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“A paciência da população posta à prova”.

Aos poucos, a mobilização e as manifestações, ainda com as necessárias precauções sanitárias, estão voltando às ruas. Não são suficientes as pressões virtuais para a população incidir na condução do rumo das políticas públicas. No mês de agosto, os indígenas e as mulheres indígenas depois se juntaram em Brasília contra o marco temporal, que ainda não passou a ser julgado pelo STF. Mostra um desrespeito dos próprios ministros, que no ar condicionado dos seus escritórios e auditório, não levam em consideração as condições precárias em que os indígenas se encontram ao mesmo tempo. No dia sete de setembro, o Gritos dos Excluídos competiu com os comícios do presidente da república em tamanho, embora não receberam a mesma atenção na mídia. O Vem pra Rua e o Movimento Brasil Livre, que antes tinham apoiado Bolsonaro, no dia 15 deste mês chamaram a esquerda para dar volume às suas aglomerações. Fora de alguns desavisados – ou traidores sem princípios como Ciro Gomes – as organizações populares não quiseram embarcar no coro que conclamava nem Bolsonaro, nem Lula. Na semana que passou, o MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto) ocupou a Bolsa de Valores em São Paulo, expressando sua indignação com os rumos que os donos do mercado – que também controlam a política – dão a nossa economia. Para as próximas semanas, os movimentos populares e sindicais estão convocando suas bases para engrossar as manifestações, agendadas ´para o próximo dia 02 de outubro e para o dia 15 de novembro.

A paciência da população está sendo diariamente posta à prova. Os números da economia não melhoram, muito pelo contrário. A previsão de inflação para setembro é de que seja a maior desde 1994[1]. E é importante lembrar, que o custo de vida é bem mais alto. Os produtos que influem diretamente no gasto familiar têm peso bem maior do que o leque de produtos e serviços inclusos nos cálculos da inflação[2]. Junto com a diminuição da renda e a perda de empregos, muitas famílias se deparam com um endividamento, sem perspectivas diretas de se sair dele. Assim, mais gente se vê obrigada a viver na rua, correr atrás de esmolas, ficar dependente de doação de cestas básicas e deixar de pagar aluguel e taxas de iluminação – crescendo constantemente – e de outros serviços básicos como água e esgoto e telefone. Assistimos a um brutal empobrecimento da metade da população brasileira durante os quase três aos de governo Bolsonaro[3], aponta a pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgada no dia 17 de setembro. O Instituto percebe uma leve recuperação na renda por causa da volta do trabalho por conta própria, mas não no Nordeste, onde a massa de renda das famílias continuou em baixa. O número de trabalhadores e trabalhadoras sem serviço continua alta, em torno de 16,26% (13,5 milhões de pessoas).

Não há, à primeira vista, uma real recuperação da economia à vista, pelo menos não para a classe trabalhadora. Para o capital, é outra história. Assistimos numa formidável aceleração da concentração da riqueza[4], que produziu 660 novos bilionários. Os 2.755 superricos mundiais viram sua parcela de riqueza crescer com 5 trilhões de dólares (o que corresponde hoje a mais de R$ 25 trilhões de reais) nos primeiros 12 meses da pandemia. O conflito entre os motoristas da Uber e a empresa que reiteradamente desliga sem justa causa seus pseudo-empregados (tirando o direito de usar a plataforma), mostra claramente que são os trabalhadores que dão origem à riqueza. Não é a empresa que paga os trabalhadores, são os motoristas que pagam à Uber para poder trabalhar. E não é pouco. A empresa achava que os motoristas estavam ganhando demais, e por isso ficou com taxas para usar da plataforma maiores. Mas é essa a dinâmica de todas as empresas, que, sem uma legislação que protege seus empregados, deita e rola e explora de toda maneira possível. Por isso, a fragilização das relações de trabalho aprovada pelos deputados e senadores, dá mostra dos interesses verdadeiros que eles defendem. E não são, para a maioria deles, os trabalhadores.

Vai fazer 25 anos que os Direitos Humanos foram oficializados como Política de Estado no Brasil (1996), o que rendeu inclusive reconhecimento internacional[5]. O atual governo está preparando uma revisão do Plano Nacional de DH, a cargo da Ministra Damares. Diferente dos Planos anteriores, desta vez não será uma construção coletiva, envolvendo a sociedade civil. Até o Conselho Nacional de DH ficou à margem da discussão, protesta o seu Presidente, Yuri Costa, defensor público federal no Maranhão. O deputado Estadual de São Paulo, Emídio de Souza (PT) resume os recuos ocorridos na área dos DH durante os três anos de governo de Bolsonaro[6]. Cita, entre outros, o veto do presidente ao Projeto de Lei que proibia despejos de famílias durante o período da pandemia, suas constantes falas racistas e misóginas (desprezo aos direitos das mulheres), o desdém com que trata o Instituo Palmares e as políticas para a população afrodescendente, seus incentivos indiretos e diretos a homicídios, facilitando a aquisição de armas e munições “por pessoas de bem” (caçadores, colecionadores, milícias, mas que passam rapidamente para as mãos de traficantes e criminosos de todo tipo). Também o veto de Bolsonaro à proposta de instituir um auxílio aos camponeses e produtores familiares, mostra seu desprezo para o homem e a mulher do campo[7].

