Shadow

A pirâmide social e o trabalho de base

Comparemos a estrutura social do capitalismo a uma pirâmide. Na ponta, lá em riba,
estão os grandes empresários, proprietários dos bancos, das grandes fábricas, das
grandes fazendas, dos grandes comércios, dos meios de comunicação de massa e de
muito mais. Ainda em cima, mas um pouquinho pra baixo, encontram-se os
representantes dos capitalistas no legislativo, no judiciário, em chefias de algumas
instituições religiosas, nos governos. Na base da pirâmide está a classe que é coagida a
construir e sustentar toda a estrutura, ao mesmo tempo em que, alienada do poder de
decisão, é esmagada por ele.
A classe oprimida e explorada é variada em sua composição. Se você é pobre, indígena
ou preta, mulher, homossexual e favelada, é muito provável que esteja no chão da
pirâmide. Se é homem, hetero, branco e sobrevive de um trabalho intelectual, não
manual, é possível que se encontre num patamar acima do chão. As condições de vida
dessas duas pessoas são distintas, mas ambas são pisoteadas, uma mais que a outra.
A imensa maioria da população está na base e sente cotidianamente na alma e na carne
as mazelas do pisoteio. Por isso, quando a base se movimenta, protestando contra as
péssimas condições de vida, a estrutura da pirâmide estremece. Temendo serem
derrubados de seu trono, o topo utiliza de várias artimanhas para se manter no poder. A
mais potente forma de dominação é fazer com que a base não se reconheça enquanto
base. Assim, o professor universitário não só não enxerga a mulher favelada como uma
igual, como teme a presença da população periférica nas redondezas de sua moradia.
Trata-se do velho artifício de dividir para governar. São os de cima que ganham com o
estranhamento entre os de baixo.
Junto ao estranhamento fabricado, os dominadores incutem nos explorados e oprimidos
a ideia de que viver numa estrutura piramidal de sociedade é a única forma de se viver.
Fazem isso para que jamais as necessidades sentidas pelo povo passem de clamores e
reclamações, de reivindicações. Ou seja, que, em última instância, a “solução” para os
problemas dependa sempre e exclusivamente de uma decisão vinda do alto; não por
acaso, justamente a posição dos que causam os problemas.
Trabalho de base é o exercício da solidariedade consequente, é o processo de convívio e
interação que fundamenta a auto-organização dos de baixo. “Organização” porque se
pretende prática intencional para superação das necessidades sentidas, desde as mais
imediatas e gritantes, como a falta de moradia, até àquelas que levam a atacar os
problemas em sua raiz, em suas causas, como uma grande Revolução, que mobiliza toda
a gente não somente contra as consequências do pisoteio, mas igualmente contra a
estrutura social que provoca o pisoteio. Trabalho de base é o básico – daí o nome –, o
essencial à transformação radical de um mundo que urge em ser revolvido e devolvido
às suas raízes.

Por Thales Emmanuel, missionário leigo redentoristamilitante da Organização Popular (OPA).

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