Edição Especial de relançamento do 15º Intereclesial das CEBs

Diocese de Rondonópolis-Guiratinga/MT.   |   Agosto de 2020.  

Edição Especial on-line, nº 1

Carta ao Povo de Deus - Carta da Esperança

Por Celso Pinto Carias, professor de Teologia, assessor do Setor CEBs da CNBB e da Ampliada Nacional das CEBs.

O episcopado católico conta com cerca de 480 bispos entre titulares e eméritos. Destes, 152 publicaram a “Carta ao Povo de Deus”. Um número significativo, pois a ausência de assinaturas de um bom número de bispos pode ter se dado não por discordância do conteúdo, mas da forma. E a ausência de alguns outros pode ter se dado não tanto por discordar de boa parte do que ali está expresso, mas talvez por ter sido tão explícita na indicação de responsabilidades institucionais na atual conjuntura da realidade brasileira.

As críticas negativas feitas à carta em nenhum momento foram em direção contraria ao que a tradição da Igreja afirma sobre o compromisso da mesma com os pobres, pois sabem que neste sentido o texto está perfeito. Assim, não podendo identificar nela defeitos doutrinários apontam questões tangenciais, como: “por que não fizeram críticas a governos anteriores?” ou “somente agora, quando há um governo que defende a família, a moral e os bons costumes, é que eles falam”. Tais críticos parecem ter lido, se leram bem, somente a presente carta, desconhecendo uma série de documentos anteriores que fazem crítica profunda quando injustiças são cometidas.

Outra perspectiva um pouco mais inteligente, mas também carecendo de desconhecimento do funcionamento da Igreja em sociedade desde começo da história do catolicismo, é a de buscar cobrar dos bispos uma comunhão que eles desrespeitam o tempo todo, inclusive, não defendendo o Papa Francisco quando é até mesmo agredido com palavrões e xingamentos. Os assinantes não só afirmam na carta sua COMUNHÃO com a Igreja e a CNBB, mas são nomes conhecidos por tal testemunho.

Lembremos apenas alguns pontos que colocam os 152 dentro da mais genuína tradição evangélica da Igreja Católica.

  • O pressuposto fundamental da carta é a defesa da vida. A Igreja defende a vida em todas as suas dimensões, e neste momento os mais vulneráveis estão morrendo não apenas por conta de uma crise econômica, o que já é grave, mas por irresponsabilidade na gestão do país. Por uma escolha de valor quanto à definição da própria realidade humana. Neste caso os povos tradicionais é o melhor exemplo, ainda que infeliz. Nos textos da Patrologia podemos encontrar afirmações muito mais contundentes de Santo Ambrósio e São João Crisóstomo, entre tantos outros.
  • Quebra de comunhão pode ser por desobediência explícita ou por seguir uma orientação oposta ao que a CNBB pautou quanto às questões sociais. Que não é o caso da carta. São conhecidos casos de recusa para realizar Campanhas da Fraternidade e até mesmo a negação de documentos. Em alguns casos não se toma a defesa da instituição quando ela é atacada como “banda pobre”. Chamar a CNBB de “ong” é uma demonstração da mais absurda carência de fundamentação eclesiológica.
  • A Carta ao Povo de Deus se coloca dentro do múnus apostólico dos bispos, isto é, da missão especifica do bispo, em Comunhão com o Papa Francisco, na defesa dos pobres. E se pode afirmar que a carta sendo assinada por cada bispo, sem que seja uma decisão da Assembleia Geral da CNBB, acaba evitando que a mesma venha a ser mais desgastada diante das críticas constantes feitas por setores da sociedade que se afirmam católicos, mas que desconhecem os mecanismos de comunhão dentro da Igreja, sobretudo depois do Concílio Vaticano II. O conceito de sinodalidade é totalmente desconsiderado.

Assim sendo, esta breve recordação, indica-nos que o posicionamento dos bispos é corajoso e aponta para a esperança. A esperança de que os pobres não serão traídos pela instituição que tem como objetivo fundamental continuar a missão de Jesus Cristo. Nas palavras da própria carta:

“Como não ficarmos indignados diante do uso do nome de Deus e de sua Santa Palavra, misturados a falas e posturas preconceituosas, que incitam ao ódio, ao invés de pregar o amor, para legitimar práticas que não condizem com o Reino de Deus e sua justiça?”.

Em sã consciência: alguém ousaria afirmar o contrário da citação?

Você pode ler a íntegra da Carta ao Povo de Deus clicando aqui.