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Cardeal Hummes: “A Igreja tem uma consciência clara de que cuidar da casa comum faz parte de nossa fé”

Um dos desafios da Igreja é mostrar a vida da Igreja na Amazônia.

O encontro dos bispos da Amazônia brasileira está servindo para divulgar como está avançando o processo sinodal. O encontro ocorre em um lugar de particular importância nesse processo, como destacou o arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira, que lembrou que foi naquele mesmo local onde, após uma reunião de bispos da Amazônia brasileira, em 2016, foi escrita uma carta ao Papa Francisco pedindo que fossem abordadas algumas questões sobre a Igreja na região, que desencadeou na convocatória do Sínodo para a Amazônia em outubro de 2017.

Em entrevista coletiva, o arcebispo local, juntamente com o cardeal Claudio Hummes, presidente da Rede Eclesial da Amazônia – REPAM, e relator do Sínodo para a Amazônia, juntamente com dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da Conferência dos Bispos do Brasil – CNBB, responderam a questões relacionadas ao Sínodo e à vida da Igreja Católica na Amazônia.

A motivação para o Sínodo é “dentro do contexto da severa crise climática e ecológica pela qual nosso planeta está passando atualmente, de acordo com o grande consenso dos cientistas”, o que nos leva a dizer que o planeta está ameaçado e pode atingir uma situação fatal, como o cardeal Hummes reconheceu, algo que aparece na encíclica Laudato Sí, onde o Papa Francisco se pergunta sobre o futuro das gerações mais jovens, que não podem ser forçadas a não ter futuro. Nesse contexto, a Amazônia é apresentada como um espaço fundamental para a saúde e sustentabilidade do Planeta, o que demonstra a importância da Amazônia, que contém uma grande biodiversidade.

Essa situação exige “um grande esforço por parte da comunidade internacional, dos responsáveis pelos destinos”, segundo o presidente da REPAM, embora “haja pessoas que discordam de tudo isso”. Por isso, a convocação do Sínodo é um apelo à Igreja da Amazônia para acender as luzes, promover o diálogo, caminhar juntos, assumir responsabilidades, respeitar as diferenças, insiste o cardeal brasileiro, que insiste que “hoje a Igreja tem consciência clara de que cuidar da casa comum é parte de nossa fé, é uma consequência de nossa fé”, algo que o Papa insistiu em Puerto Maldonado, apontando que a Amazônia e os povos originários provavelmente nunca estiveram tão ameaçados quanto agora.

O compreensão, acompanhamento e apoio de toda a Igreja do Brasil ao Sínodo para a Amazônia é algo fundamental, que exige comunhão, harmonia e oração, reconheceu Dom Walmor Oliveira de Azevedo, atitude em que ele gostaria que toda a sociedade civil participasse, incluindo agências governamentais. O arcebispo de Belo Horizonte vê a convocação do Sínodo como um dom, um grande presente, uma oportunidade para todos, algo que deve ser trabalhado para superar as incompreensões. Conhecer e escutar a Amazônia nos dá lições muito importantes para todo o Brasil e para o mundo, insistiu o arcebispo de Belo Horizonte.

Ao falar dos novos caminhos para a Igreja, o Presidente da CNBB insistiu que eles devem ser concretizados na evangelização, porque “a Igreja existe para evangelizar”, algo que “nos compromete com a vida, sua defesa e promoção”, para “trabalhar para aqueles que vivem na pobreza, que são injustificados”, algo que pode ser aplicado ao campo da ecologia integral e à necessidade de cuidar da casa comum.

Diante de certas controvérsias em torno do Sínodo, o Cardeal Hummes e o Presidente da CNBB deixaram claro que tudo o que a Igreja promove está dentro da soberania nacional, que a Igreja promove e defende, sem que isso seja um impedimento para a comunidade internacional ajudar cada país a cuidar de sua Amazônia como um modo de vida para o bem de toda a humanidade. De fato, o Presidente do REPAM insiste que a Igreja faz parte de cada país, não é algo isolado e deve ajudar cada país a cuidar da Amazônia.

