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Bem Viver e Bem Conviver no coração e na vida do Araguaia

 

Se realizou em Porto Alegre do Norte (MT), a 3ª Etapa da Escola de Formação Missionária Pe. José Comblin, entre os dias 17 de julho a 01 de agosto do corrente ano, onde foi dado mais um passo na formação permanente aos animadores e animadoras de comunidades e grupos populares.

Fazem parte da construção da Escola animadores e animadoras de Ribeirão Cascalheira, Querência, Bom Jesus, São Felix do Araguaia, Alto Boa Vista, Canabrava, Novo Sto. Antonio, Confresa, Porto Alegre do Norte e uma indígena Kanela do Araguaia em Luciara. Os temas abordados foram: as Celebrações Populares (rezas do povo) pelo monge Glaudemir da Silva; a Conjuntura Nacional, Matogrossense e Regional pelo  Pe. Paulo Cesar da CPT Nacional, Luís Claudio – CPT- Araguaia e a professora Dra. Marcia Ferreira (UFMT) que apresentou aspectos referentes a educação; O Profetismo na Biblia por  Seleida do CEBÍ-GO; o Aconselhamento feito por Mônica Muggler (Missionária das Escolas Missionárias do Nordeste) e  a Espiritualidade Indígena apresentada por Eunice e Luiz  do Cimi (com enfoque aos Povos Indígenas do Araguaia).

A Escola tem uma metodologia e organização própria que nasceu da experiência no Nordeste brasileiro e tem como fundador e inspiração o teólogo Pe. José Comblin (in memoriam). Nesta etapa merece destaque o trabalho desenvolvido com a Análise de Conjuntura Nacional, que foi muito bem vivenciada, segundo avaliado, tanto para os alunos e as alunas, quanto para os assessores. Foi dado enfoque direto ao Agronegócio na região e no Brasil como um todo, sua influencia e impactos. Houve forte comoção quando na temática agrária uma aluna citava que sua mãe bastante idosa, a anos com sua terra na qual dedicou a vida, recebeu a alguns dias uma ordem de despejo, ou mais forte comoção ainda, quando ao se mostrar um documentário produzido pela ONG ‘Repórter Brasil’, sobre a chacina em Pau d’Arco — PA, uma aluna saiu da sala emocionada, porque a família mais atingida com 7 mortos, eram seus primos em primeiro grau.

Ao final da Análise, o grupo de alunos/as, fez um trabalho de construção coletiva de um código de Convivência com o Cerrado Brasileiro, elaborando A Arte do Bem Viver.

Bem Viver, Sumak Kawsay,foi tema da agenda latino americana mundial de 2012. Bem Viver está na Constituição da Bolívia e na Constituição do Equador com um texto belíssimo escrito na Constituição daquele país:

“Nós, o povo soberano do Equador, reconhecendo as nossas raízes milenares, forjadas por mulheres e homens de distintos povos, celebrando a natureza, a Pacha Mama, da qual fazemos parte e que é vital para a nossa existência, invocando o nome de Deus e reconhecendo as nossas diferentes formas de religiosidade e espiritualidade,  fazendo apelo para a sabedoria de todas as culturas que nos enriquecem como sociedade, como herdeiros das lutas sociais de libertação diante de todas as formas de dominação e colonialismo, e com um profundo compromisso com o presente e o futuro, decidimos construir uma nova forma de convivência cidadã, em diversidade e harmonia com a natureza, para alcançar o bem viver, o sumak kawsay; uma sociedade que respeita, em todas as suas dimensões, a dignidade das pessoas e das coletividades; um país democrático, comprometido com a integração latino-americana – sonho de Bolivar e Alfaro -, com a paz e a solidariedade para com todos os povos da terra; e, no exercício da nossa soberania, na Cidade Alfaro, Montecristi, província de Manabí, assumimos a presente Constituição”

Assim, na Escola Missionária, após tão dura análise de conjuntura, se achou oportuno conversar sobre o Bem Viver, com um olhar de Esperança e de Vida, diante de tão triste realidade apresentada. Assim, que se torne possível a construção entre todos os seres vivos e a Terra, de novas relações, necessárias e urgente. Para isso é preciso:

1 – Saber Plantar – não derrubando uma árvore sem ter outra para substituir.

2 – Saber Cultivar nossa História – conhecer e amar a história de nossos antepassados; cultivar e escrever nossa própria história.

3 – Saber Unir os Diferentes – respeitando todos os povos e culturas diferentes e promovendo o diálogo ecumênico, tendo em comum o princípio que é lutar e defender a Vida Humana.

4 – Saber Pensar – atender o coração sem perder a razão.

5 – Não coma sem ter fome.

6 – Não use, caso não seja necessário.

7 – Pensar no amanhã.

8 – Não querer o que os outros tem, porque o que você tem ninguém terá.

9 – Saber viver dignamente.

10 – Saber ter fé integral.

11 – Saber respeitar as diferenças.

12 – Saber mudar antes que seja tarde.

13 – Saber escolher seu caminho.

14 – Saber sorrir verdadeiramente.

15 – Saber recomeçar.

16 – Saber ouvir e pensar para conseguir ir a luta para termos uma qualidade de vida sem sofrer tanto;

17 – Saber ter boa saúde – Buscar bom alimento de qualidade sem veneno.

18 – Tomar água viva e sem poluição.

19 – Trabalhar com raça e esperança, com harmonia e caminhar juntos na luta para ter um só objetivo de vida boa.

20 – Saber que a Terra é Vida, a Água é Vida, o Sol é Vida e a Vida é Saúde.

Foi cantada uma análise de conjuntura sobre a situação histórica dos povos indígenas do Brasil e a Campanha pela Demarcação das terras indígenas – ‘Demarcação Já!’, em um vídeo com música de Chico César e participação de vários artigos com compromisso social; ao final o grupo de estudantes dançou a Toré, dança indígena em roda com maracás celebrada por vários povos do Nordeste, como os Xucuru, Pankararu, dentre outros.

Posterior a análise de conjuntura, na temática da Espiritualidade Indígena, houve uma riqueza sem tamanho, onde Eunice e Luiz, professores, que trabalham com Educação Indígena junto aos Tapirapé, desde a década de 1970, transmitiram e ajudaram o grupo a mergulhar fundo na Espiritualidade Indígena. Alguns até descobriram suas raízes ancestrais vindas dos povos indígenas, nesta experiência de conhecimento da cultura, religião, costumes e tradições, que muito emocionou quando foi partilhada essa descoberta. No final dessa etapa do Curso, todos assumiram o compromisso de repassar esses conhecimentos as comunidades para superação do preconceito que existe entre os “não indígenas”, os tori, como diz o povo karajá, contra os vários Povos Indígenas existentes na região Araguaia.

Texto de Luís Claudio da Silva com contribuição de Maria José Araújo

Fotos: Rose – PAN Escola Missionária

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