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Recuperar a dimensão feminina para deslegitimar uma cultura de morte baseada na acumulação do capital Tea Frigerio

Encontro de Ecoteologia, o Cuidado da Casa Comum

As temáticas e desafios que a Laudato Si apresenta para os povos e a Igreja amazônica.

O Cuidado da Casa Comum é uma realidade que deve ser cada vez mais presente no pensar e agir de quem se diz discipulo de Jesus de Nazaré. Este pensamento  é explícitado  no que é conhecido como Ecoteologia.    Reuniu-se  em Brasília, num encontro promovido pela  REPAM-Brasil, a Comissão Episcopal para a Amazônia  e o  Grupo de Trabalho  Igreja e Mineração da Conferência Nacional dos Bispos Brasil (CNBB), antropólogos, teólogos, professores e membros da Pastorais  sociais, provenientes de diferentes partes do Brasil.

Juntamente com aqueles que fundaram a reflexão, além dos consultores REPAM-Brasil, se fizeram presentes alguns representantes dos participantes nos diferentes seminários que ocorreram em diferentes regiões da Amazônia brasileira, com o objetivo de   aprofundar as temáticas e os desafios que a  Laudato Si apresenta para as cidades e para a Igreja amazônica.

Alfonso Murad, professor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE) e do Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA) em Belo Horizonte, refletiu a ideia de que a Casa Comum é nossa “irmã e boa mãe”.  Em sua opinião, com base nas ideias que aparecem nas duas primeiras questões do Laudato Si, “somos parte da Terra, não seus chefes, dominadores e saqueadores”, o que deve nos levar a alimentar constantemente “encantamento, admiração e respeito “Diante de tanta beleza   que contemplamos a cada dia”.

Como reconhece  Murad, isso só será possível se realizarmos uma conversão ecológica, que se mova para desenvolver diferentes formas de fazer economia e política, reconhecer o valor intrínseco de cada criatura, aprender a viver com um novo estilo de vida baseado em Sobriedade, lutar pela justiça social a partir de  uma indignação que provoque  mudanças e promova a ecologia integral.

Apesar do progresso do Laudato Si, na encíclica do Papa Francisco, são percebidas algumas lacunas, entre as quais podemos listar a relação entre os seres  humanos e animais e a falta de reconhecimento do papel das mulheres no cuidado de A casa comum.

O teólogo Luiz Carlos Susin, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), afirmou que o Laudato Si repete as idéias do Catecismo da Igreja Católica em relação ao cuidado das espécies, seguindo um esquema,  que, baseado no pensamento grego,  está presente secularmente na reflexão teológica cristã, amplamente superado neste campo pela ética filosófica.

Esta falta de cuidado com os animais se  expressa no Brasil no auge da indústria da carne, uma das grandes fontes de capital nacional, que, na opinião de Luiz Carlos Susin, deve levar a enfrentar esta questão a partir de uma reflexão sobre o conceito de civilização. Ao mesmo tempo, como cristãos, devemos voltar à visão do paraíso que aparece no livro do Gênesis, que nos mostra um jardim de plena harmonia, fruto de uma aliança entre Deus e os seres humanos que habitam a Terra.

O outro aspecto que o Laudato Si não contempla  é aquele que se refere a tudo o que está relacionado ao universo feminino. Conforme  a biblista  Tea Frigerio apontou, a Laudato Si não poderia abordar essa reflexão, pois isso exigiria uma mudança de paradigma a ser feita. Do ponto de vista da teologia feminista, estabeleceu uma relação entre o meio ambiente e as mulheres, que “não adquirem valor como resultado da dominação do homem ocidental moderno”, fazendo parte do “mesmo processo de exaustão e destruição”, resultado de ” Projetos de desenvolvimento que se apropriaram e destruíram os recursos naturais dos quais as mulheres sobreviveram “.

De acordo com o Tea Frigerio, é necessário recuperar a dimensão feminina, que ajudará a “deslegitimar o modo de pensar e a prática de uma cultura da morte que tenha na base o acúmulo de capital”, como foi demonstrado que “na estabilidade Não há estagnação, “uma vez que” uma harmonia nos processos ecológicos da natureza não é um retrocesso tecnológica, mas uma sofisticação tecnológica “. Não podemos esquecer, “a morte dos seres humanos através da morte da natureza é uma forma de violência invisível que hoje é a maior ameaça de justiça e paz”.

Na Igreja Católica Brasileira, a Ecoteologia se concretiza no trabalho realizado pela Pastoral Social. As experiências do Conselho Missionário Indígena (CIMI), da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e das Cáritas brasileiras mostram que cuidar da Casa Comum deve motivar   a Igreja para  cuidar daqueles que a sociedade descarta. As atitudes proféticas são necessárias a favor dos  descartados que ajudam a recuperar o projeto de harmonia original do Criador.

Se existe um lugar onde você pode falar sobre Ecoteologia de experiências concretas   é a Amazônia, onde os Povos Amerindios desenvolveram o que é conhecido como Terra sem Males, Sumak Kawsay e Bem Viver.  Ricardo Gonçalves Castro, professor da Faculdade Salesiana de Dom Bosco (FSDB) e Instituto de Pastoral e Ensino Superior da Amazônia (ITEPES) em Manaus e Iraildes Caldas Torres, professora da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), os participantes descobriram que conhecer e imitar essas experiências dos povos nativos são a melhor maneira de perceber que os cuidados da Casa Comum que hoje devem estar presentes na vida de cada discípulo.

Na opinião de Ricardo Castro, é necessário realizar uma Ecoteologia na Amazônia “re-leituras contextuais, de gênero, intercultural e pós-colonial”. Somente dessa perspectiva, podem ser feitos avanços que ajudem a realizar os pressupostos  defendidos por essa ciência.

Diante dessas propostas positivas, o seminário não se esqueceu  que existem realidades contrárias ao que é defendido pela Ecoteologia. Uma delas é a mineração, que causa conseqüências nocivas no meio ambiente e nas pessoas que vivem em diferentes cantos da Amazônia e do planeta.

Sandro Gallazi, do Centro Ecumênico de Serviço de Evangelização e Educação Popular (CESEEP), Marcelo Barros, Coordenador da Associação Ecumênica de Teólogos do Terceiro Mundo (ASETT), e Dário Bossi, da Igreja e Mineração, trouxeram os sofrimentos que as grandes empresas estão provocando e que são uma prova a mais das denúncias da Laudato Si em tudo o que se refere a primazia  do capital sobre a vida do planeta e das pessoas,    encontrando  uma expressão clara nesse tipo de Atividades.

É a partir das reflexões nascidas desse tipo de encontro que    se vão  construindo  propostas alternativas    para  o sistema dominante. Não podemos esquecer que as novidades só são reforçadas na medida em que, a partir de atitudes proféticas, aparecem novos elementos que nos permitem avançar e dar passos que tornam realidade um mundo melhor para todos, o Bem Viver.

  Por Luis Miguel Modino – ww.periodistadigital.com

 

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