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Repam promove em Mato Grosso seminário sobre Sínodo da Amazônia; CEBs integram equipe de trabalho

Foi o pontaté no estado para o evento chamado pelo papa para outubro de 2019 em Roma; no horizonte, a busca por uma espiritualidade e uma eclesialidade amazônicas

 

“Deus nos fez todos indígenas, pra gente cuidar uns dos outros, das plantas, dos animais, das águas, de todo mundo. Precisamos recuperar esse respeito com a natureza. E precisamos de ajuda pra resgatar os jovens indígenas que sentem o contato com a cidade, e daí vão pras drogas, pro álcool e pra prostituição”.

As palavras de Angelton Souza da Silva, da etnia arara, ecoaram durante o 2º Seminário da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam)-MT. Ele foi uma das cerca de 50 lideranças indígenas, pastorais, religiosas, de movimentos sociais e organismos de apoio a minorias que participou do evento ocorrido em Cuiabá entre os dias 17 (sábado) e 18 (domingo), no Centro Nova Evangelização (Cene).

O maior objetivo do seminário foi elaborar princípios e ações para que Mato Grosso esteja representado em sua grande diversidade de vozes durante o Sínodo da Amazônia, que vai ocorrer em outubro de 2019 em Roma. O evento é um chamado do papa Francisco para se constituir uma espiritualidade e uma eclesialidade amazônicas.

Leva em conta o respeito ao planeta, que é a nossa casa comum, e se trata de uma atitude diante da crise generalizada no mundo (social, econômica, política e ecológica). A essência desse pensamento consta da encíclica Laudato Si´, escrita pelo papa Francisco em 2015. E a palavra sínodo vem do grego, cujo significado aproximado é “caminhar juntos para encontrar respostas”.

A programação do seminário teve várias mesas redondas, que trataram: do Sínodo; políticas de preservação do meio ambiente; efeitos dos agrotóxicos na natureza; planos municipais de Saneamento; recuperação de bacias hidrográficas degradadas; e situação dos excluídos da terra e dos povos indígenas.

 

As muitas realidades na Pan-Amazônia

Angelton, de 33 anos, vive na aldeia Laguinho, pertencente ao município de Aripuanã (noroeste de Mato Grosso). De acordo com ele, são aproximadamente 500 indígenas arara no estado, espalhados em 13 áreas, e também há integrantes da etnia em Rondônia e no Amazonas. Ele é vice-presidente da Associação Marupá, que colhe, processa e comercializa castanha-do-pará, açaí e farinha. Angelton informou que o trabalho tem aumentado a união entre os indígenas.

As palavras de Angelton, sua visão de mundo e seu pedido de ajuda aos povos indígenas apontam para as muitas realidades existentes na Pan-Amazônia. Elas são expressas pelos saberes populares das quebradeiras de coco, quilombolas, ribeirinhos, retireiros e tantos outros grupos sociais e pela reconhecida biodiversidade da região.

A Pan-Amazônia envolve os países com floresta amazônica: Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana Francesa, Guiana Inglesa, Suriname e Brasil. De acordo com a Repam, são 7,8 milhões de quilômetros quadrados onde habitam 33 milhões de pessoas, incluindo 1,5 milhão de indígenas de 385 povos.

A Repam é um organismo vinculado à CNBB, tem participação de pessoas, comunidades, dioceses, paróquias, da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), organizações e movimentos eclesiais, como Cáritas, Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e Comissão Pastoral da Terra (CPT).

 

Propostas

Ao final do seminário, as pessoas presentes se dividiram em grupos para pensar de que forma Mato Grosso pode deflagrar a discussão do Sínodo da Amazônia junto às comunidades.

 

O 15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) também foi contemplado nas proposições

 

Entre as propostas: levar à sociedade uma nova consciência socioambiental; prestar solidariedade às lideranças ameaçadas por defender a vida; participar de conselhos municipais de Direitos Sociais; fortalecer os trabalhos junto aos indígenas; incorporar o Sínodo nas ações pastorais das dioceses; dar maior visibilidade ao Fórum Permanente de Economia Solidária; e criar um Comitê Ecumênico da Repam.

O 15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) também foi contemplado nas proposições. O evento vai ocorrer em 2022 em Rondonópolis (MT) e a primeira reunião Ampliada Nacional será em julho deste ano na citada cidade. O objetivo é garantir uma grande representatividade, com lideranças pastorais, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, religiosos, entre outros.

Uma equipe de trabalho, com a participação da Repam, foi formada para organizar e dar sequência às propostas. Pelas CEBs, a assessora do Regional Oeste 2, Maria da Costa Rossi, de 51 anos. A equipe tem ainda lideranças indígenas, professores universitários, religiosos, representantes do Centro Burnier Fé e Justiça, Cimi, CPT, o presidente do Regional Oeste 2, dom Neri Tondello, que é bispo de Juína (MT) e referencial das CEBs no estado.

 

Maria das CEBS, como é mais conhecida, durante o Décimo Quarto Intereclesial.

 

A consciência da urgência

O trabalho será conduzido em rede, de forma democrática. Para isso, vai respeitar as características de cada movimento e organização e estimular a participação ativa no processo, desde a concepção até a execução das atividades. É o que explicou a antropóloga e assessora nacional da Repam, Moema Maria Marques de Miranda, de 57 anos.

“É um Sínodo Pan-Amazônico, e queremos que Mato Grosso participe com sua riqueza de vozes e expressões culturais, ecológicas, políticas, econômicas, sociais. Vamos pensar e agir juntos, criando condições para que essa diversidade de manifestações possa aparecer e ter o seu espaço”, comentou Moema, que é Franciscana Secular e assessorou o seminário em Cuiabá.

“Devemos nos orientar pela consciência da urgência”, pontuou Moema, referindo-se ao momento histórico que vivemos, com uma crise de ordem socioambiental.

Conforme o sociólogo e membro do Centro Burnier, Roberto Rossi, essa crise tem três raízes humanas, observadas pelo papa em suas cartas e exortações. A primeira: a ideia de que o humano está no centro de tudo (na verdade, é parte do todo). Segunda: relativismo prático (só buscar o que garante vantagem). Terceira: a globalização do paradigma tecnocrático (quando as nossas vidas ficam submetidas à tecnologia e à ciência).

Rossi, de 53 anos, disse que se trata de uma crise sistêmica, ou seja, que ataca por todos os lados. “Por isso é necessário uma resposta sistêmica. Temos que ir na causa da situação e propor um novo modelo de vida, de pensamento, de ação. Nesse sentido, é fundamental cultivar uma espiritualidade integral, uma ecologia integral. Tudo está interligado, e isto pressupõe nossa relação com Deus, conosco, com a natureza, com @ outr@”. Roberto também é assessor das CEBs do Regional Oeste 2.

 

Por Gibran Luis Lachowski, Comunicação das CEBs/MT, Regional Oeste 2 (fotos Ana Paula Carhahiba, Comunicação CEBs/MT, Regional Oeste 2)

 

 

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