Pe. Jean Marie Van Damme (Pe. João Maria – assessor das CEBs NE V).
“Putin não é um louco, nem perdeu contato com a realidade”. Não é qualquer pessoa que expressa esta opinião. Jacques Baud é ex-chefe de Política e Doutrina no Departamento de Manutenção da Paz da ONU em Nova Iorque. É militar suíço (com patente de coronel), trabalhou por anos no combate à proliferação de armas letais, fala russo, conhece a OTAN e Ucrânia e trabalhou na inteligência estratégica. Tem uma biografia riquíssima com profundo conhecimento sobre a Ucrânia. Baud tem uma percepção bem diferente sobre a questão da guerra na Ucrânia do que a mídia ocidental direitista e dominante nos apresenta. O coronel deu uma longa entrevista no site “Observatório de la crisis”, que vale a pena ser lida na sua íntegra. Infelizmente, não se pode, em poucos minutos, apresentar a riquíssima análise do coronel Baud[1].
É preciso voltar à questão da guerra na Ucrânia, não para defender uma ou outra posição, nem defender a guerra. É necessário entender, conhecer o contexto para apontar rumos para sua solução. Não é para justificar uma guerra – ela sempre é injustificável. Mas querer paz – não uma paz romana, mas uma convivência pacífica entre culturas, religiões e economias diferentes exige respeito, exige aceitar que outros povos mantenham a sua autonomia – política, econômica, cultural e ideológica. A Pax Romana era imposta em toda região mediterrânea, com cooptação de colaboradores locais – lembramos a família herodiana na Galileia e a submissão das regiões conquistadas aos interesses econômicos de Roma, com taxas e impostos pesados sobre a população. Neste período Pascal, é importante lembrar que Jesus foi condenado justamente por estes colaboradores romanos por clamar contra a espoliação de seus conterrâneos. Defendia os pobres e excluídos da sociedade o que suscitou ódio e aversão dos líderes judaicos contra Ele. Os EUA usam a mesma concepção de paz: ela só pode existir onde seus interesses e sua supremacia sejam reconhecidos e protegidos.
Seguem apenas alguns trechos da entrevista citada.
Putin tinha escolha entre duas estratégias, para chegar a seu objetivo principal: garantir a independência da região de Donbass, onde a etnia russa é predominante e violentada pelo regime de Zelenski e grupos paramilitares: apenas ocupar aquela região, ou fazer uma operação mais ampla na Ucrânia. Optou pela segunda. Avaliou que as consequências, as reações do Ocidente seriam exatamente as mesmas.
O coronel Baud nos alerta: a ação da Rússia não está dirigida contra a população da Ucrânia. E ele dá exemplos. As tropas não destruíram os sistemas de fornecimento de água e energia, primeiros alvos de guerras levadas a frente pelos EUA, por exemplo na Jugoslávia, no Iraque, na Líbia, provocando a população a se levantar contra seus governos (categorizados como ditaduras). A mídia ocidental insiste em mostrar prédios destruídos, milhões de refugiados, mortos espalhados nas ruas… sugerindo que a Rússia age de forma genocida. Baud refuta essa interpretação e mostra com números de que a ação letal dos Estados Unidos contra civis costuma ser muito mais violenta nas áreas onde combate as chamadas ditaduras, governos que não querem entrar no seu jogo geopolítico. Os norte-americanos fazem sempre questão de mostrar que poucos militares americanos morreram nos combates. As baixas militares russas são bem maiores do que as mortes de civis.
Na entrevista, chama atenção pela presença de grupos neonazistas na Ucrânia, entre estes o famoso regimento Azov, paramilitares muito ativos desde o golpe de 2014. O exército ucraniano é fraco, muito debilitado. Os paramilitares nazistas se estruturaram, são mais de 100.000 combatentes, inclusive com participação de estrangeiros vindos de cerca de 50 países, inclusive do Brasil. Baud esclarece que grande parte de judeus massacrados durante a II Guerra Mundial vieram da Ucrânia, onde atuava até uma Divisão da SS em Lviv, cidade atacada pela Rússia. Mesmo que as forças militares americanas e a mídia insistem em documentar com imagens o que chamam as atrocidades cometidas em Butcha, não há nenhuma evidência de que foram os russos os causadores das mortes. Rússia insiste em dizer que saiu da região no dia 30 de março. Os corpos espalhados nas ruas só pareceram na mídia dias depois, quando já havia presença do Batalhão de Azov. Os paramilitares teriam chegado já no dia 31 de março[2]. Imagens publicados por soldados ucranianos no dia 2 de abril mostram muita destruição, porém não corpos espalhados nas ruas. Postagens, posteriormente apagadas, teriam mostrado que a morte de civis sem fita azul na manga – símbolo da resistência ucraniana – teria sido autorizada pelo líder Sergei Korotkikh (conhecido como Botsman), personagem com um passado bem chocante. Não há dúvidas de que o governo de Zelenski é integrado por nazistas, afirma Lola Melyck, radialista russo-ucraniana[3]. Euronews, pelo outro lado, publicou no dia 05 de abril que imagens de satélites que teriam sido feitas nos dias 11 e 19 de março, já mostrariam corpos de mais de 400 mortos nos arredores de Kiev[4]. A guerra da informação continua tentando nos convencer da leitura ocidental da realidade.
