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Reflexão da Palavra| Domingo de Ramos – Paixão do Senhor

Por: Quininha Fernandes

Leituras:

Lc 19,28-40 – Is 50,4-7 – Sl 21 – Fl 2,6-11 – Lc 22,14-23,56

As comunidades cristãs católicas celebram hoje, e sempre com muito entusiasmo, a entrada de Jesus em Jerusalém. Organizam-se procissões, às vezes, encenações e, ao final, levam alguns ramos bentos para casa. Importa resgatar o verdadeiro sentido desta entrada para que possamos celebrar a festa com mais profundidade. O primeiro relato de Lucas prepara a citação do profeta Zacarias, quando Jesus pede para irem ao povoado buscar emprestado um jumento: “Dizei à filha de Sião: Eis que o teu rei vem a ti, manso e montado num jumento, num jumentinho, num potro de uma jumenta”; e Jesus foi para Jerusalém. Zacarias já havia profetizado: “Dance de alegria, cidade de Sião; grite de alegria, cidade de Jerusalém, pois, agora o seu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumentinho, filho de uma jumenta. Ele destruirá os carros de guerra de Efraim e os cavalos de Jerusalém; quebrará o arco de guerra. Anunciará a paz a todas as nações, e o seu domínio irá de mar a mar” – Zc 9,9-10 -. Este texto de Zacarias concretiza-se na entrada de Jesus em Jerusalém, uma entrada verdadeiramente triunfal, mas diferente da entrada de outros “reis” pois era o triunfo de Deus, do Messias dos pobres e justos, é uma nova interpretação nos valores da sociedade. Sua “entrada” era a reviravolta dos valores opressores dos Reinos mundanos, significa a celebração de Iahweh, o libertador, que “ouve o clamor dos pobres”. E todos sabemos o desfecho desta entrada, a imensa narrativa da Paixão de Jesus, que hoje é proclamada, nos recorda isso… A celebração do Domingo de Ramos deve nos levar a um compromisso maior com a construção de um mundo de paz, mas não qualquer paz: uma paz que seja fruto da justiça, da partilha e da solidariedade, uma paz que brota do amor fraterno.O triunfalismo hoje celebrado é diferente dos eventos, banquetes e festas sociais, preparados para um número seleto e reduzido dos “mais próximos”, dos seguidores fanáticos e cegos representantes de seus “mitos” onde os pobres nem são lembrados… O triunfo de Deus, hoje celebrado, é o triunfo da fraqueza de Deus, o Deus da Cruz, do projeto do Reino, como bem disse Paulo, “o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” – 1Cor 1,25 -. Deus só é poderoso no absurdo e na intensidade do Seu Amor! Portanto, hoje celebramos a vitória de Deus que vem da fidelidade ao projeto do Reino que o levou a um trono que é a Cruz e a uma coroa feita de espinhos! Evitemos criar uma caricatura de Jesus como um Rei poderoso, configurado aos padrões da nossa sociedade, e procuremos recuperar a finalidade da ação profética de Jesus que é reascender a esperança dos excluídos, marginalizados, pobres e oprimidos, assumindo cada vez mais ações concretas na busca de uma “Terra sem Males”. Na encarnação, Jesus fez sua, tomou para si a pobreza radical do ser humano perante Deus. Para que reine a humildade, o amor e a concórdia entre os irmãos é necessário terem/termos eles/nós “os mesmos sentimentos de Jesus Cristo” que não teve medo e, como verdadeiro Servo sofredor, viveu a nossa experiência humana até a morte. Mas Deus recompensou a sua fidelidade, glorificando-o e fazendo-o Senhor! E é a este Senhor que os nossos joelhos devem se dobrar, a nenhum outro! Muitos “senhores” se põem a serviço da “comunidade”, da “sociedade” e até da “pátria” mas o que querem mesmo é ascensão e benécias sociais e pessoais, status e poder. Os pobres nunca estiveram nos planos destes “reis/messias triunfalistas” que gostam de bajulações, dos primeiros lugares e de reconhecimento, de lucro e enriquecimento ilícito…. Que neste início da Semana Santa pensemos com seriedade sobre isto: * a quê, a quem eu dobro meus joelhos? * a quem eu vendi a minha consciência e a minha liberdade?* quem é o Senhor da minha vida?* quem eu proclamei Rei e Senhor deste/neste mundo?As leituras deste domingo de Ramos, partem de uma questão: uma vez que que Cristo ressuscitou, que sentido têm sua paixão e sua morte? Vale lembrar que não só a ressurreição, mas também a paixão, em todas as suas modalidades, é parte do plano salvífico de Deus… Jesus continua sendo crucificado e morto todos os dias nos corpos dos pobres, dos famintos, dos sem-terra, dos sem-teto, dos refugiados… quando criaremos mecanismos de Ressurreição para eles???? Pensemos nisto. Bjs no coração. Amém. Bjs no coração.

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