Motivos suficientes, portanto, para fazer ressoar os protestos nas ruas não faltam. O que menos importa para o governo e os legisladores que o apoiam, são a fome, os direitos, a integridade física e econômica da maioria da população. E isso merece o nosso repúdio.

Os fatos que mais carcaram a semana, no entanto, não se desenrolaram no Brasil, mas em Nova Iorque. Um presidente comendo pizza na rua, junto com a sua delegação, por ser proibido de entrar em restaurantes, foi só um dos vexames durante a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). O seu discurso mentiroso na abertura da Assembleia repetiu sua apresentação pífia dos anos anteriores. A desinfecção geral do púlpito e do microfone, após a sua fala, mostrou-se acertada e humilhante ao mesmo tempo, depois da debandada geral da delegação que não pode finalizar sua presença na Assembleia por ter membros de sua delegação contaminados pelo novo coronavírus, entre eles o próprio Ministro da Saúde. Também o filho Eduardo e a Ministra de Agricultura, Tereza Cristina foram contaminados[8]. E a primeira dama fez surgir uma onda de reclamações, porque aceitou vacinar-se nos Estados Unidos, desprestigiando os erviços públicos, a experiência vacinal, a dedicação dos servidores da saúde e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de seu próprio país.

Enquanto os integrantes do governo fazem pouco caso das medidas de proteção para evitar contaminações ou com o Plano Nacional de Imunização, vão de água abaixo as constantes declarações do presidente de que o Brasil está livre de corrupção. A CPI da COVID-19 no Senado já dispõe de farto material envolvendo o próprio governo na compra fraudulenta das vacinas da COVAXIN. As falsas declarações de óbito do médico Anthony Wong e da mãe do empresário Luciano Hang (da Havan, defensor ferrenho de Bolsonaro e do americanismo – não comprem nas lojas dele!), manipuladas pela empresa Prevent Senior, vão ser objeto de mais investigações nos próximos dias[9].

Urgem ainda investigações sobre a “fakeada” a fake facada sofrida por Bolsonaro em Juiz de Fora em setembro de 2018. Muitas indicações, nunca investigadas, fazem supor que a facada foi uma montagem para tirar Bolsonaro dos debates durante a campanha e torna-lo vítima de um atentado que pode ter sido um meto teatro[10]

E vamos nos preparar e imunizar contra o fascista de plantão no Planalto. Depois da entrevista que deu à Revista Veja, as intenções de alguns meios de comunicação tradicional vão aparecer: por benefício próprio vão apoiar o genocida e o desastre econômico que assola a população brasileira.


[1] https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/31692-previa-da-inflacao-fica-em-1-14-em-setembro-maior-para-o-mes-desde-1994 (Acesso em 2021/09/25)

[2] https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2021/06/4932657-artigo-custo-de-vida-nas-alturas.html (Ac esso em 2021/09/25)

[3] https://www.ocafezinho.com/2021/09/17/ipea-detecta-forte-empobrecimento-da-populacao-em-3-anos-de-governo-bolsonaro/ (Acesso em 2021/09/25)

[4] http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/608217-os-bilionarios-no-mundo-aumentam-em-um-terco-fmi-imposto-sobre-os-ricos (Acesso em 2021/09/25)

[5] https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2021/06/06/interna_politica,1273941/governo-bolsonaro-reve-plano-dos-direitos-humanos-a-portas-fechadas.shtml (Acesso em 2021/09/25)

[6] https://www.brasildefato.com.br/2021/09/11/artigo-o-golpe-diario-de-bolsonaro-nos-direitos-humanos (Acesso em 2021/09/25)

[7] https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2021/09/bolsonaro-veta-auxilio-agricultores-familiares/ (Acesso em 2021/09/20)

[8] https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/09/eduardo-bolsonaro-e-ministra-tereza-cristina-recebem-diagnostico-de-covid.shtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=social&utm_campaign=compwa (Acesso em 2021/09/24)

[9] https://www.istoedinheiro.com.br/prevent-senior-ocultou-morte-por-covid-19-de-anthony-wong-diz-revista/ (Acesso em 2021/09/25)

[10] https://www.brasil247.com/brasil/a-fakeada-e-o-unico-episodio-em-que-a-midia-comercial-da-credito-a-bolsonaro-diz-thiago-dos-reis (Acesso em 2021/09/25)

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