“A noite estava tão escura, tão sem um ponto de luz, tão noite, que cheguei a me angustiar, apesar do amor profundo que sempre tive pela noite. Foi quando ela me segredou que, quanto mais noite é a noite, mais bela é a manhã que ela carrega em si”.
D. Hélder:
Escrevo para mim mesmo e tantos outros que estão como eu.
A imposição ditatorial dos valores e regras do extremo liberalismo sobre o povo brasileiro sem que tenhamos qualquer possibilidade aparente de defesa, jogou um mar de pessimismo e imobilidade sobre as multidões. Como pessoas desse povo, também é impossível escapar ilesos.
Mas, para quem está desanimado, é preciso lembrar outras situações.
Lembre-se dos milhões de pessoas que estão sendo violentadas e assassinadas pelas guerras na Síria, no Iraque, no Sudão e no Afeganistão.
Lembre-se do povo palestino, confinado em seu território, sem poder controlar inclusive o uso das águas que brotam em seu território.
Lembre-se nos migrantes, dos “desplazados ambientales”, expulsos de suas terras e de seus familiares, migrando incertos pelos mares e novas terras.
Lembre-se das pessoas sepultadas no mar, dos que são mortos nos muros, dos que morrem no deserto buscando outro lugar.
Lembre-se dos 900 milhões de pessoas ao redor do mundo que passam fome todos os dias, dos 1,2 bilhão com sede e dos 2,5 bilhões que não tem saneamento básico.
Lembre-se dos sem terra, dos sem teto, dos indígenas e negros que sofrem ataques, suportam opressões e humilhações há mais de 500 anos.
Você pode vasculhar sua memória e lembrar-se de parentes, vizinhos e amigos que estão em situação pior que a sua.
Não estou propondo a imobilidade e nem o desespero. Mas, é dessas pessoas que Francisco nos fala todos os dias. Temos hoje a globalização das desumanidades e é contra ela que somos chamados a reagir.
Não se importe se não há luz no fim do túnel, nem mesmo se não existe túnel. Lembre-se sempre da frase lapidar de João da Cruz em sua longa noite escura: “é por não ver por onde vou, que vou”. Portanto, mesmo que não haja um fósforo brilhando na escuridão, continuemos andando.
Lembremo-nos também do poema de D. Hélder: “a noite estava tão escura, tão sem um ponto de luz, tão noite, que cheguei a me angustiar, apesar do amor profundo que sempre tive pela noite. Foi quando ela me segredou que, quanto mais noite é a noite, mais bela é a manhã que ela carrega em si”.
Fazer o pequeno, plantar a semente, divulgar as lutas, participar das lutas, fazer formação de base, fazer orações pessoais e coletivas, participar dos mutirões, organizar a esperança, essas são as tarefas da hora.
Nem a escuridão total imobiliza quem se move pela fé.
Roberto Malvezzi (Gogó)
Imagem Ateliê 15
Excelente texto, só gostaria de informar, já que não posso perceber nele, que os palestinos agradecem pela água não ser controladas pelos seus dirigentes instáveis e corruptos. É a garantia de que não vai lhes faltar. Seja cristão. Ore pela paz de Jerusalém.
São essas situações que não nos deixam desanimar e que nos fazem fortes na luta em favor dos empobrecidos e empobrecidas seguindo os passos de Jesus o libertador.
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São essas situações que não nos deixam desanimar e que nos fazem fortes na luta contra o mal que Deus nos abençoe!