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15º Intereclesial será fonte iluminadora do Espírito Santo para as CEBs

Juvenal Paiva da Silva, das CEBs/MT, historiador e pós-graduado em Gestão Escolar

Juvenal em encontro das CEBs. Foto: Pedro Aguiar

 

“Humano assim  como Ele foi, só podia ser Deus mesmo” (Leonardo Boff)

 

A cada dia que se aproxima o 15º Intereclesial das CEBs, grande compromisso de nossa fé cristã, em especial a nós, companheiros e companheiras da diocese de Rondonópolis-Guiratinga, por extensão a todos e todas do Regional Oeste 2, a ansiedade vai nos contagiando. O encontro está marcado para julho de 2022 em Rondonópolis.

Através da corresponsabilidade e fé de nossos pais e padrinhos é que viemos a entender que a “(…) fé é como um farol que ilumina a razão humana, amplia seus horizontes e a torna capaz de enxergar melhor e mais longe. Em outras palavras, a fé dá à razão humana as condições de compreender – sempre mais profunda e radicalmente – o ser humano. Em Jesus Cristo, o ‘humano’ é tão humano que se torna ‘divino’ e o ‘divino’ é tão divino que se torna ‘humano’”. (Frei dominicano Marcos Sassatelli).

Penso que temos a oportunidade de escrever a história acerca de nossa espiritualidade a partir desse grande e importante encontro de lideranças dos mais longínquos cantos de nosso Brasil e de nossa Igreja. Como fala Frei Betto, “Um desafio lançado à Igreja pela esperança de libertação dos povos latino-americanos. Através de suas comunidades de base, de seus agentes pastorais, descobrir a maneira mais evangélica de tornar essa esperança uma prática eficaz de transformação da história e busca do mundo de justiça e amor”.

Creio que nossa Diocese terá um momento ímpar de buscar se fortalecer como Igreja nascida na e da base, Igreja dos e para os pobres, através da luz do Espírito Santo de Deus que originou nossas comunidades eclesiais, no seio do Concilio Vaticano II.

Todos e todas empenhados(as) na mesma fé, com o mesmo objetivo faremos com que este grande acontecimento não fique só na temática, na festa, na confraternização, na noite cultural, mas realmente nos cause consequência, a mesma que nos causa o batismo, ou seja, que em vez de capelas, nossas pequenas Igrejas sejam chamadas de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).

 

A sigla CEBs

Não obstante, após este pentecostes, não tenhamos que explicar o que significa CEBs, haja vista que já houve um tempo em que não havia muita necessidade de explicar a sigla “CEBs”. Pois, fazia parte do cotidiano e do vocabulário de fé de muitos cristãos católicos. Transmitia entusiasmo e esperança, aquela de esperançar, assim como havia dúvidas e interrogações.

Mas hoje muitos nem se lembram mais dos difíceis e duros anos da ditadura militar no Brasil (1964-1985) e nem participaram do processo de democratização. Vale ressaltar que grande parte de nossa Igreja de hoje nasceu depois de 1985, quando “terminou” a cruel ditadura. Entretanto, não podemos admitir que os mesmos não procurem estudar e conhecer esse fato danoso à nossa Igreja e à nossa sociedade em geral.

Espiritualidade das CEBs trazem fé e vida. Foto: Arquivo/CEBs.

Foi nessa época que surgiram, em todo o país, pequenas comunidades ligadas principalmente à Igreja católica. Querendo ou não, contribuíram de diferentes maneiras para o processo de democratização. Eram grupos de pessoas que, a exemplo de hoje, morando no mesmo bairro ou nos mesmos povoados, se encontravam para refletir e transformar a realidade à luz da Palavra de Deus e das motivações religiosas. Daí o nome Comunidade Eclesial de Base (CEB).

 

A presença de Paulo Freire

Começavam também a reivindicar pequenas melhorias nos bairros, mas, ao mesmo tempo, iniciavam uma caminhada de tomada de consciência da situação social e política. Buscavam a transformação da sociedade. Inspiradas no método “Paulo Freire” de alfabetização de adultos, executavam uma metodologia que levasse da conscientização à ação: por isso o binômio “fé e vida”, que infelizmente, aos poucos, estão tentando neutralizar.

