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“Abre a tua mão para teu irmão” (Dt 15, 11), abre os teus olhos para reconhecer Jesus (Lc 24 31)

Por João Ferreira Santiago, da Arquidiocese de Curitiba/PR.

Caríssimas e caríssimos irmãs e irmãos, o ano de 2019, será lembrado por muitos anos, pelas lições e aprendizados, e pelas perdas ocorridas em milhões de famílias enlutadas no mundo todo. Uma praga em forma de vírus deixou a modernidade e a ciência mudas; a tecnologia e as religiões nuas; e os nossos governantes com as mãos manchadas com sangue de inocentes. Grande parte das mais cem mil mortes em nosso país, são o resultado da ausência ou da insuficiência das Políticas Públicas, como diz a CNBB em seus Documentos. Vemos a Sabedoria do tempo testemunhando um provérbio bíblico que diz, “Com os justos no poder, alegra-se o povo; mas quando governa o malvado, o povo geme” (Pr 29, 2). Um provérbio de nosso tempo, no entanto, nos diz que, “Quando o medo fechar as Igrejas nos templos a esperança deve abrir em cada casa uma Igreja”. Precisamos aprender novas formas de viver a fé e temos uma excelente oportunidade com a chegada do mês da Bíblia. Vivemos um tempo cheio de exigências e urgências e o maior sinal de nossa Igreja vem exatamente da Palavra de Deus. O Livro a ser estudado é o Deuteronômio – a Segunda Lei -, e o lema è: “Abre a tua mão para teu irmão” (Dt 15, 11).  

Imagem: Paulinas.

O gesto da mão aberta é um sinal de paz que se opõe às armas, à intolerância e a violência. É comum encontrarmos pessoas e grupos defendendo os punhos fechados e atirando pedras. Precisamos ter a mesma certeza do Apóstolo Paulo de Tarso, de que “Nada nos separará do amor de Deus” (Rm 8, 38-39). E o que fazermos durante o Isolamento Social? A nossa Igreja dispõe de diversos instrumentos de ajuda ao estudo bíblico: cartilhas, livretos, textos base e, muitas Dioceses e Paróquias, oferecem cursos de estudo bíblico. Mesmo sendo insuficientes, é possível aprendermos com eles e a partir deles criar novas formas de viver a fé que não aquela ritualista, que vem pronta e basta-nos balançar as cabeças. A Igreja é o último refúgio do povo empobrecido e excluído das Políticas Públicas, dos Direitos Humanos Fundamentais e da Dignidade. Ouvir, interpretar e pôr em prática a Palavra é essencial para o povo de Deus. Qual é a nossa resposta ao chamado para assumirmos as exigências de nosso batismo? Somos Batizados e Enviados. A travessia desse deserto e a passagem para o outro lado desse mar, dependem da resposta à estas perguntas: quantos grupos de estudos bíblicos nós organizamos em nossas casas?  Quais são efetivamente as mudanças que essa pandemia provocou em nossos comportamentos? Nos âmbitos pessoal, familiar e comunitário. O que efetivamente nós aprendemos que nos faz dizer: aqui, neste ponto, eu melhorei, como cristão, como ser humano, como pessoa?

Ainda, este é um ano eleitoral. Despois de toda a maldição provocada pelo voto envenenado com ódio e com a alienação, nós não podemos repetir os mesmos erros que estão nos levando à morte. Agora, todo mundo vai te dizer que é da Igreja, mesmo que você não se lembre de tê-los vistos lá algum dia; todos vão falar de diálogo, mesmo que não saibam dividir o tempo para a palavra com os outros, nem num momento de oração. Vereador não asfalta Rua; vereador não faz esgotamento e não coloca manilha; vereador não faz ponte; vereador não cria vaga em creche e nem nomeia médico na Unidade de Saúde. Isso quem faz ou deveria fazer é o prefeito. Está certo que em alguns lugares como em Curitiba, o prefeito fez foi tirar vagas, fechar creches e CRAS, mas é dele que se deve exigir que atenda as necessidades básicas dos munícipes. Mas em Curitiba, o prefeito atende é as necessidades dos empresários.

Vereador deve fiscalizar o prefeito e seu secretariado e elaborar leis que tornem obrigatoriedade e assegure aquilo que é essencial para o município. A Câmara de vereadores não é um escritório de despachante para atender os mandados do prefeito. E nem uma agência de negociação. É um poder independente e autônomo. Quando você vota num vereador picareta que quer se dá bem na politica e vai negociar voto para acumular vantagens, você está sendo cúmplice das falcatruas que fazem com que os recursos públicos escorram pelo ralo e pela miséria e até pelas mortes causadas pelas consequências. Quantas das 131.210 mortes por corona vírus teriam sido evitadas se tivéssemos um presidente de verdade? Se tivéssemos um governo e não uma Organização Criminosa fazendo manobras para legalizar a corrupção e blindar criminosos? Se tivéssemos um parlamento com o mínimo de dignidade? Se tivéssemos um poder judiciário decente? Bastava-nos uma destas alternativas.

Vote com dignidade. Não vote em alguém porque alguém mandou; não vote em alguém porque fala bonito; não vote em alguém só porque é da família; não vote em alguém porque lhe promete alguma coisa; não vote em alguém só porque conhece a família… Enfim, estes são alertas que já fazem parte das Cartilhas eleitorais assinadas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB –  uma das entidades mais idôneas e dignas do Brasil e do mundo. A direita brasileira jamais teve escrúpulos e sempre foi violenta e corrupta. Agora, ela chegou ao fundo do poço da imoralidade e o pior é que continua cavando. Os poderes se uniram para revelar suas fraquezas e sua capacidade de praticar corporativismo. A cada desgraça que acontece contra a nação, eles se reversam entre eles e entre seus membros para definir quem fará o próximo trabalho sujo. Triste realidade para uma democracia tão cara e tão promissora.

*João Ferreira Santiago é teólogo e assessor do CEBI, autor do livro “Teologia Pastoral – a Arte do seguimento e do discipulado de leigos e leigas”. Em breve com o autor.

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