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CONTINUA A GUERRA TAMBÉM NO BRASIL

Pe. Jean Marie Van Damme (Pe. João Maria – assessor das CEBs NE V).

Continuando na sua narrativa parcial sobre a guerra na Ucrânia, a mídia ocidental joga todas as suas energias na culpabilização da Rússia pelo drama humanitário que está se desenvolvendo no País de Zelenski. Centenas de pessoas mortas, milhões de refugiados, milhões de pessoas em situação de vida crítica, nada comove os líderes mundiais para tentar chegar a acordos pacíficos. A Rússia não arreda pé nas suas ações destrutivas. O Ocidente, sobretudo os EEUU com Joe Biden no comando, insiste em manter uma política agressiva contra a Rússia. Cada vez mais cresce a convicção entre analistas políticos, de que a expansão da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte – organização militar) para o Leste europeu, na direção da Ásia, está na origem da insatisfação russa e obriga a Rússia a pôr limites aos desejos imperialistas dos EUA. Objetivo de longo prazo é destruir a Rússia como potência mundial, para depois atingir a China, esta certamente já a maior potência econômica mundial.

Desde 1989, quando caiu o muro de Berlin e foi proclamada a vitória da única via de o mundo se organizar – a forma neoliberal capitalista – os EUA tem se comportado como policial do mundo, desrespeitando a autonomia de dezenas de países, derrubando seus governantes, provocando conflitos armados[1], dos quais se beneficiam, inclusive economicamente. Onde quer que seus interesses econômicos estejam em jogo, vai defender militarmente a sua “democracia”, ou seja, a dominação dos interesses de sua plutocracia, governo de ricos bilionários, independentemente se por meio do partido republicano, ou do democrata. Atiçando a violência, buscando se sobrepor militarmente, pouco importa para as grandes nações os destinos das populações. O presidente russo Putin errou na sua estratégia e não consegue manter o controle político sobre a região, onde sempre influenciou, por meio de uma ação militar mal sucedida. Se as potências mundiais não se sentam à mesa, não se respeitam mutuamente e não têm o bem-estar e as necessidades das populações como parâmetro e critério básico para suas decisões, a ameaça de uma terceira e terrível guerra envolvendo o mundo todo, não está fora das perspectivas. Infelizmente, uma população mal informada e manipulada nos dois lados, pouco sabe fazer, a não ser entrar no barco dos que controlam a economia, a política, o poder militar e a cultura – a forma de pensar e defender valores.

No plano interno do Brasil, a economia e as eleições continuam em destaque. O presidente da Câmara Federal, Artur Lira, insiste em culpabilizar os governadores pela alta dos preços de combustíveis e a fatura de energia elétrica. Os governadores negaram a redução do ICMS sobre gasolina e diesel. As alíquotas (os percentuais) que são cobradas não mudaram. Menos dinheiro em caixa significa, para eles, diminuir recursos destinados para políticas públicas. Lira, e com ele o Centrão, não reconhece o encaminhamento equivocado da política de preços do petróleo pela Petrobras, nem a política energética do Brasil, entregue a multinacionais que sugam até a última gotinha de dinheiro do bolso dos trabalhadores, dos sem terra, sem teto, sem emprego.

Iniciando 2022, continuam as agressões contra povos tradicionais e o meio ambiente em favor do agronegócio. Protestos de indígenas e organizações populares, com o apoio de Caetano Veloso e mais outros 40 artistas, não intimidaram o Congresso, que continua andando na direção que as bancadas do agronegócio e do Centrão indicam: PL 191/2020, que permite mineração e grilagem em terras indígenas[2]; os Projetos de Lei que flexibilizam as regras para regularização fundiária por grileiros (PL 2633/2020 e PLS 510/2019 – que trata do Marco Temporal das áreas indígenas); liberação de agrotóxicos (PL 6299/2002); flexibilização do licenciamento ambiental (PL 3729/2004); concessões florestais (PL 5518/2020); mercado de carbono (PL 528/2021); e a elaboração de um PL sobre mineração em áreas de fronteiras[3], e ainda a retirada do Mato Grosso da Amazônia Legal (PL 337/2022). São muitos assuntos que têm como dupla perspectiva: primeiro, consolidar o Brasil como fornecedor mundial de commodities (produtos agrícolas e minerais primários, não transformados), principalmente entregando sua exploração a empresas estrangeiras; em segundo lugar, limitar, o quanto mais possível, o acesso e o uso de territórios pelos seus habitantes tradicionais (indígenas e quilombolas), e a preservação ambiental. É de olho nestas pautas muito preocupantes, que o brasileiro vai ter que exercer seu voto no final do ano em senadores e deputados que vão continuar nesta mesma linha política ou que mudam de rumo no sentido de defender a soberania do País, em prol das suas riquezas naturais, de suas populações e de seu clima.

