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JMJ, momento de partilha e denuncia para os jovens indígenas brasileiros.

Se faz necessário “lutar pelos nossos direitos que estão sendo ameaçados. Cada governo que entra modifica tudo, vai tirando os direitos dos povos indígenas”.

Panamá vai sediar a Jornada Mundial da Juventude de 22 a 27 de janeiro, um encontro onde se farão  presentes jovens brasileiros. Entre eles estarão representantes dos povos indígenas, enviados pelo Conselho Indigenista Missionário – CIMI. Nos días prévios, os jovens indígenas estão participando do Encontro Mundial da Juventude Indígena, que acontece em Soloy, diocese de David, de 17 a 21 de janeiro.
São jovens de diferentes povos e regiões, que esperam que o encontro seja uma “grande oportunidade para a gente poder fazer uma troca de experiências”, segundo Ionara, uma jovem de 18 anos do povo guarani kaiowa de Mato Grosso do Sul. Ela exige que seja reconhecida a identidade de cada povo, “os governos falam que os índios são todos iguais, mas nós não somos todos iguais, somos indígenas, temos a mesma cor de pele, o mesmo sangue, mas nós temos várias tradições, várias culturas, várias línguas”. Segundo a jovem, a JMJ “é uma oportunidade única para a gente poder falar sobre isso, para a gente poder falar como é a visão dos povos indígenas jovens. Também para poder conhecer os outros povos indígenas e os jovens, porque hoje em dia quase que os jovens não são valorizados”.


Segundo a indígena do povo guarani kaiowa, “essa seria uma oportunidade para a gente poder falar o que a gente pensa, o que a gente entende, poder falar o que a gente sente de verdade, não deixar que os outros falem por nós, porque isso já aconteceu várias vezes. Este encontro vai ser uma troca de experiências para que o mundo possa nos ouvir mais”.

Para os indígenas, a natureza, a terra, tem una importância fundamental, como reconhece Marina, do povo guajajara, do estado do Maranhão. Mesmo com culturas diferentes, ela insiste em que todos têm o mesmo objetivo, “defender a terra, continuar praticando a cultura”. Nessa perspectiva, na medida em que vão conhecendo e convivendo com cada jovem, “a gente vai aprendendo a realidade de cada um e a expectativa acaba nos surpreendendo e acaba pegando o que há de melhor em cada cultura de cada povo.

Micael está participando de sua segunda JMJ, “tive o privilégio de ir em 2013, aqui no Brasil”, segundo o indígena do povo baré, do estado de Amazonas, mas no Rio de Janeiro “não tivemos a oportunidade de mostrar a valorização da cultura indígena”. Segundo ele, “a Jornada Mundial da Juventude e o Sínodo são momentos que estão dando nossas oportunidades para dialogar, conhecermos outras culturas e a realidade dos outros povos.É uma boa expectativa que estamos tendo para o mundo enxergar nossas necessidades, tanto os jovens indígenas e outros jovens que sofrem, que são esquecidos, principalmente, nós jovens indígenas”.

O fato de vive rem comunhão com a Mãe Natureza, é um estilo de vida que “nesse país incomoda ao sistema capitalista”, reconhece Fábio, do povo Pataxo Hã-hã-hãe. Para os povos indígenas, a floresta, os rios, os animais silvestres são importantes, o que confronta a proposta do agronegócio. “Hoje as nossas lideranças indígenas estão sendo criminalizadas, estão sendo ameaças, estão sendo mortas. Os nossos rios estão sendo contaminados, tem várias comunidades que estão consumindo água do rio com veneno, com agrotóxico. As matas estão sendo derrubadas”, denuncia o indígena do estado da Bahia.

Por isso, ele pede “à Igreja que olhe para a comunidade indígena, que passe à ação. Uma das maiores ações da Igreja católica foi a criação do CIMI, uma organização que hoje está sendo ameaçada pelo governo. A Igreja precisa fortalecer esses missionários, que tem um grande desafio, que é cuidar e permitir seus direitos perante a sociedade aos povos indígenas”. Essa é a mensagem que estão levando para a JMJ, diante das propostas do novo governo, que tem ameaçado os povos indígenas e suas terras, o que no primeiro mês de mandato está se materializando. É por isso que ele quer “pedir apoio à juventude diante dos problemas que estão acontecendo em nosso país”.

