CARTA ABERTA
Cachoeiro do Itapemirim/ES, 14 de março de 2025.
Irmãs e irmãos do Caminho,
Pois é, nestes dias um frei ficou mais do que famoso. Na realidade eu nem havia escutado seu falatório, e viralizou tanto assim…. Eu o chamo de frei por ser mulher que acredita nas diversidades, mas frei vem de fratello – irmão e você não é nem fratello, nem filho, nem amigo, nem … na realidade nem saberia dizer o que você é. É um ser humano e isso me motivou a lhe escrever, quem sabe a Divina Ruah com seu voo ligeiro, suave, e ao mesmo tempo impetuoso paire sobre você e no vazio crie a harmonia (Gn 1,2).
Eu o ofereço uma música que me é preciosa e me recorda minha irmã e amiga Dorothy Stang, mártir da Ecologia Integral.
“Ê Ê Ê! Mulher! Ê, Ê, Ê! Mulher que acaricia/ mulher que amassa o pão/ mulher na liderança e na revolução, mulher que traz no ventre nossa libertação”!
É só o refrão, não só refrão, é MULHER! Isso lhe surpreende, lhe dá medo esta maravilha! Sim porque seu falatório nasce do medo que tem da mulher.
As estrofes do canto são um cordão/rosário, um dos tantos, naquele que reconhecemos como ‘Texto Sagrado’ que você infelizmente interpreta tão mal, talvez porque nestas aulas você dormia na sala!
“Mirian puxou o cordão, tamborim em sua mão a dança animou. No povo explodiu a alegria, findou a agonia: Javé Libertou” (Ex 2,1-10; 15,21-22). Lembra o Êxodo? Tem um Moisés porque 12 mulheres salvaram sua vida, entre elas Miriam sua irmã, como nos lembra o profeta Miquéias (Mq 6,4).
“Débora muito querida, juíza escolhida, poder popular. Na terra e no Projeto Novo a conquista do povo, com Deus vai guiar”! (Jz 4;5). Débora juíza e profetiza com sua companheira Jael discerniram, quebraram regras sociais, desobedeceram para salvar a vida do povo.
“Ana levanta o clamor, põe nas mãos do Senhor a sua tristeza. Ele que é o Deus da vida, que abre saída, fecunda a pobreza”! (1Sm 1; 2). O sacerdote achou que era bêbada, mas Ana estava confiando nas mãos do Divino sua humilhação. Foi amada pelo Divino: um filho acolhido e doado. Samuel o profeta do povo.
“Lá vai Judite tão bela, a coragem revela matando o opressor. E traz sua cabeça cortada, canta emocionada a Deus Libertador”! (Jt 9,1ss; 13,11-20). Judite, meu corpo meu território. Empoderamento: corpo de viuvez, que volta à vida, beleza assumida, ostentada, intuição, estratégia, ousadia. Corpo beleza, vida que anula o corpo feiura, de morte. E o povo vai cantar: Judite nossa mãe!
“Anima os filhos à luta, frente a força bruta do homem cruel. É mártir com os filhos seus a Mãe dos Macabeus que a Deus é fiel”! (1Mc 7,1ss). Na tortura, esperançar. O impossível é possível. Homem cruel: machismo, nazismo, totalitarismo, direita, misoginia. Força vital da mulher/mãe que dá à luz, vislumbra o alvorecer da ressurreição no martírio dos filhos.
“Maria é arca de amor, traz o libertador e em seu ventre anuncia: Deus torna o opressor destronado levanta o humilhado, ela canta alegria”! (Lc 1,26-38; 1,46-55). Maria do sim, Maria do não. Maria que deu a permissão para seu útero engravidar, suas mamas alimentar. Seu cotidiano nos presenteia com um filho amigo das mulheres, acolherá mulheres como discípulas, as escolherá como testemunhas de sua ressurreição e continuadoras de seu projeto: Jesus de Nazaré, o Cristo.
“Na América dos torturados, das mães são os brados em nome da História. Dor, coração, valentia, vence a covardia, fecundam a história”! Está escutando os brados? Está escutando as vozes? Sua covardia se sente ameaçada? O empoderamento faz tremer as bases do seu poder? Mulheres empoderadas saindo debaixo dos tapetes, do silêncio aonde foram relegadas, voltando à vida como fênix nas marchas, nos espaços conquistados, no cotidiano assumido. Nossas mãos lhe acariciam, amassam seu pão, lideram, revolucionam as estruturas patriarcais e kyriarcais trazemos no ventre, no nosso corpo a nova humanidade, a nova criação.
Ampliada Nacional das CEBs do Brasil