Todos e todas nós sabemos que a maneira de evangelizar de anos atrás pode não ser compreendida como correta e eficaz hoje, pois temos o avanço tecnológico, vários modelos de comunicação, como o popular/alternativo, o visual, entre outros… o de massa. Este último, trazido à luz da palavra de Deus durante o 9º Intereclesial de CEBs, em São Luis, no Maranhão, em 1997, como grande ameaça às nossas Comunidades Eclesiais de Base, o que hoje já está mais que confirmado.

 

“Eram grupos de pessoas que, a exemplo de hoje, morando no mesmo bairro ou nos mesmos povoados, se encontravam para refletir e transformar a realidade à luz da Palavra de Deus e das motivações religiosas. Daí o nome Comunidade Eclesial de Base (CEB)”

 

Somos todos e todas batizados, professamos a mesma fé católica e nos consideramos estrutura da Igreja. Por esses e outros motivos exigimos respeito, reconhecimento ao nosso jeito de ser Igreja, que pra nós e corroborado por dom Pedro Casaldáliga, que diz que “CEBs é o jeito normal da Igreja ser”. Faz-se necessário compreender esse jeito e essa maneira de ser Igreja, especialmente dentro da própria Igreja.

Entendemos a urgência de preparar nosso povo, povo de Deus, para se encontrar na espiritualidade, na fé, na efetivação da identidade de CEBs. E para isso, a meu ver, não basta participar como membro efetivo de uma comunidade eclesial central (paróquia), ou em especial de uma Comunidade Eclesial de Base, ou seja, no seu bairro, no seu vilarejo, ou povoado. É latente à luz da Palavra de Deus compreendermos que somos diferentes, cantamos diferente, vemos a vida e a fé juntas sem meio termo, como afirmou o próprio mestre Jesus: “Eu vim para que todos e todas tenham vida e vida em abundância” (João 10,10).

 

As CEBs são a igreja na base

Temos vários teóricos assessores, os quais têm fundamentos e explicações aprofundadas, sempre à luz da palavra de Deus, que poderiam descrever aqui o que realmente são as CEBs, e por isto quero mencionar as sábias palavras de Sergio Coutinho, assessor nacional da CEBs: “(…) não se pode confundir CEBs com ‘grupos eclesiais’”. Porque, segundo ele, as CEBs não são “pastorais”, não são serviços comunitários, nem “movimentos eclesiais”, e muito menos “grupos eclesiais”.

As CEBs são “estrutura da Igreja”; é a Igreja “na base”. Em síntese, as Comunidades Eclesiais de Base são a Igreja em movimento, viva, presente na história, ao lado dos pequenos, servidora dos pobres, ecumênica.

Ânimo e esperança são características das CEBs. Foto: Arquivo/CEBs.

Sergio Coutinho pontua as diferenças entre as CEBs e os diferente grupos que atuam na Igreja e nas comunidades. As Comunidades Eclesiais de Base têm um caráter permanente e os grupos, por sua vez, são transitórios. As CEBs são plurais, por definição, pois acolhem em seu seio diferentes gêneros, idades, culturas. Os grupos, ao contrário, podem ser mais homogêneos quanto à idade e o gênero de seus participantes.

Nas CEBs estão presentes os elementos essenciais para uma comunidade ser considerada “Igreja”: A Fé, o Anúncio, a Celebração, a Comunhão e a Missão. Os grupos podem se organizar para atender a um serviço ou objetivo bem específico, a catequese por exemplo. As CEBs buscam sempre serem comunidades de irmãos e irmãs iguais, todos juntos e unidos ao redor de Jesus Cristo (At 2, 42-47; 4, 32-37).