Sidiclei, é um jovem do povo tukano, seminarista da diocese de São Gabriel da Cachoeira, no estado de Amazonas, que em 2019 vai ser ordenado diácono e sacerdote. No meio aos clamores dos povos indígenas, ele destaca “o direito à vida, os povos indígenas desde 500 anos atrás, desde a colonização, continuam sendo mortos ainda, parece que o ser humano não cresce, não evolui para a humanização.”. Junto com isso os problemas relacionados com a terra e a presença da Igreja nas comunidades indígenas.

“A Igreja deveria reforçar, como o Papa Francisco já vem fazendo isso, o protagonismo dos povos indígenas, eles mesmos sendo protagonistas das comunidades indígenas”, insiste o seminarista. Na diocese de São Gabriel está começando se formar o clero autóctone, que pode ajudar “para os próprios povos indígenas conseguirem caminhar eles mesmos, lutar pela valorização de suas tradições culturais, de seus valores éticos, e pela ecologia integral, para a sobrevivência do próprio ser humano”.

Ele também coloca a necessidade de “não ser escravo do capital, pois quando isso acontece nós mesmos estamos nos matando, quando as grandes florestas se acabarem é o próprio ser humano que vai se prejudicar. Ir para a Jornada Mundial seria colaborar para essa obrigação do ser humano para com a Mãe Natureza”.

André Karipuna, é um jovem cacique de seu povo, ele quer aproveitar a Jornada para “trocar experiências, mostrar para o mundo os problemas e dificuldades que os povos indígenas têm no Brasil”. São problemas comuns, que tem aumentado com o atual governo, o que provoca que “nós jovens estamos mais preocupados. Preocupação pelas futuras gerações, nossos filhos e netos”. Segundo o cacique caripuna, se faz necessário “lutar pelos nossos direitos que estão sendo ameaçados. Cada governo que entra modifica tudo, vai tirando os direitos dos povos indígenas”.
O jovem quer “agradecer às igrejas por terem abraçado essa causa as igrejas por ter abraçado essa causa, estar junto com a gente nessa luta, sempre dialogando, conversando com a gente, preocupadas com nós”. Ele denuncia que “aqui no Brasil a gente passa por muita situação complicada, muito preconceito, muitos olhares diferentes”. Por isso, ele quer “mostrar no Panamá que aqui não é às mil maravilhas como muitos pensam, que estamos preocupados com o atual governo”. Junto com isso ver “como a JMJ pode ajudar a tomar consciência sobre a importância dos povos indígenas no cuidado do Planeta, da Casa Comum”.
“Não importa o local onde você está, sempre tem uma grande força, uma espiritualidade que faz valorização dessa grande Mãe que é o Planeta Terra”, segundo Fábio. Ele quer “chamar a atenção para o cuidado que precisamos ter com a terra e refletir sobre a questão da desigualdade em termos de território. O mundo tem território para que todos pudessem viver bem, com saúde, mas infelizmente a ambição tem feito com que poucas pessoas tenham aceso a grande parte da terra, e com isso acaba querendo dominar as outras pessoas”.

Os povos guarani kaiowa do Mato Grosso do Sul têm esperança no Papa Francisco, afirma Ionara. Ela se sente enviada pelo seu povo, quer que o Papa conheça seu sofrimento, e espera dele palavras de consolo. Ela critica o Presidente Bolsonaro, afirmando que “ele não tem autoridade nenhuma, ele pode dizer que ele é poderoso, mas ele não é poderoso, ele também tem sangue, ele também tem osso, ele é um ser humano qualquer”. Ela diz que “o Jair Bolsonaro pode falar o que quiser, ele pode querer fazer qualquer coisa contra os povos indígenas, mas com a gente é diferente, a gente vai agir através dos cantos, da nossa reza, a Mãe Natureza vai nos ajudar, o Sol e a Lua também. Nossa reza é sagrada”.

