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Terceiro encontro anual das CEBs Regional Nordeste II.

No último final de semana, 16 a 18 de agosto, no Santuário das Comunidades em Caruaru/PE, aproximadamente 30 pessoas de 12 dioceses das que compõem o Regional Nordeste II participaram do terceiro encontro anual das CEBs. Estudamos a identidade de Jesus segundo o Evangelho de São Marcos. Como assessoria do encontro, tivemos Dom Sebastião Armando. O texto a seguir, foi escrito como conclusão do nosso encontro pelas palavras de Kinno Cerqueira:

POR BAIXO DA POEIRA: A IDENTIDADE DE JESUS NO EVANGELHO SEGUNDO MARCOS

Há dois mil anos, um camponês andou empoeirando os pés nas terras da Palestina. Na oficina de seu pai José, aprendeu um pouco de artesanato e na companhia de sua mãe Maria, aprendeu a cantarolar as cantigas de libertação que ela tanto cantava. Não conseguiu sucesso como artesão nem como cantor, mas soube integrar o ofício de artesão do pai ao gosto musical da mãe: tornou-se um artesão de sonhos, de utopias, de esperanças, fazendo de sua própria existência uma cantiga de revolução ao ritmo do amor. Que menino danado!

Como se não bastasse, descobriu-se com vocação para ser profeta. É que andou lendo demais o livro de um tal de profeta Isaías e, como reza um antigo provérbio: “Dizes-me o que andas lendo e direi o que tu serás”. Assim aconteceu com o menino-rapaz: quando se deu conta, já estava tomado pelas ideias revolucionárias do Isaías e não conseguia mais pensar noutro assunto que não fosse a instauração de um grande projeto de amor que revolucionasse o mundo a partir dos pobres e pequenos.

Após arregimentar mulheres e homens em torno de suas ideias, começou a peregrinar pelas cidades e aldeias de seu país, como também do exterior, anunciando que a vida poderia ser vivida de uma maneira nova. Queria um mundo sem pobreza e miséria. Queria transformar os terrenos pedregosos em jardins floridos. Algumas pessoas se mostraram simpáticas perante suas ideias; outras, porém, odiaram-nas. Nem todos gostam de jardins!

O menino-rapaz se reunia com os excluídos frequentemente. Suas reuniões soavam como uma espécie de conspiração contra a cúpula religiosa que figurava como o principal braço do governo opressor. Seus opositores tinham certa razão, pois as suas reuniões que aconteciam sob o pretexto de refeições comunitárias eram, na verdade, encontros de conscientização política. Ali, enquanto convivia com os excluídos, procurava deixar claro que o rosto de Deus desenhado pela cúpula religiosa era, na verdade, uma grande farsa com fins desonestos.

Contrariando os interesses dos poderosos, principiou uma política de saúde pública. O diagnóstico foi este: as histerias e enfermidades eram o reflexo da opressão religiosa e política perpetrada pelos donos do poder e que, por isso, o fundamentalismo religioso, aliado ao governo injusto, era o principal câncer social. A solução é radical: romper com a lógica de dominação que estratifica, estigmatiza e explora para viver segundo a lógica do amor que cura, restaura e vivifica.

O movimento popular liderado pelo profeta Jesus conquistou o ódio dos chefes da religião, os quais se reuniram sucessivas vezes para discutir as medidas a serem tomadas para acabar com a militância de Jesus. A maioria decidiu que a solução seria assassinar o líder do movimento. Assim, em conluio com vários grupos reacionários e com o governo imperial, a elite religiosa tramou e executou o assassinato de Jesus mediante crucificação, estilo de condenação reservado para revolucionários e insurgentes.

O profeta foi posto no túmulo. Os poderosos saltavam de alegria, dizendo: “Vencemos! A força está conosco”. Enquanto isso, os pobres choravam e pensavam: “Mais uma tentativa frustrada! Que será de nós agora?”. Não sabiam eles que a voz de um verdadeiro profeta não pode ser sepultada. Jesus ressuscita no coração dos discípulos e discípulas. Ele vive nas pessoas que se arriscam a viver como ele viveu e a tomar o lado que ele tomou. Ele habita os corações que pulsam pela transformação do mundo; é parceiro do povo que luta; é amigo e camarada do povo camponês, dos trabalhadores, dos sem teto, dos índios, dos negros, dos LBGTI’s e de todos os marginalizados.

Por mais que tentem ocultar sua identidade sob a poeira dos religiosismos, o hálito de Deus sopra a poeira para que o mundo redescubra quem é Jesus. Jesus, o artesão do amor, é profeta que anuncia o Reino de Deus, quer dizer, uma nova maneira de ser-no-mundo na qual prevalece a liberdade guiada pelo amor enquanto serviço e compromisso com os pobres, contra a pobreza e pela justiça.

Redescobrir a identidade do profeta Jesus é reencontrar o caminho para um mundo novo, pois sua face interpela, inspira e encoraja a transformar pedreiras em jardins floridos e a fazer da vida um belíssimo poema de amor nos lábios do tempo.

Kinno Cerqueira

Contribuição  Fernanda Melo – CEBs Nazaré

Veja momentos marcantes desse encontro:

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