 

“As CEBs são ‘estrutura da Igreja’; é a Igreja ‘na base’. Em síntese, as Comunidades Eclesiais de Base são a Igreja em movimento, viva, presente na história, ao lado dos pequenos, servidora dos pobres, ecumênica”

 

Portanto, uma Igreja comprometida com a profecia, com a opção preferencial, evangélica e solidária pelo pobres. (Lc 4, 18-20; Conferência Episcopal de Puebla, México, nº 1134; Conferência Episcopal de Santo Domingo, na República Dominicana, nº 296).

 

Vamos continuar…

Por sermos estrutura da Igreja e, a partir da Luz do Evangelho, procurarem sempre defender as causas dos mais pobres, as CEBs estão a cada dia sendo colocadas em segundo plano, num processo que tenta sucumbi-las, com afirmações de que nossa liturgia não agrada a Deus. Mas vamos continuar unindo fé e vida e defendendo que Deus está do nosso lado, como também em outros lugares, e lutaremos com a força do Espírito Santo, no intuito de mostrar que a verdadeira adoração a Deus não está entre quatro paredes, nos acampamentos, ou nos grandes eventos, porém, verdadeiramente, na luta e no meio dos mais pobres.

Dom Sebastião Gameleira, bispo emérito anglicano, menciona exatamente assim por ocasião da Romaria dos Mártires em Ribeirão Cascalheira (MT): “Adoração a Deus se dá em espírito e verdade, pela participação na luta do povo. Vamos repetir em conjunto: ‘Adoração a Deus se dá em Espírito e verdade, pela participação na luta do povo. Fora disso qualquer culto não passa de idolatria. Pois a vida do povo pobre e a causa de sua libertação têm de estar no coração, no centro da Igreja de Jesus”.

Como já afirmei acima, não somos pastorais, ou grupos, por isso não somos apenas parte da Igreja, como afirmado pela própria Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); somos estrutura.

Foto: Arquivo/CEBs.

“A Igreja dos pobres não significa uma parte da Igreja, enfoque regional, mas uma observação constitutiva e configurativa de toda a Igreja. Ela faz opção preferencial pelos pobres e com as conseqüências que essa opção produz tanto para a constituição hierárquica e organizativa da Igreja institucional quanto para o que há de ser sua evangelização. É uma Igreja solidária e preferencialmente solidária com a causa dos pobres. E por essa razão é uma Igreja perseguida, e perseguida precisamente pelos ricos. Quando os pobres ocupam o lugar que lhes corresponde na Igreja, então a instituição eclesial é uma instituição com espírito”. (Conforme “A Teologia da libertação em prospectiva”, p. 81-82; livro organizado por Agenor Brighenti e Rosario Hermano).

Segundo a liturgia do Batismo, se pertence a uma comunidade, não a um grupo ou movimento. “Portanto, a base da Igreja não pode desaparecer. Os membros dos diferentes movimentos e/ou grupos devem pertencer a uma comunidade. Por causa do batismo todos os membros referidos devem manterem a fidelidade à comunidade eclesial. (Conforme CEBs Regional Oeste 2 Cuiabá, p. 3).

 

Do Vaticano II ao 15º Intereclesial

Finalmente, espero que realmente o sopro do Espírito Santo, que criou as nossas Comunidades Eclesiais de Base, no seio do Concílio Vaticano II, agora, através do 15º Intereclesial de CEBs possa fortalecer nossas comunidades eclesiais de todo Regional Oeste 2 (Mato Grosso), e de maneira especial e à luz do Evangelho as Comunidades Eclesiais de Base de nossa diocese de Rondonópolis-Guiratinga.

Já mostramos ao longo de décadas os nossos frutos, nossas conquistas, nosso jeito de ser Igreja na luta e ao lado dos mais pobres. Por isso não vamos desistir do nosso jeito de evangelizar com os diferentes e excluídos da sociedade.

Encerro este artigo na firmeza da fé e com as bonitas e proféticas palavras do nosso irmão, que segue: “Roubaram nossas frutas, rasgaram nossas folhas, cortaram nossas árvores, queimaram nossos troncos, mas não deixaremos que arranquem as nossas raízes”. Palavras do índio Anastácio no 13º Intereclesial, 2014, em Crato e Juazeiro – CE.

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