uma comissão provisória foi criada para fazer a articulação. Mapear os veículos de comunicação de CEBs no Nordeste também é função dessa equipe. Outra é estimular aproximação junto a sindicatos, associações, Oscips (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público) e pastorais socais. Também estreitar laços com iniciativas de comunicação da igreja e suas congregações (ex: Signis, Instituto Humanitas Unisinos e TV Aparecida).
E, ainda, buscar aproximação com experiências de comunicação popular, alternativa e contra-hegemônica (anti-capitalista), como: Teia de Comunicação Popular do Brasil, Agência Tambor e Brasil de Fato.
“Vejo sinais de esperança. Dias atrás tivemos um encontro nacional envolvendo membros de Pascom (Pastoral da Comunicação) do Brasil todo em Aparecida. O que foi discutido lá precisa ser socializado. Pois temos que refletir sobre que mídia vamos construir e se de fato o que estamos fazendo tem um caráter comunitário”.
A observação é de César Soeiro, que conduz há 25 anos o programa “Trem das CEBs” na Rádio Educadora 560 AM, em São Luís (MA). Ele atua ao lado de Antônio Alves de Souza, o Neguim.
“Temos que refletir sobre que mídia vamos construir e se de fato o que estamos fazendo tem um caráter comunitário”, comenta César Soeiro
Esses sinais de esperança devem levar em conta o acesso diário a veículos de comunicação alternativos e o estudo a partir da leitura de documentos e acompanhamento de filmes. Por causa disso, uma lista de sites, blogs e vídeos foi apresentada no encontro e acrescentada de sugestões. Um dos documentos a ser consultado é o Diretório de Comunicação da Igreja do Brasil.
O próximo encontro de comunicadoras e comunicadores de CEBs do Nordeste está agendado para 2019, a princípio, para São Luís (MA). Em breve, a comissão se reunirá para dar nova redação ao Plano de Comunicação, que prevê inclusive a necessidade de um evento de caráter nacional.
Leoni Alves Garcia, do GT de Comunicação das CEBs do Brasil
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