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A casa Brasil. Dom Paulo Mendes Peixoto

O que sentimos é uma falta de ética e de respeito para com a população mais carente, que deveria ser o principal objetivo e alvo da administração pública. Não há uma espiritualidade do bem comum e sim de privilégios concentradores de riqueza. A vida humana não é o mais importante dentro da casa, porque ela fica ameaçada pelas dissonâncias sociais e econômicas de forma desumana.

A dimensão territorial, as riquezas naturais, a flora, a fauna, a capacidade humana, a riqueza econômica e de criatividade, tudo isso faz-nos convencer de que o Brasil é um país privilegiado. O Criador nos concedeu uma casa como um grande dom de sua bondade. É pena ver tanto descuido e práticas de irresponsabilidade com aquilo que deveria ser valorizado com todo carinho.

A Nação brasileira tem a marca da democracia, significando que o diálogo, a negociação e as decisões deveriam ser realmente partilhados com verdadeiro compromisso de cidadania e de orgulho nacional. Mas não é isso que acontece. Os interesses pessoais, econômicos e egoístas se apresentam como definidores da caminhada do país. Mesmo votando, nas decisões o povo fica de fora.

Seguimos uma conduta parecida com a do povo de Israel, tido como povo da Aliança, apoiado nos princípios das leis, das normas e dos mandamentos, mas com uma história recheada de descompromissos, transformando a Terra Prometida em campo de batalha, de destruição e sofrimento para todos. O Brasil é uma grande casa, mas também ferida por uma indesejável governança.

Usando uma expressão do profeta Isaías, “me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim” (Is 29,13), refletimos a identidade daqueles que governam nossa casa. Apresentam-se como próximos do povo, mas no exercício da missão eles têm no coração uma preocupação mais concentrada em interesses de grupos, empresas, multinacionais e de quem tem poder econômico nas mãos.

O que sentimos é uma falta de ética e de respeito para com a população mais carente, que deveria ser o principal objetivo e alvo da administração pública. Não há uma espiritualidade do bem comum e sim de privilégios concentradores de riqueza. A vida humana não é o mais importante dentro da casa, porque ela fica ameaçada pelas dissonâncias sociais e econômicas de forma desumana.

Sendo imagem de Deus, o ser humano deveria ter a marca da fraternidade, da capacidade de relacionamento e de tomar suas próprias decisões para bem viver. É a proposta da Palavra de Deus contida na bíblia. Fala da capacidade da escuta, do diálogo fraterno, comprometedor e de engajamento nos compromissos de vida na comunidade, e assim construir uma casa para todos.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.

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