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Reflexões da Palavra | 2º Domingo da Páscoa – Ano B

Leituras: At 4,32-35 – Sl 117 – 1Jo 5,1-6 – Jo 20,19-31

Por Quininha Fernandes Pinto, do Regional Leste 1.

A riqueza contida nas leituras deste domingo, imediatamente após a Páscoa, pode nos ajudar a viver melhor estes momentos difíceis. Vemos na primeira leitura do livro dos Atos dos Apóstolos como os primeiros cristãos se comportavam diante das necessidades da comunidade: colocavam em comum o que tinham e por isso ninguém passava necessidade…

Jesus manifesta-se aos discípulos desejando-lhes a paz: “A paz esteja convosco”, sopra sobre eles o Espírito Santo e dá-lhes o poder de perdoar os pecados. Curiosamente Tomé não se encontrava presente quando isto ocorreu e, quando soube, não acreditou! Impôs como condição de crédito ver e tocar o dedo nas marcas dos pregos que feriram Jesus. Isto aconteceu – segundo o relato – oito dias depois e, só assim, Tomé acreditou: “Meu Senhor e meu Deus!”.

Este Evangelho nos propõe três pontos fundamentais para refletir:

  1. O poder que o Ressuscitado obteve com a ressurreição é transmitido aos discípulos.
  2. A fé é um risco; não se trata de tocar e ver, mas de acolher um anúncio que é proclamado.
  3. O objetivo deste relato é obter a fé em Jesus reconhecendo-o como Cristo e Filho de Deus.

No cotidiano da nossa fé, muitas vezes agimos como Tomé. Colocamos o Senhor à prova quando lhe pedimos coisas que nos cabem fazer, quando exigimos milagres que só a abertura do nosso coração é capaz de realizar; quando queremos que Ele conserte as asneiras que fazemos… e quando isso não acontece, perdemos a fé, mudamos de religião ou blasfemamos contra Deus, imputando-Lhe uma culpa que, na verdade, é nossa.

Pedimos que Deus acabe com a fome do mundo, mas estamos longe de “colocar o que temos em comum”, como na primeira leitura. O substancial aumento da fome no Brasil tem tocado o coração do nosso povo, comprovando que a partilha é a solução para a miséria e para as desigualdades. Lamentavelmente isto não está acontecendo com os poderosos abastados que detém poder e riqueza e mais que isso, gerando leis que garantam vida digna e equidade para o nosso povo. E pedimos para Deus fazer isto… A paz que por três vezes Jesus deseja aos discípulos nesta perícope, é uma paz que desinstala, que inquieta, pois vem condicionada a fazer o que Ele fez. Não, Ele não fará! Somos enviados a fazer – pela força do seu Espírito – o que ficou pra trás. O envio à missão consiste em fazer com que o seu Evangelho se concretize no nosso meio, em trabalhar pela implementação de leis justas em defesa dos vulneráveis, em proporcionar trabalho com salários que correspondam a viver com dignidade. Se entendêssemos isso não estaríamos discutindo pela abertura ou não das nossas igrejas… A proposta da CNBB neste domingo pela misericórdia, corrobora isto. Misericórdia não é ter pena ou dó das pessoas, como popularmente se diz… misericórdia significa a soma de miséria + coração. É colocar o nosso coração junto e misturado com as dores, as dificuldades, as injustiças, a pobreza, ou seja com a “miséria” dos irmãos. É o movimento do “abraço”. Uma convocação como esta, já feita anteriormente pelo Papa Francisco, deve mexer e provocar uma reviravolta nas nossas entranhas, no mais profundo do nosso ser.

A atitude de Tomé é um pouco a nossa atitude também. Queremos ver Deus arrumar todos os nossos problemas, salvar o nosso mundo da pandemia, o nosso Brasil da corrupção e da impunidade… queremos ver e tocar para acreditar! Mas a fórmula para este desafio está na primeira leitura: tinham tudo em comum… não só as liturgias, a fração do pão que eles celebravam nas casas… tinham também em comum os desafios, as necessidades, a fome, as injustiças, a iniquidade proporcionada pelos opressores… isto é viver a misericórdia. Que possamos entender isto, praticar e anunciar! Que a paz de Jesus – esta paz! – esteja sempre conosco.

Que seja assim. Beijos no coração.

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