O ex-procurador Deltan Dallagnol foi condenado esta semana pelo STJ a pagar uma indenização a Lula[4] por tê-lo acusado sem fundamento, por meio de mentiroso power-point que circulou pela mídia. Chamou Lula de chefe de uma quadrilha, atingindo a imagem do ex-presidente. O baixo valor da indenização chama a atenção. Dallagnol e sua família enriqueceram de forma inexplicável[5] depois de ele começar a atuar como Procurador no processo da Lava-Jato[6]. Em 2019, Dallagnol já estava entre o 1% das pessoas mais ricas do Brasil. Sua filha, com três anos de idade, já era sócia de uma empresa da família[7]. Os cerca de R$ 100 mil reais que Dallagnol foi condenado a pagar a Lula – e ainda cabe recurso a esta condenação – não significam absolutamente nada para o ricaço. Mesmo assim, choramingou e pediu ajuda a seus admiradores, para passar um PIX para ele poder pagar sua multa. Estranhamente, há pessoas que atenderam a seu chamado e em vídeo[8] Deltan agradeceu as constantes entradas de dinheiro na sua conta, valor que pode chegar a mais de 300 mil reais[9], fazendo jus ao ditado popular: toda a água corre para o mar. Dallagnol chamou isso de “solidariedade”. Estranha solidariedade essa!!!

Enquanto os endinheirados vão enriquecendo mais, as políticas públicas sofrem ataques fulminantes e empobrecem. Assistimos esta semana o escandaloso comportamento do Ministério da Educação, entregue a mercenários pastores, Gilmar Silva dos Santos e Arilton Mourão, que usam sua influência religiosa (pastores, e que pastores!) para orientar os recursos destinados ao ensino público, a prefeituras por eles indicadas, em troca de propinas. Corrupção descarada! O prefeito de uma cidade maranhense denuncia que lhe foi cobrado o pagamento em 1 quilo de ouro. E não foi o único prefeito que faz a denúncia de serem cobrados[10]. Áudio do próprio ministro Milton Ribeiro[11] circula nas redes sociais, em que a prática é indicada como orientação do próprio presidente da República. A que ponto chegamos! Será que Aras vai ficar novamente calado e cego ou finalmente atender à solicitação do STF, da ministra Carmen Lúcia, que perguntou se iria investigar o presidente ou não? A educação, que já enfrentou muitos problemas por causa da pandemia, não apresenta sinais de melhoras, com menos recursos, agressões às cotas nas universidades, entrega do ensino à iniciativa privada, evasão escolar estimulada por falta de investimento na qualidade da educação pública, desvalorização dos profissionais da educação, demora na volta das aulas presenciais[12] e muita destruição mais, marca desse desgoverno.

Também a política de saúde continua sendo desmantelada[13]. O valor aprovado no orçamento de 2022 é de 40 bilhões de reais a menos que no ano anterior (diminuiu de 200,6 para 160,4 bilhões de reais) em plena crise sanitária. Parte dos recursos da saúde serão utilizados para pagamento de juros da dívida pública. A Emenda Constitucional 109/2021 vai se somar à EC 95 e sangrar ainda mais os recursos destinados à saúde. O investimento público em saúde per capita caiu de R$ 615,00 em 2014 para R$ 575,00 em 2020, e isso quando os agravos à saúde da população, por diversos motivos, vêm se intensificando. Mas não são todas as pessoas que se dão mal: Jacson Barros, que estava à frente do Departamento de Informática do Ministério da Saúde de 2019 a 2021, e que contratou a jovem Amazon Web Services para hospedar as plataformas do Ministério, recebeu, logo depois de sua saída do Ministério, um posto de gerente na mesma empresa[14]. Técnicos em Informática alertaram na época em que foi licitado o contrato de R$ 245 milhões com a Amazon, que se tratava de um risco enorme à soberania brasileira e à proteção de dados sobre a saúde de milhões de brasileiros. Assim é que está sendo tratada a coisa pública pelo atual governo federal. É preciso dar o troco no final deste ano. É preciso começar a ver melhor e compreender de maneira mais clara que esse País não pode mais continuar sendo desgovernado e tratado dessa forma destruidora como está sendo. As graves consequências vão recair, mais uma vez, sobre a vida e a saúde da maioria da população brasileira.


