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TODOS DEVEM SABER LER, ESCREVER E FAZER CONTAS: MAS É PROIBIDO PENSAR!

Políticos profissionais não gostam de um povo que interprete. Gostam de um povo que obedeça, que leia pouco, interprete pouco, que olhe apenas em uma única direção. Nada de novo debaixo do sol!

Com indignação escutamos as declarações do atual presidente da República de que o Brasil irá reduzir investimentos nas faculdades de Filosofia e de Sociologia. Qual o motivo disso? Segundo o ele, o país precisa investir em faculdades que “geram retorno de fato”. Será que a Filosofia e a sociologia não geram retorno? Evidente que Filosofia e Sociologia não são áreas técnicas e, portanto, não podem ser aplicadas às engrenagens do mercado. No entanto, a raiz das ciências está na Filosofia, que surge com um encantamento do homem em relação ao universo e a própria existência.

Se a Filosofia não move as engrenagens do mercado ela faz a principal pergunta a inquietar o ser humano: por que existimos? Dessa interrogação decorrem tantas outras que sempre foram fundamentais para a existência da nossa espécie. A Sociologia, tão pouco, move, diretamente, o poder do capital. No entanto, nos escancara o funcionamento das sociedades em suas grandezas e em suas patologias. O mercado e o capital deveriam estar a serviço do ser humano e não o contrário.

Penso que seja esse, exatamente, o problema. Filosofia e Sociologia não se deixam instrumentalizar, são livres, são asas do pensamento. Não podem ser presas à lógica mercantil e, por isso, são perigosas. Perigosas pelo fato de que, sendo livres, ensinam as pessoas a serem livres. As ciências humanas são assim. Pode-se dizer, inclusive, como muitas vezes já foi afirmado que as ciências humanas são ciências hermenêuticas. Em outras palavras, existem para questionar, interpretar e conceder sentido ao mundo. Políticos profissionais não gostam de um povo que interprete. Gostam de um povo que obedeça, que leia pouco, interprete pouco, que olhe apenas em uma única direção. Nada de novo debaixo do sol!

Há um projeto de transformar as pessoas em engrenagens do mercado, sem que consigam questionar esse mecanismo. A técnica é fundamental para o desenvolvimento da sociedade e ninguém coloca isso em xeque. No entanto transformar todos os seres humanos em técnicos apenas faz das pessoas massa de manobra. Um técnico trabalha, produz, mas não questiona. Não adianta ensinar a ler, escrever, fazer cálculos se isso não nos humaniza. Precisamos ensinar a ler, escrever, calcular e interpretar. Precisamos capacitar aos estudantes à consciência crítica. Urge que as pessoas saibam pensar, olhem o mundo de forma ampla, considerem o diferente, aprendam a respeitar.

Na cultura grega clássica surge o termo “politica”. Política, o cuidado com a “Pólis” retratava o cidadão livre, que pensava nos problemas comuns para tentar dirimir as questões sociais. O vocábulo antônimo à política é “idiota”. O idiota é o “homem privado”, que cuida apenas de si, que pensa apenas em uma direção. Não podemos permitir que nossa educação prive os estudantes da capacidade política, tornando-os um bando de idiotas.

Pe. Leonardo Lucian Dall Osto

4 Comments

  • Cristiane

    Parabéns ao autor do texto!
    Compartilho da mesma opinião sobre “Não adianta ensinar a ler, escrever, fazer cálculos se isso não nos humaniza. Precisamos ensinar a ler, escrever, calcular e interpretar. Precisamos capacitar aos estudantes à consciência crítica. Urge que as pessoas saibam pensar, olhem o mundo de forma ampla, considerem o diferente, aprendam a respeitar.” Quanto à “parcela” que em altares das igrejas – católicas, evangélicas- faziam o gesto mais popular da campanha do atual presidente, peço : Senhor, perdoe-os, certamente não sabiam o que faziam.

  • Fátima Carvalho

    Gostaria de indicar um livro excelente: O PODER DAS IDÉIAS👍
    Ludwig von Mises, um dos maiores economistas e filósofos sociais do século XX, teve uma vida altamente produtiva e desenvolveu a ciência econômica de forma integrada e dedutiva a partir do axioma de que indivíduos agem propositadamente para alcançar seus desejos e metas. No entanto, pouco se conhece sobre os desejos e metas de Mises e sobre como agiu em momentos críticos. Na primeira parte sobre a vida de Mises, Helio Beltrão discorre sobre fatos marcantes e desconhecidos, como a luta de Mises pela vida nos congelantes Alpes durante a Primeira Guerra Mundial, o saque de seu apartamento e o confisco de sua propriedade pelos nazistas mais de um ano antes, do início da Segunda Guerra Mundial e a fuga por ônibus através da França ocupada em 1940. Adicionalmente relata a ligação de Mises com Friedrich Hayek, seu envolvimento com Margit e contextualiza a notável adaptação de Mises ao Novo Continente onde chegou sexagenário e sem recursos e consolidou sua carreira e reputação com o lançamento de Ação Humana. Beltrão também delineia a trajetória da escola econômica de livre mercado, conhecida como Escola Austríaca, desde sua origem moderna em 1871 até os dias de hoje. Na segunda e terceira partes, Rodrigo Constantino e Wagner Lenhart apresentam sumariamente a obra e os ensinamentos de Mises, por meio de resenhas dos principais livros e de citações que ilustram as principais lições desse prodigioso economista.

  • Elisabeth R. P. Neufeld

    Prezado reverendo,
    Toda minha formação profissional foi feita em cima da Filosofia e Sociologia que realmente me capacitaram para melhor observar os homens e as comunidades. Entretanto, apesar de ter sido excelente aluna e ter me formado entre os 10 primeiros colocados da UEG, hoje UERJ, para ter uma vida profissional, sem ser professora, tive que fazer administração, concursos públicos e minha carreira toda foi montada em cima da administração. Por experiência própria tenho que concordar com o governo em incentivar as carreiras mais promissoras se quisermos desenvolver este país. Meu sobrinho, é veterinário e farmacêutico e pesquisador e no entanto há coisa de 3 anos passou a estudar filosofia, eu mesma sou apaixonada por história, principalmente medieval e apesar de não ter feito faculdade, creio que muitos que são formados nessa matéria, não tem a biblioteca nem o conhecimento que tenho.
    E vamos ser humildes em reconhecer que a Igreja foi sempre um exemplo de imposição e de não aceitar qualquer um que tivesse um pensamento contrário às suas doutrinas, o que não é o caso ora em pauta.

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