Por Luis Miguel Modino
O Sínodo teve um início que tem sido visto como uma surpresa, positiva para a grande maioria dos que se dizem católicos, inclusive para boa parte da humanidade, que se mostra contente com as novidades de Francisco, tanto em seus gestos de acolhida como em suas palavras, em seu discurso, que muitos consideram programático em referência ao Sínodo para a Amazônia.
A caminhada inicial bem poderia ser uma de tantas romarias que acontecem em todos os cantos da Amazônia, mas dessa vez foi aos pés do túmulo de Pedro, no centro da cristandade. Isso também tem provocado reações naqueles que fazem parte da assembleia sinodal. Um deles é dom Flavio Giovenale, bispo de Cruzeiro do Sul, Acre, que define o momento como algo que “foi bonito de ver, porque Sínodo quer dizer caminhar junto, né”. Nesse sentido, ele destaca que “começamos com uma caminhada, até liderada pelos indígenas, foram eles que puxaram os primeiros cantos na Basílica, perto do túmulo de São Pedro”.
Que isso aconteça nesse local, significa para Dom Flavio que “mesmo no centro da cristandade, poder dizer que os vários jeitos de rezar, de se comunicar, de celebrar, podem ser uma unidade, mas na diversidade”. Por isso, o bispo insiste na importância de “caminhar, caminhar junto, todo mundo, os bispos, os leigos e leigas, os indígenas, os não indígenas, mas simpatizantes dos indígenas, que estão na Casa Comum”. O que faz com que isto se torne bonito, está no fato de que “não é só os indígenas que estão defendendo as suas causas, inclusive litúrgicas ou de oração, mas também outras pessoas, que são de outras culturas, defendendo os direitos dos indígenas e rezar do jeito deles”.
Diante das palavras do Papa Francisco, no discurso inicial, onde falou que não tenham medo de falar com paresia, o padre sinodal disse que “para mim, é mesmo um incentivo para falar aquilo que eu sinto”, mesmo reconhecendo que “depois aquilo que eu sinto, não quer dizer que vai ser aprovado ou que poderá ser aprovado para a Amazônia toda”. Ele já trabalhou em diferentes regiões da Amazônia brasileira, “que é bem diferente” nos diferentes locais, e coloca como exemplo o fato de que, “na região leste eu tinha 4 ou 5 mil km de carro por mês, em 15 anos eu fiz mais de 500 mil km de carro”.
Agora, no extremo oeste da Amazônia brasileira, “para fazer 10 mil km demora meses, porque não temos estradas, é só rios, são diferentes”. Isso lhe serve para afirmar que “o sentido do Papa para mim foi muito, muito bom, né, no sentido de dizer, embora, não tenham medo, até ele brincou, nem que passem vergonha, vão falando, isto que é bom”. Essa liberdade, impulsada pelo próprio Papa pode se tornar um elemento fundamental no decorrer da assembleia sinodal. Quem fala sem medo, fala desde a fé, desde o coração, desde o que sente e vive ao lado dos povos.
Respeitar os povos é uma atitude fundamental, que nem sempre está presente na sociedade, também não na Igreja, como o Papa Francisco falou em seu discurso, afirmando que ficou com pena diante de alguém que falou com certo deboche sobre o homem que foi com penas na cabeça levando as oferendas na missa de abertura. Por isso o Sínodo pode ajudar à sociedade ocidental, que muitas vezes considera que os indígenas não são civilizados, a descobrir a grande riqueza que a Amazônia encerra.
Dom Flavio vai além da Amazônia, “todos nós, achamos que a nossa maneira é a única possível de manifestar”. O que em um lugar significa uma coisa, em outro local significa o contrário. O bispo de Cruzeiro do Sul, disse que “eu conversava nesses dias aqui na Itália com grupos missionários, de paróquias sobre a cor. A cor litúrgica branca é da festa, mas no Extremo Oriente não usa branco, por que o branco no Extremo Oriente é sinal de luto”. Também ele coloca outro exemplo, “no Brasil se usa muito o crisântemo como enfeite para as igrejas, a flor. Aqui na Itália o crisântemo só é para defunto porque só florescem no final de Outubro”.
Desde essa perspectiva, segundo Dom Flavio, não podemos esquecer que “temos várias formas de manifestar, inclusive de gesto, de rito”. Por isso, “nunca debochar de alguém que tem uma forma diferente de rezar, de manifestar o afeto”, uma atitude decisiva para a Igreja que se faz presente na Amazônia, que deve levar os participantes da assembleia a oferece-la como possível novo caminho a seguir. Para muitos pode resultar esquisito o que acontece em outras culturas. O bispo, nesse sentido, disse que “os esquimós, por aquilo que estudava quando criança eles para se saudar já que está tudo coberto por causa do frio, eles esfregam o nariz um no outro, e não apertam a mão, porque a mão está dentro da luva”.
Desde essa perspectiva se torna decisivo assumir que sempre vamos nos encontrar com “formas diferentes, que temos que aprender que a nossa forma, não necessariamente é a mesma dos outros”. Isso implica segundo o padre sinodal, “que temos que respeitar, inclusive as formas de oração, você viu nesses dias que muitas vezes os indígenas pintam de vermelho para o momento de oração e de festa. Eu não pinto, são formas diferentes, mas não quer dizer que são formas erradas, cada um tá correto para manifestar a única fé em Jesus Cristo”.
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