Ainda vai demorar muito tempo, antes que esta insana guerra chegue ao fim. A teimosia russa se confronta diretamente com os interesses norte-americanos. Os primeiros passos dados por Ursula Von de Leyen, que entregou formulário de adesão da Ucrânia à União Europeia[5], só pode ter colocado mais lenha na fogueira. A guerra se desenrola em frentes diversas: nos campos de batalha, na divulgação de narrativas na mídia e nas disputas diplomáticas e econômicas.
Os acontecimentos no Brasil trazem, por um lado esperança e expectativas de um futuro melhor, mesmo que tímidas. Pelo outro lado, muita preocupação. Não se resolverá uma destruição total da economia, da legislação democrática e de direitos trabalhistas e sociais em pouco tempo. Lula continua à frente nas pesquisas, buscando por votos do centro escolhendo Geraldo Alckmin como seu vice. No PSB, o ex-governador Paulista pode trazer votos para o campo de resistência contra o pior governo que o Brasil jamais teve. Nos principais estados, as disputas pelo poder executivo também começam a se delinear: Fernando Haddad (PT) está à frente nas pesquisas em São Paulo, Marcelo Freixo (PSB) em empate técnico com o atual governador Cláudio Castro do PL (RJ). No Maranhão, a disputa entre o senador pedetista Weverton Rocha e o governador Carlos Brandão, que deixou o PSDB para se filiar ao PSB, tende também em favor deste último. Desde 1990, Brandão atua na política. É médico veterinário e empresário (sócio da Microempresa Colinas Agropecuária Industria e Comércio e da Gás do Sertão Ltda)[6].
A situação da maioria do povo continua dramática, com um alto crescimento do custo de vida no mês de março: aumento de 1,62% no IPCA, maior índice desde 1994. Grande parte da população sente no dia a dia este desastre e para o governo federal é uma péssima notícia, porque pode minar, mais uma vez, a adesão da população à sua campanha.
As ameaças nada escondidas contra Lula pelo deputado federal bolsonarista do PL/MG Junio Amaral[7] e pelo deputado estadual Coronel Lee (Democracia Cristã/PR) causam preocupação. Um atentado contra Lula – não fake como o de 2018 – pode ocorrer e a segurança dele deve ser reforçada nas múltiplas viagens que deverá realizar nos próximos meses. A direita continua procurando uma saída numa terceira via para não deixar ganhar Lula e evitar a recondução do atual presidente que apoiou na eleição anterior. Até o presente momento, esta terceira via continua sem sucesso.
The Intercept chamou atenção, esta semana, pela nomeação do general Gomes Freire como comandante do Exército[8]. Ele pertence à cavalaria, que hoje pouco tem a ver com cavalos: É nesta arma que estão locados os tanques e carros blindados. Muitos generais da cavalaria participaram e atuam ativamente na política brasileira de direita. O artigo lembra, entre outros: Paulo Sérgio Nogueira, Edson Leal Pujol e Augusto Heleno. Outros ministros generais, como Luiz Eduardo Ramos e Eduardo Pazuello são da Infantaria-paraquedista. Uma frase em especial merece destaque: sem muito o que fazer no cenário internacional, o exército brasileiro é treinado para desenvolver guerras no próprio território, combatendo políticos de esquerda e prefere fazer política caçando inimigos imaginários internos.
O povo brasileiro precisa entender que lugar de militares é no quartel e sua missão é defender o seu povo, não interesses políticos e ideológicos. É preciso lembrar disso, no momento em que é solicitado nosso voto! Ditadura militar ou golpe, nunca mais.
[1] https://observatoriocrisis.com/2022/03/31/militar-suizo-experto-de-la-onu-analiza-con-bisturi-la-guerra-en-ucrania/ (Acesso em 2022.04.05)
[2] https://www.poder360.com.br/europa-em-guerra/midia-russa-acusa-nazistas-ucranianos-por-massacre-em-bucha/ (Acesso em 2022.04.09)
[3] https://www.brasil247.com/entrevistas/lola-melnyck-sem-duvidas-o-governo-zelensky-e-integrado-por-nazistas?utm_source=mailerlite&utm_medium=email&utm_campaign=as_principais_noticias_desta_manha_no_brasil_247&utm_term=2022-04-09 (Acesso em 2022.04.09)
[4] https://pt.euronews.com/2022/04/05/imagens-confirmam-massacre-em-bucha (Acesso em 2022.04.09)
[5] https://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2022/04/von-der-leyen-entrega-para-zelensky-formulario-de-adesao.html (Acesso em 2022.04.09)
[6] https://www.camara.leg.br/deputados/141402/biografia (Acesso em 2022.04.09)
[7] https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/04/4998546-em-video-deputado-de-mg-ameaca-lula-com-arma-estarei-pronto.html (Acesso em 2022.04.09)
[8] https://racismoambiental.net.br/2022/04/02/o-general-do-general-de-temer/ (Acesso em 2022.04.02)
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
Ooops...
Você precisa estar autenticado para enviar comentários.