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Dom Sérgio da Rocha: “Nas CEBs nós temos os leigos e leigas como sujeitos da Igreja”

No mundo urbano, a própria comunidade eclesial de base, as CEBs,  já é uma resposta.  mas é claro que a participação efetiva dos leigos e leigas é a grande resposta.

O episcopado brasileiro está preocupado com a situação que vive o país, não duvidando em questionar as iniciativas governamentais que levam a perder os direitos, sobretudo dos mais pobres, querendo ser voz profética que alerte a população.

Ninguém melhor do que o atual Presidente da CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o Cardeal Sérgio da Rocha, para nos ajudar a entender os motivos que têm levado a Presidência do episcopado a emitir algumas notas que têm questionado as reformas do governo Temer.

Nesta entrevista, o arcebispo de Brasília, insiste na necessidade de uma mobilização do povo, pois “é muito importante, sim, que nós tenhamos uma ação mais efetiva da população brasileira no seu exercício da cidadania, já que muitas vezes há uma indiferença ou uma certa apatia em relação à vida política”. Igualmente, cobra que “a sociedade civil organizada seja mais ouvida para poder permitir uma participação mais efetiva na própria vida social”, sendo preciso insistir na ”necessidade de uma participação política maior…, de uma presença nos diversos ambientes da sociedade”.

O Ano do Laicato, “vai nos ajudar primeiramente a valorizar mais a presença dos leigos na Igreja”, segundo o Cardeal Sergio da Rocha, quem afirma que “nós precisamos tornar mais efetiva essa presença dos leigos e leigas na vida da Igreja, nas comunidades”. Mas sem esquecer de “tornar maior a participação na sociedade, porque creio que seja esse o grande desafio”.

Os dois próximos sínodos convocados pelo Bispo de Roma são de particular importância para a Igreja. Em 2018 sobre a Juventude e no próximo ano sobre a Amazônia. No Sínodo de outubro, o cardeal de Brasília vai ser o relator, vendo esse momento como uma oportunidade “para tornar mais efetivo a presença dos jovens na própria Igreja”, sendo preciso que “o Sínodo seja ocasião para que os jovens sejam mais ouvidos”.

Em referencia ao Sínodo da Amazônia, o Presidente da CNBB diz que “a Igreja do Brasil espera muito também desse Sínodo…, orientações pastorais, reflexões, propostas que venham animar mais a vida e a missão da Igreja na Amazônia”. É uma oportunidade para ouvir a voz dos povos indígenas e defender sempre mais sua vida, seus direitos, sua dignidade”. Junto disso, vai ser oportunidade para “pensar justamente como tornar a Igreja cada vez mais ministerial”, onde seja refletida “a problemática da ausência de presbíteros ou de ministros ordenados na vida das nossas Igrejas da Amazônia”.

Diante da situação que o Brasil está vivendo, uma situação sócio-política que cada dia nos surpreende, que cada dia tem uma novidade, como presidente da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil, qual é sua reação diante dessa realidade?

A própria CNBB, Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil,  tem se pronunciado várias vezes preocupada com a situação que nós temos vivido, mas, questionando iniciativas que implicam a perda de direitos, sobretudo dos mais pobres, dos mais fragilizados, tivemos varias iniciativas, várias reformas  têm ocorrido aqui no Brasil. Primeiramente a PEC, Projeto de Emenda Constitucional, do teto dos gastos públicos, depois a reforma trabalhista, a terceirização, agora a reforma da previdência.

A CNBB tem sido uma voz profética questionando essas iniciativas, sobretudo alertando duramente para a perda de direitos que essas iniciativas trazem. É claro que é preciso cada vez mais vivenciar essa missão profética da Igreja, nós temos muito mais a fazer. Não basta um pronunciamento, nós precisamos uma ação efetiva das nossas comunidades, participando da vida política do país.

Os bispos do Brasil, por meio da CNBB, têm tido seus pronunciamentos, a CNBB tem as pastorais sociais e organismos, que têm a sua atuação, mas nós precisamos da sociedade civil organizada atuando e precisamos, sobretudo da mobilização de nossas comunidades. Uma maneira de se mobilizar, é claro que depende da realidade local, nós sempre defendemos manifestações que sejam pacíficas, apelamos sempre à não violência, vivemos numa sociedade já violenta e não podemos permitir que violências sejam combatidas com mais violência.

Mas é muito importante, sim, que nós tenhamos uma ação mais efetiva da população brasileira no seu exercício da cidadania, já que muitas vezes há uma indiferença ou uma certa apatia em relação à vida política.

