Advento e faxina: alguma relação?
Gosto do humor e leveza que muitas pessoas utilizam para suportar o peso do cotidiano e das adversidades que chegam sem avisar. Gosto da ironia que muita gente possui ao rir das suas próprias mazelas e limitações. Há poucos dias li no Facebook uma postagem assim: “Pra você que limpa a casa feito doido pro Natal, saiba que quem vem é o Menino Jesus, não a Vigilância Sanitária!”. O riso tomou conta de mim e imediatamente identifiquei o recado: euzinha… A postagem foi enviada para mim. Na semana anterior, eu havia concluído as minhas faxinas do Natal… armários, gavetas, louças, todas as tralhas que guardamos “caso um dia venha a precisar”. Tudo extremamente limpo e organizado; de se encontrar no escuro! E a seguir enfeitei a casa para esperar a chegada do Natal! Está linda…
No domingo, o 1o do Advento, um dos padres da minha paróquia, usou também a metáfora da faxina associada ao tempo que estamos celebrando, de espera, de conversão e de uma espiritualidade impar. E eu, novamente pus-me a rir pois sentia que realmente eu – assim como muitas pessoas que riram e curtiram a postagem que eu compartilhei – deveríamos refletir sobre isto.
O Advento celebra a vinda de Jesus Cristo no tempo e na História humana para trazer-lhes salvação. É, portanto, tempo de espera, de preparação, tempo da expectativa, e nós cristãos e cristãs somos chamados a vivê-lo em plenitude, para poder receber dignamente o Senhor que vem. O Advento é tempo de conversão, tempo de preparar os caminhos do Senhor, para endireitar as veredas, a fim de que chegue o Reino de Deus. Mas a conversão a Deus como disponibilidade radical a ele e renúncia total de si mesmo, deixa-nos insensíveis ou até mesmo hostis, pois coloca-nos diante da nossa própria fraqueza, dos empecilhos que atravessam o caminho que impedem ou atrasam a sua chegada.
Por isso a necessidade, sim, de uma faxina para abrir caminhos, para proporcionar um melhor acolhimento, para liberar espaços. A chegada de um hóspede que vem visitar-nos, move-nos a arrumar a casa. Muitas vezes está suja, atravancada com coisas sem serventia, com tralhas desnecessárias, com os espaços ocupados por coisas imprestáveis, egoisticamente acumuladas e que causam trabalho e dor com o seu convívio. Não estou falando só de coisas…
Uma faxina para esperar o Menino que vem implica desobstruir espaços ocupados pelo acúmulo de coisas que podem ser partilhadas; eliminar sentimentos de rancor, de orgulho, de soberba, de autorreferência; de jogar fora ideias de supremacia, de poder e vantagens sobre os outros. Uma faxina no nosso coração implica varrer e jogar fora os sentimentos de superioridade sobre os demais, as certezas que cristalizam e impossibilitam o diálogo, as ideologias que dividem, a perseguição que fere e anula o diferente, a religião que domina, o amor que mata. Uma faxina que limpe da terra as guerras, a devastação do meio ambiente, a ganância dos poderosos, a violência entre irmãos que suja a imagem de Deus implantada em nós pelo Criador.
É tempo de faxina sim, é tempo de limpeza, de arrumar a casa e o coração para a chegada d’Aquele que quis vir habitar entre nós, e veio. Esperá-lo significa deixar tudo limpinho para que Ele se sinta bem em nossa casa! Significa coração aberto ao outro-irmão, preferencialmente ao outro-pobre, recebê-lo com alegria, com respeito, simplicidade e muito amor. Alegremo-nos, pois Ele vem!
Quininha, dezembro/2025