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Reflexão da Palavra | 15º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Por: Quininha Fernandes Pinto

Leituras: Dt 30,10-14 – Sl 68 – Cl 1,15-20 – Lc 10,25-37

Neste domingo a 1a leitura nos lembra a observância dos mandamentos e preceitos que “estão escritos” indicando que o mandamento do amor a Deus está na boca e no coração humanos para ser cumprido. A carta de Paulo aos Colossenses é um dos mais belos hinos cristológicos do Novo Testamento, exprimindo o primado de Cristo, um ser concreto, encarnado que é chamado de imagem de Deus, porque reflete, em sua natureza humana e visível, a imagem do Deus-invisível. É este Cristo encarnado, de quem pode ser dito, que foi gerado antes de toda a criatura – Primogênito da Criação – e que, na ordem da salvação, uniu em si todas as coisas. Nesse sentido, Jesus é a resposta ao “como” cumprir a lei antiga, pois anunciou e viveu a síntese da lei de Moisés, a lei do amor. O Evangelho apresenta para a nossa reflexão uma passagem conhecida. Um mestre da lei, querendo pôr Jesus em dificuldade, perguntou-lhe o que deveria fazer para receber de herança a vida eterna/salvação. E Jesus recordou o que ele já sabia, afinal era jurista, devolvendo-lhe a pergunta: “O que está escrito na lei? Como lês? E o mestre da lei, que bem o sabia, respondeu: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao próximo como a ti mesmo”. Jesus concordou, e elogiando, acenou: “Faze isso e viverás”. Não satisfeito, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?”.

A parábola contada por Jesus é conhecida como a parábola do Bom Samaritano. Os samaritanos eram discriminados, não aceitos nem bem quistos… um homem foi assaltado por malfeitores, que lhe tiraram tudo e o espancaram, deixando-o quase morto na beira da estrada. Passaram por ele pessoas muito religiosas, bem vistas, ilustres e respeitadas, mas estavam por demais ocupadas, cheias de compromissos para “perder tempo” e seguiram seu caminho. Foi exatamente “o samaritano” que parou, sentiu compaixão, cuidou das suas feridas, colocou-o no seu animal e o levou a uma pensão, entregando-o para que o proprietário da mesma, cuidasse do ferido… Deu-lhe ainda dinheiro para os gastos com o doente… e disse “Toma conta dele! Quando eu voltar, vou pagar o que tiveres gasto a mais”. A cena que abstraímos na nossa mente é muito clara, mas nem sempre percebemos que se trata de uma mudança de foco – uma virada de perspectiva – sobre a figura do “próximo”! Todos sabemos qual a resposta à pergunta feita pelo mestre da lei: são próximos todos aqueles e aquelas que passam pela minha vida, conhecidos ou não, amigos, vizinhos, e até inimigos… costumamos chamá-los de irmãos; mas a pergunta final é diferente; costumo brincar que foi uma “pegadinha” feita por Jesus àquele mestre da lei e a todos nós também: “Quem foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” É uma mudança de atitude substancial… da passiva postura de ver e reconhecer os outros como “meus próximos”, para uma iniciativa de “fazer-me próximo” dos meus semelhantes; é agora uma postura ativa de ir ao encontro, de estar ao lado, de interessar-me por seus problemas/projetos, de ter “compaixão e misericórdia” para com o Outro. Misericórdia é uma palavra composta de duas outras: de miséria + coração. Ter/sentir misericórdia para com o meu próximo é colocar o meu coração junto à sua miséria, às suas necessidades, à sua vida. Fazer-se próximo é viver a vida do “outro” sem torná-lo “mesmo” – diria Emmanuel Lévinas – respeitando e mantendo nossas diferenças… é alteridade.

Que nós possamos, a exemplo da parábola deste domingo, estar atentos aos caídos da estrada, a termos compaixão, e, mais que o reconhecimento de quem são nossos próximos, ter uma coragem amorosa de nos fazermos próximos deles. Foi isso que Jesus fez conosco. Veio aqui, encarnou a nossa história, tornou-se próximo, irmão!

Bjs no coração!

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