O senhor insiste na participação do povo,   uma ideia   muito presente no Papa Francisco. Nos encontros com os movimentos sociais, o vemos  afirmar que as reformas na sociedade têm que nascer da base. Por que essa falta de compromisso, essa apatia que o senhor fala, inclusive dentro das próprias comunidades da Igreja católica?

Temos historicamente no Brasil, fatores que levariam a explicar um pouco essas reações de apatia ou de indiferença, nós temos também a falta de oportunidades de um diálogo mais efetivo com a sociedade civil organizada. O próprio governo brasileiro tem uma tendência em dialogar com o Congresso Nacional, negociar politicamente com o congresso. É claro que numa democracia sempre existe isso, mas não pode se restringir a isso, nós precisamos que o povo seja mais ouvido, sobretudo a sociedade civil organizada seja mais ouvida para poder permitir uma participação mais efetiva na própria vida social.

Eu penso que nós, no interior das comunidades, precisamos também ressaltar o valor, a necessidade de uma participação política maior. Porque também depende da Igreja local essa participação crescer ou não. Creio que precisamos ajudar, incentivar, eu digo nós enquanto bispos, enquanto ministros ordenados, que regem a Igreja, precisamos incentivar o nosso povo nas nossas comunidades a pensar na vida política, a participar mais efetivamente na vida política de maneira organizada e não apenas individualmente.

As comunidades eclesiais de base sempre incidiram nessa dimensão política, nessa presença na sociedade, nesse compromisso para fazer realidade um mundo melhor. Acaba de ser celebrado o 14º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base do Brasil, que tem refletiu sobre a evangelização do mundo urbano. Como as comunidades eclesiais de base podem ajudar nessa caminhada, nesse trabalho?

Na mensagem   aos participantes do Intereclesial ressaltava que não se trata de oferecer apenas respostas pastorais, através de iniciativas das CEBs, mas as próprias CEBs, a própria comunidade eclesial de base já é uma resposta aos desafios do mundo urbano, porque há necessidade de construir comunidade, comunidade que não se limite ao território, mas comunidades que favoreçam a acolhida, a integração de todos os mais pobres, os excluídos, os mais sofridos, que não tem seu espaço em outras situações.

No mundo urbano, a própria comunidade eclesial de base, as CEBs, já é uma resposta, mas é claro que a participação efetiva dos leigos e leigas é a grande resposta. Nas CEBs nós temos os leigo

 

s e leigas como sujeitos da Igreja, participando nas CEBs, mas precisamos que essa participação não se limite ao interior da comunidade, mas seja uma presença nos diversos ambientes da sociedade, por exemplo na política, no trabalho, na cultura.

Temos diversos espaços e situações da vida social necessitando de uma presença mais intensiva e mais organizada do laicato, porque também não bastam ações espontâneas e pessoais. Precisamos de uma ação através das pastorais sociais, por exemplo, as próprias CEBs devem valorizar as pastorais sociais e se expressar pastoralmente pela atuação das pastorais sociais, pois a comunidade como tal já é uma grande resposta ao mundo urbano.

Este ano a Igreja do Brasil celebra o Ano do Laicato, como   o Ano do Laicato pode ajudar nessa direção que o senhor está propondo, que está esperando da Igreja do Brasil, sobretudo dos leigos e leigas?

 

Penso que o Ano do Laicato,   vai nos ajudar primeiramente a valorizar mais a presença dos leigos e leigas  na Igreja. Às vezes se tem a ideia de que já está muito bem do jeito que está, de que a partir do Vaticano II já está tudo resolvido, que os leigos e leigas já têm sua participação e seu espaço. Infelizmente, isso nem sempre ocorre, nós precisamos tornar mais efetiva essa presença dos leigos e leigas na vida da Igreja, nas comunidades. Por exemplo, nós temos conselhos e espaços de participação no interior das comunidades que devem ser valorizados.

Esperamos que o Ano do Laicato venha de fato a incentivar, tornar maior a participação na sociedade, porque creio que seja esse o grande desafio. Os leigos e leigas estão na Igrej

 

a, precisamos crescer nisso, mas na sociedade falta muito ainda essa presença, sobretudo mais organizada, dos leigos e leigas.

Um dos grandes desafios é a presença da Igreja no mundo da juventude e da juventude na Igreja. O senhor foi nomeado pelo Papa Francisco relator do Sínodo da Juventude. Como esse sínodo pode ajudar para avançar nessa presença?

