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Reflexão | 5º Domingo da Quaresma – Ano C

Leituras: Is 43,16-21 – Sl 125 – Fl 3,8-14 – Jo 8,1-11

Por: Quininha Fernandes Pinto

Eis uma afirmação muito repetida mas que não perde a sua eficácia: não basta observar a lei para ser justo diante de Deus. As pessoas observantes da lei, corretas no exercício de seus deveres e compromissos, religiosas e praticantes dos preceitos cristãos não podem atirar pedras, criticar, julgar e punir os que assim não se comportam. Esta é a lição do Evangelho deste 5o Domingo da Quaresma, conhecido como a passagem da mulher adúltera. A CF 2022, utiliza esta passagem para evidenciar a pedagogia utilizada por Jesus para “educar com sabedoria e amor” – tema da Campanha da Fraternidade deste ano.
Colocaram diante de Jesus uma mulher apanhada em adultério. Apenas a mulher, como se o ato tivesse sido praticado somente por ela, e lhe pediram que se pronunciasse… Segundo a Lei de Moisés, ambos os envolvidos no adultério, o homem e a mulher, deviam ser punidos com a morte por apedrejamento – cf. Dt 22,22 -, mas os fariseus queriam colocar Jesus no papel de juiz, para testá-lo em relação à observância da lei. Queriam também fazer prevalecer a rigidez no seu cumprimento e dar a conhecer a todos que é ela que salva e que, somente eles, os fariseus, são seus legítimos representantes. Por outro lado, a mulher no judaísmo de então, não tinha o direito de tomar a palavra em público. Disseram então: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?”. Ao que Jesus responde: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. E, curiosamente, foram saindo um por um, a começar pelos mais velhos… e Jesus continuava a escrever na areia, aguardando a reação dos seus interlocutores. Este episódio, narrado por João, nos introduz no cenário de uma educação que ensina, corrige, e não pune: a pedagogia do amor de Deus. Ao escrever no chão, Jesus se diferencia da prática dos escribas = doutores da lei, que sempre invocam o que “está escrito”; agora é Jesus quem “escreve” no coração das pessoas a lei do amor, da misericórdia e do perdão. Jesus pergunta à mulher pelos homens que a tinham condenado… todos foram embora, sem condená-la! Jesus estabelece um diálogo com aquela .mulher, quebra a tradição cultural e ela “fala”!
Assim, o que “está escrito” é importante, mas a forma de ler o que está escrito é decisiva para avançar no caminho da vida. Pedras na mão, ódio no olhar, ouvidos surdos aos gritos por socorro e corações endurecidos, era assim no tempo de Jesus e ainda hoje é assim que lidamos com as falhas do outros, muitas vezes bem menores que as nossas! O veredito de Jesus segue a lógica do diálogo. A mulher é restituída em sua dignidade humana e, só assim, faz sentido que Jesus lhe indique o caminho novo para a nova vida: “Vai, e de agora em diante, não peques mais!”. Ele conduz, pedagogicamente, todas as partes envolvidas para que sintam e reflitam sobre as fragilidades humanas, às quais todos estamos sujeitos. Aplicado ao tema da Campanha da Fraternidade 2022 pode-se concluir que “não se pode reduzir a educação apenas à transmissão de conhecimentos. A sociedade, muitas vezes violenta e injusta, necessita de algo a mais do que muitas vezes é oferecido com meros objetivos utilitários” – CF 2022, n.24.

Pensemos nisso. Bjs no coração.

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