Fábio denuncia que “Brasil existe muitos católicos que hoje têm propriedades dentro das nossas terras, as vezes tem católico que está mandando matar índio”. Por isso, “a Igreja precisa fazer essa intercessão nesse país nosso, dizer basta aos governantes, a essa mídia perversa que fomente o ódio, que mente, que ilude sobre a realidade dos povos indígenas”, insiste o indígena pataxo hã-hã-hãe, ele quer “dizer ao Papa que os católicos do Brasil também voltem o olhar para a questão, que os católicos façam de fato aquilo que Jesus pregou e deixou à Igreja, olhar para os pequenos”.
Nesse sentido, Fábio lembra do último Intereclesial das CEBs, acontecido no ano passado em Londrina. Segundo ele, “quando se tratou da temática indígena, a gente sentiu que algumas pessoas não se sentiram bem. Nós indígenas tivemos que insistir para que a gente conseguisse um tempo maior para a gente mostrar a realidade que o nosso povo vive no Brasil”.
Ele acredita “que através da força dos encantados, de nossa espiritualidade, de nossa ancestralidade, Deus vai dar uma oportunidade para que as pessoas consigam entender o que a causa indígena representa”. Por isso, ele insiste em que “nós queremos o nosso direito de viver e de ser respeitado de acordo à cultura de cada povo nesse país. Cada povo tem suas particularidades, existe em cada povo a vontade de viver, de ter liberdade, de usufruir de seu território sem ficar nesse impasse de disputa, de medo, de tensão o tempo todo”.
Segundo o indígena da Bahia “as vezes as pessoas pregam que a gente representa um empecilho ao progresso do país, um prejuízo à sociedade, mas já foi provado que os territórios indígenas são as áreas mais preservadas e esse modelo que o Brasil precisa. Queremos o direito de viver em nosso país com a dignidade de estar em nosso território”.

Essa afirmação  se faz presente nas palavras de Marina Guajajara, “para meu povo, o maior medo neste momento é o de perder as terras, porque perdendo a terra demarcada, perde a sua cultura, perde a sua fé, vai perder grande parte do que move a pessoa a viver, porque o indígena estando na terra indígena, ali é tudo, ali tem suas crenças, tem sua cultura, tem sua língua”. A jovem indígena denuncia que “com esse novo governo, a maioria dos povos indígenas estão com medo de ficar sem as suas terras. No momento é mais orações para que a terra continue sendo dos indígenas”.

Esse aspecto também é destacado por André Karipuna, “as autoridades do Brasil acordem e retirem todos os grileiros dos territórios que estão sendo invadidos. Que toque na mente dos poderes públicos, que tem que resolver os problemas que estão acontecendo em geral no Brasil com os povos indígenas”.

O povo baré quer a valorização da cultura, fomentar uma mensagem de perseverança e de esperança que nunca morre. Seu representante na JMJ, diz que “esperamos propostas boas do Papa Francisco para todos os povos indígenas”. Micael destaca a “preocupação com o futuro de nosso Planeta, nosso rios que estão sendo poluídos, as nossas matas que estão sendo destruídas”.
O encontro também pode ser momento para encontrar elementos que ajudem os povos indígenas. Sidiclei espera trazer de volta “a comunhão de todos os jovens indígenas e do todos os jovens que vão participar dessa Jornada Mundial da Juventude. Aprendizado com outros povos, como é que eles vivem os desafios e como valorizar as culturas tradicionais, e também essa comunhão, que estamos juntos nessa luta, a união de todos os povos, principalmente dos povos tradicionais, originários, que valorizam suas culturas”

Junto com isso, “ter impacto nas autoridades de toda a Igreja, de toda a sociedade, que tenha repercussão. Espero a conscientização de toda a Igreja, de todas as Igrejas, de todas as religiões, de toda a sociedade e a sociedade civil. A gente espera uma resposta, que não fique só lá no Panamá, mas que mundialmente, também no Brasil, possa fazer essa diferença e continuar com essa perseverança, com essa esperança, no meio aos desafios, às tristezas, e às alegrias também, a gente possa continuar caminhando”.

Por Luis Miguel Modino

1 Comment

  • Parabéns os grandes guerreiras jovens, nosso grande pai Tupã ilumina cada um de vcs, temos jovens índios deficientes quê ser reconhecidos pela as três eferias do nosso pais Brasil, muitos de todos nós somos viotentados pelos os fazendeiros, garimpeiros, madeireiros e as rodovias que passam nas aldeias indígenas, somos esquecidos pelos os dereitos humano, queremos viver junto com a nossa mãe natureza que ela é a nossa grande vida para toda humanidade que pizar nesta mãe terra.

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