[1] https://www.brasil247.com/mundo/midia-chinesa-comenta-que-eua-sao-comerciantes-de-guerra-que-continuam-jogando-lenha-na-fogueira (Acesso em 2022.03.25)

[2] https://www.andes.org.br/conteudos/noticia/sob-protestos-de-milhares-camara-aprova-urgencia-do-pL-que-libera-mineracao-em-terras-indigenas1 (Acesso em 2022.03.25)

[3] https://oeco.org.br/salada-verde/licenciamento-grilagem-e-mineracao-em-terras-indigenas-conheca-as-prioridades-do-governo-bolsonaro-no-legislativo/ (Acesso em 2022.03.25)

[4] https://www.jota.info/justica/lula-deltan-dallagnol-indenizacao-stj-22032022 (Acesso em 2022.03.25)

[5] https://www.jornalcontabil.com.br/jornalista-informa-grande-aumento-de-patrimonio-da-familia-de-deltan-dallagnol/ (Acesso em 2022.03.25)

[6] https://www.pragmatismopolitico.com.br/2019/07/deltan-dallagnol-mais-rico-do-brasil.html (Acesso em 2022.03.25)

[7] https://www.catarse.me/moro-dallagnol (Acesso em 2022.03.25)

[8] https://www.youtube.com/watch?v=g6NDuTdvxuw (Acesso em 2022.03.25)

[9] https://extra.globo.com/noticias/brasil/apos-decisao-para-indenizar-lula-deltan-recebe-300-mil-nao-para-de-entrar-pix-25446211.html (Acesso em 2022.03.25)

[10] https://www.brasil247.com/brasil/prefeitos-de-dez-municipios-ja-denunciaram-esquema-de-pastores-no-bolsolao-do-mec (Acesso em 2022.03.25)

[11] https://www.google.com.br/search?q=%C3%A1udio+ministro+da+educa%C3%A7%C3%A3o&sxsrf=APq-WBsuW7cv7hXU8fxOMAACBll2LYQiCA%3A1648215736802&source=hp&ei=uMY9YqujL7Gz5OUPwr2ZsAU&iflsig=AHkkrS4AAAAAYj3UyG49MhFPd2hLz6U43ErYY1uMKtEG&oq=%C3%81udio&gs_lcp=Cgdnd3Mtd2l6EAEYAzILCC4QgAQQsQMQ1AIyCAgAEIAEELEDMgUIABCABDIECAAQAzIFCAAQgAQyBQgAEIAEMgUIABCABDILCAAQgAQQsQMQgwEyBQgAEIAEMgUIABCABDoLCC4QgAQQsQMQgwE6CAgAELEDEIMBOgUILhCABFAAWPIHYL8naABwAHgAgAHIAogByAqSAQUyLTQuMZgBAKABAQ&sclient=gws-wiz (Acesso em 2022.03.25)

[12] https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/09/16/brasil-esta-entre-paises-que-nao-aumentaram-recursos-para educacao-na-pandemia-diz-ocde.ghtml (Acesso em 2022.03.25)-

[13] https://www.justicapaz.org/portal/GENOCÍDIO: Os novos artifícios para desfinanciar o SUS – Comissão Brasileira Justiça e Paz (justicapaz.org) (Acesso em 2022.03.23)

[14] https://www.brasil247.com/brasil/diretor-que-levou-dados-do-sus-para-amazon-deixou-governo-bolsonaro-para-trabalhar-na-empresa (Acesso em 2022.03.25)

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