Todos nós estamos lembrados que no ano de 2015 até novembro de 2016 o Papa Francisco promoveu para toda a Igreja o Ano Santo da Misericórdia. Publicou a Bula MISERICORDIAE VULTUS – O rosto da misericórdia – e com ela convocou a Igreja a anunciar, compreender e viver a misericórdia de Deus. Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. Ele é a síntese do Mistério da Fé. Anunciado desde o Antigo Testamento Jesus veio a nós na plenitude do tempo (Gl 4,4) e com sua palavra, os seus gestos e toda a sua pessoa, revelou a misericórdia de Deus.

Precisamos contemplar o mistério da misericórdia. Ela é condição de nossa salvação e que revela o mistério da Santíssima Trindade. É possível, inclusive, definir a misericórdia:

  1. É o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro;
  2. É a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida;
  3. É o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado.

O Papa João XXIII (1959 – 1963), ao abrir o Concílio Vaticano II assim falou da misericórdia: “Nos nossos dias, a Esposa de Cristo (Igreja) prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade”. O Papa Beato Paulo VI também falou da misericórdia durante o Concílio Vaticano II: “Desejamos notar que a religião do nosso concílio foi, antes de mais, a Caridade (…) aquela antiga história do bom samaritano foi exemplo e norma segundo os quais se orientou o nosso Concílio …. (MV 4)… Toda esta riqueza doutrinal orienta-se apenas para isto: servir o homem em todas as circunstâncias da sua vida, em todas as suas fraquezas, em todas as suas necessidades”. De maneira especial o Santo Padre lembra da vivência das obras de misericórdia corporais: dar de comer aos famintos; dar de beber aos sedentos; vestir os nus; acolher os peregrinos; dar assistência aos enfermos, visitar os presos; enterrar os mortos. Recorda ainda as obras de misericórdia espirituais: aconselhar os indecisos; ensinar os ignorantes; admoestar os pecadores; consolar os aflitos; perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas; rezar a Deus pelos vivos e defuntos. Ao término deste Ano Santo o Papa publicou a Carta “A Misericórdia e a mísera” onde oferece à Igreja o Dia Mundial dos Pobres, “para que as comunidades cristãs se tornem, em todo mundo, cada vez mais e melhor sinal concreto da caridade de Cristo pelos últimos e mais carenciados”.

semana do pobre (2)Nela o Papa chama a todos: “Convido a Igreja inteira e os homens e mulheres de boa vontade a fixar o olhar, neste dia em todos aqueles que estendem suas mãos invocando ajuda e pedindo a nossa solidariedade. São nossos irmãos e irmãs criados e amados pelo único Pai celeste. Este dia pretende estimular, em primeiro lugar, os crentes, para que reajam à cultura do descarte e do desperdício, assumindo a cultura do encontro. Ao mesmo tempo, o convite é dirigido a todos, independentemente da sua pertença religiosa, para que se abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal concreto de fraternidade. Deus criou o céu e a terra para todos. Foram os homens que, infelizmente, ergueram fronteiras, muros e recintos, traindo o dom originário destinado à humanidade sem qualquer exclusão” (n. 6).

A convicção do aumento do número de pessoas sofrendo com a pobreza e passando fome em nosso país, e no mundo, é visto como um fator para afirmar a relevância dessa iniciativa. É visível o aumento do número de refugiados, migrantes, desemprego no nosso país, corte de verbas para políticas públicas, exclusão social, etc.  É importante promover rodas de conversa com os diferentes grupos de empobrecidos. Aproximar o povo destas pessoas, quebra preconceitos e gera solidariedade. Promover gestos concretos em favor de projetos que promovam a vida. É importante começar sabendo que a primeira edição do Dia Mundial dos Pobres talvez não alcance grandes resultados, mas é uma consciência que precisa se desenvolver. Assim fica estabelecido que em todos os anos, no 33º domingo do Tempo Comum, neste ano em 19 de novembro, o Dia Mundial dos Pobres.

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Dom Geremias Steinmetz