Nós esperamos muito desse Sínodo sobre a Juventude para valorizar mais, para torna

 

r mais efetivo a presença dos jovens na própria Igreja. Temos, graças a Deus, um esforço de priorizar mais a presença, a participação da juventude na Igreja, porem nós temos muito a fazer.

Efetivamente, a opção pelos jovens, que vem desde os tempos de Puebla, aqui n

 

a América Latina, precisaria crescer ainda mais. Nós esperamos que o Sínodo seja ocasião para que os jovens sejam mais ouvidos, e o Papa Francisco tem feito isso, tem favorecido a escuta da juventude no plural, ou seja das juventudes, não apenas da juventude que está aí em um determinado movimento, e sim as juventudes com os rostos diversos dos jovens do mundo e nós esperamos que também na assembleia sinodal a voz dos jovens seja ouvida.

Por isso, todo o esforço da Secretaria do Sínodo, do relator, dos secretários especiais, de acolher ao máximo possível o sentir, as aspirações, os desafios dos jovens do mundo inteiro para fazer repercutir isso no Sínodo. Esperamos depois que o Sínodo possa retornar, repercutir na vida da Igreja, porque nã

 

 

o dá para parar na assembleia sinodal, no evento. Nós esperamos que ali seja um momento de uma caminhada maior, de participação dos jovens na vida da Igreja, em serem sujeitos do presente da Igreja, não só do seu futuro, e claro que claro que a presença dos jovens já existe nas comunidades, nas pastorais, mas devem tornar o jovem cada vez mais sujeito da Igreja para ele ser sujeito na sociedade.

Junto com esse sínodo, no próximo ano vai ter o Sínodo dos Bispos da Panamazônia. O Brasil é o país com maior território amazônico, o que a Igreja do Brasil espera desse Sínodo da Amazônia?

O Papa e naturalmente o Sínodo espera muito da Igreja do Brasil e a Igreja do Brasil espera muito também desse Sínodo. Nós vamos oferecer a nossa contribuição, mas esperamos também do Sínodo orientações pastorais, reflexões, propostas que venham animar mais a vida e a missão da Igreja na Amazônia. E é claro que o Sínodo é uma ocasião especial para ver os rostos dos povos da Amazônia, para ouvir a sua voz, para ouvir a voz não só da Igreja que está nas cidades da Amazônia, mas ouvir a voz dos povos indígenas e defender sempre mais sua vida, seus direitos, sua dignidade.

 

O objetivo do Sínodo é procurar caminhos de evangelização para os povos da Amazônia, especialmente dos povos indígenas. Um dos temas que mais está aparecendo é a celebração eucarística nas comunidades. Numa recente entrevista, Dom Erwin Kräutler dizia que a questão não tem a ver com o celibato opcional ou a ordenação de homens casados, e sim ter uma presença eucarística em comunidades onde hoje só acontece uma ou duas vezes por ano. Como encontrar caminhos para fazer realidade isso?

O Papa Francisco tem insistido, e antes dele de modo geral há muitos pronunciamentos, sobre a ministerialidade na Igreja, ou seja, valorizar a Igreja ministerial, os diversos ministérios e as diversas vocações, mas é claro que por mais que valorize os diversos ministérios com a participação dos leigos e leigas, o ministério ordenado tem a sua importância muito grande na vida das comunidades.

Eu tenho certeza que a própria assembleia sinodal ela irá pensar justamente como tornar a Igreja cada vez mais ministerial, como valorizar os diversos ministérios na própria vida da Igreja e quais são as respostas pastorais que dará a essa carência de ministros ordenados para as comunidades. Agora, neste momento eu creio que não dá para antecipar aquilo que será refletido, mas com certeza, a problemática da ausência de presbíteros ou de ministros ordenados na vida das nossas Igrejas da Amazônia é um dado que deve ser considerado certamente pelo próximo sínodo.

Nós não temos ainda nem o documento preparatório, nem o chamado instrumento de trabalho, está começando agora o diálogo ao respeito desse sínodo, então temos que esperar ainda um pouco mais para poder falar ao respeito desses temas. Por isso, que não temos ainda neste momento dados concretos que permitam trazer decisões ao respeito de como serão abordados esses temas, mas com certeza o tema da necessidade de ministros ordenados, ou de ministros nas comunidades é um tema atual, já era um tema antigo que está se tornando cada dia mais necessário.

Luis Miguel Modino – Comunicação das CEBs do Brasil

Fotos Comunicação das CEBs do Brasil

 

 

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