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Festa de Todos os Santos Mt 5,1-12a Quininha Fernandes

O construtor da paz é santo e bem-aventurado porque clama por uma mundo de amor onde haja vida e liberdade.

Hoje a liturgia celebra a festa de Todos os Santos, que se encontra sempre registrada no nosso calendário no dia 1o de novembro.

No princípio a Bíblia reservou a Iahweh o título de “Santo”, palavra que tinha então um significado muito próximo ao “sagrado”: Deus é o “Outro”, tão transcendente e tão longíquo que o ser humano não pode pensar em participar da sua vida. Mas em Jesus, tornado “Senhor” pelo Pai, toda a humanidade fica “santificada” levando as pessoas a participar da sua santidade.

A santidade cristã manifesta-se, pois, como uma participação na vida de Deus, que se realiza numa vida de intimidade amorosa com Deus e com os irmãos. A santidade não é o fruto do esforço humano, que procura alcançar a Deus com suas forças; ela é dom do amor de Deus, é resposta do ser humano à iniciativa divina.

No Evangelho de hoje, Jesus anuncia que são bem-aventurados, felizes, santos, os que buscam o Reino de Deus e sua justiça. Jesus está diante de uma multidão! Subiu à montanha e assume uma posição de mestre, n’Ele o divino e o humano se encontram: É o Filho de Deus que fala ao povo.

As bem-aventuranças resumem todas as expressões de amor fraterno. De maneira clara elas exaltam os pobres, os que sofrem e os que lutam por justiça.

As bem-aventuranças não indicam um estado de felicidade de alguém que se esforça e se aplica em crescer em virtudes pessoais, mas reforçam sim a felicidade da comunhão com os irmãos, particularmente os excluídos, em um processo de libertação e integração social, e nesta comunhão com os irmãos, a felicidade da própria comunhão com Deus.

Ao anunciar “felizes os pobres em espírito”, Jesus quer dizer que são todos aqueles que têm atitudes de total confiança no Senhor; felizes os aflitos, os mansos, os que têm fome e sede de justiça significa que o reinado de Deus é a busca e prática da justiça.

Estas bem-aventuranças têm em vista a transformação da sociedade; a fome e a sede de justiça devem levar à misericórdia, que impulsiona a ação solidária, tendo em vista a construção de um mundo sem ambição e violência. São felizes, são bem-aventurados e santos os misericordiosos, os puros de coração e os que promovem a paz.

Aqui não se trata de puro sentimentalismo, mas de verdadeiro culto a Deus que leva a criar laços de solidariedade a partir de uma efetiva prática da justiça.

O construtor da paz incomoda com sua presença e grita bem alto diante das situações injustas, não-éticas, opressoras… O construtor da paz é santo e bem-aventurado porque clama por uma mundo de amor onde haja vida e liberdade. E estes serão perseguidos, injuriados, difamados… qual é a novidade? Jesus pede que se alegrem quando passarem por estas situações por causa d’Ele, pois terão sua recompensa nos céus!

Bem aventurado é sinônimo de feliz, de santo! A sutileza do evangelho desta festa consiste em entender que as situações descritas não são objeto de santidade: fome, pobreza, injustiça, injúria, perseguição, lágrimas são expressões do mal, do não-Reino de Deus, mas as pessoas que não se deixam derrotar por elas, são santas e bem-aventuradas.

Se nos identificamos com as práticas lembradas por Jesus neste belíssima página de Mateus, podemos então celebrar, pois hoje é também o nosso dia: Dia de Todos os Santos! Não só dos que foram canonizados e estão nos nossos altares, mas também de tantos que anonimamente fazem o bem, defendem os pobres, lutam pela justiça e de todos nós que estamos tentando, fazer o mesmo!

Neste festa recuperemos a nossa fé no céu! E como nos diz o amigo teólogo Pagola: “Acreditar no céu para mim é rebelar-me com todas as minhas forças a que esta imensa maioria de homens, mulheres e crianças, que só conheceram nesta vida miséria, fome, humilhação e sofrimentos, fique enterrada para sempre no esquecimento.

Confiando em Jesus, creio numa vida onde já não haverá pobreza nem dor, ninguém estará triste, ninguém terá que chorar. Eu os verei chegar à sua verdadeira pátria”. Também acredito neste céu! Amém.

Quininha Fernandes. Assessora das CEBs do Brasil

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