O Sínodo é algo que envolve a todos, insistiu o Cardeal Hummes, algo que se manifestou desde o processo de escuta, com um grande número de participantes e que deu origem ao Instrumento de Trabalho, e que deve permanecer durante a assembleia sinodal e posteriormente, porque deve haver um trabalho conjunto com o povo para construir historicamente os novos caminhos que o Sínodo da Amazônia pretende. O fato de este Sínodo ser realizado em Roma vai ajudar a irradiar, de acordo com Dom Walmor, e coletar contribuições de todo o mundo, embora a maioria dos participantes seja da Pan-Amazônia.

Quando questionado pelos jornalistas, o cardeal Hummes reconheceu a resistência à celebração do Sínodo pela Amazônia, incluindo “a existência de grupos organizados que se opõem à celebração deste sínodo, mas a grande maioria está muito feliz”. Nesse sentido, os incêndios das últimas semanas e suas consequências concentraram na Amazônia os olhares do mundo. Referindo-se a Laudato Si, foi enfatizada a pressão da sociedade civil sobre os governos para reverter a crise climática. Nesse sentido, a Igreja sempre esteve aberta ao diálogo com o governo brasileiro para esclarecer os mal-entendidos sobre o que poderia acontecer em relação ao Sínodo. Nessa perspectiva, dom Taveira, disse que a força da “Igreja é a autoridade moral, não temos exércitos, não temos poder econômico para pressionar, mas temos as razões de nossa própria fé que queremos oferecer”.

Dadas as pressões de certos grupos conservadores dentro da Igreja, o Presidente da CNBB fez um chamado à comunhão como um instrumento que ajuda a superar as diferenças. Os novos caminhos que o Sínodo busca nunca irão contra o fundamento da Igreja, que é Jesus Cristo, alicerce desde onde a Igreja dialoga e continua buscando novas respostas, porque o fundamento é imutável, mas está sempre se renovando. Não faz sentido que nenhum grupo da Igreja ataque o Sínodo ou qualquer outra perspectiva, pois a fidelidade é sempre garantida.

Um dos desafios da Igreja é mostrar a vida da Igreja na Amazônia, algo que os bispos da Amazônia devem realizar no Sínodo, como reconheceu o cardeal Hummes, mostrando sua realidade, história e tudo que de positivo já foi realizado, assim como os sonhos, aspirações, gritos, clamores e sofrimentos de suas comunidades. Nesse sentido, o presidente da CNBB reconheceu que a Igreja Católica precisa trabalhar uma comunicação mais estratégica, não para fazer propaganda, mas para reconhecer experiências de vida, de compromisso, de presença evangelizadora que muitas vezes não são conhecidas nem dentro da própria Igreja. É importante, nesse sentido, insistia o arcebispo de Belo Horizonte, uma comunicação não apenas informativa, mas também formativa, mostrando as opções e trabalhos da própria Igreja.

Ao falar sobre as mulheres, que o Instrumento de Trabalho insiste na necessidade de maior reconhecimento, o presidente do episcopado brasileiro afirmou a necessidade de uma Igreja baseada na ministerialidade, dando cada vez mais força às mulheres, o que já realizam esse trabalho, dando uma força efetiva. O cardeal Hummes lembrou que o processo de escuta chamou a atenção para a necessidade de reconhecer expressamente o trabalho que já está sendo realizado pelas mulheres, que têm um grande papel em muitas comunidades onde os padres não chegam. De fato, na Amazônia, a grande maioria das comunidades é dirigida por mulheres, enfatizou o cardeal. Portanto, é preciso descobrir como reconhecer isso e oferecer uma institucionalização mais clara, que forneça uma base para as mulheres que lideram essas comunidades, especialmente nas comunidades do interior e nas periferias das cidades.

Por Luis Miguel Modino

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