Provenientes de diferentes partes do Brasil, centenas de pessoas participaram da celebração do Jubileu de Ouro do 1º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), realizado em Jerônimo Monteiro, caparaó capixaba, na tarde de sábado, 25 de janeiro.
A celebração começou na Comunidade Sagrada Família, reunindo cerca de 800 representantes das CEBs de todo o Brasil, além religiosas e religiosos, bispos e lideranças de organismos ligados à Igreja Católica. A procissão começou com a acolhida de Dom Luiz Fernando Lisboa, CP, bispo diocesano de Cachoeiro de Itapemirim e anfitrião da Ampliada Nacional das CEBs. “Vejam quantas pessoas reunidas. Muitos vieram de longe para, em unidade, celebrarmos o nosso jeito de ser igreja: somos CEBs. Sejam bem-vindos!” acolheu o prelado.
Acompanhando o trio elétrico, os fiéis caminharam fazendo memória da história, regada de luta e resistência; também fez memória da guerra dos sete anos, sob a repressão da ditadura militar. Padre Wosley Guimarães Pansini, coordenador do 16º Intereclesial das CEBs, esteve presente rezando junto com os representantes e assessores vindos de todas as Regiões do Brasil.
Após 20 minutos de caminhada, os fiéis chegaram ao Salão Paroquial da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, onde aconteceu a Celebração Eucarística. Na abertura, foram destacadas a atuação religiosa de leigas e leigos, a importância da diversidade cultural e feitas críticas ao modelo socioeconômico voltado ao extrativismo dos recursos naturais.
Na liturgia da palavra, músicas e menções verbais, foram valorizadas as comunidades por sua diversidade e atuação pastoral.
Na homilia, Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, Bispo de Colatina e presidente do Regional Leste 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), lembrou que o primeiro Intereclesial aconteceu em Vitória, no Espírito Santo, em janeiro de 1975, mencionando que o início das celebrações jubilares também acontecem em território capixaba.
Entre os participantes do Jubileu estiveram 5 bispos: Dom Gabriel Marches, bispo da Diocese de Floresta (PE), Dom João Batista Alves do Nascimento, bispo da Diocese de Barra (BA), Dom Paulo Bosi Dal’Bó, bispo da Diocese de São Mateus (ES), Dom Luiz Fernando Lisboa, bispo da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim (ES) e Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, bispo da Diocese de Colatina (ES).
CEBs
As CEBs nasceram no contexto do Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellín, em uma Igreja chamada a ser mais próxima do povo, dialogando com suas dores e esperanças. No Brasil, a década de 1970 foi crucial para a consolidação desse movimento, em meio a um regime ditatorial que reprimia as vozes dos mais pobres e marginalizados.
As Comunidades Eclesiais de Base se tornaram um espaço de formação espiritual, organização social e resistência. Inspiradas no Evangelho e no compromisso com a justiça social, as CEBs promoveram a conscientização crítica, a organização popular e o protagonismo dos leigos na Igreja e na sociedade.
Na Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, as CEBs se difundiram em 1986, após a posse de Dom Luiz Mancilha Vilela, como bispo diocesano. Nos primeiros anos, Dom Luiz encontrou fiéis e clero um tanto divididos. De um lado, o interesse no trabalho renovador das CEB’s; de outro, os movimentos e associações religiosas com uma linha mais tradicional. Começou então um trabalho de esclarecimentos no meio do clero e dos leigos no sentido de que houvesse na Diocese pluralidade, liberdade e criatividade. Assim, as comunidades Eclesiais de Base, aos poucos, foram surgindo, sendo instaladas e crescendo. Atualmente são 1011 CEB’s no sul do Espírito Santo.
Os Intereclesiais
Em janeiro de 1974, Dom Luíz Gonzaga Fernandes, então Bispo Auxiliar de Vitória, pegou o carro e partiu em direção a Setiba, em Guarapari, para passar alguns dias de férias na praia com seu amigo Eduardo Hoornaert. Foi nesse contexto que Dom Luíz teve a inspiração de promover o encontro de bispos cujas igrejas estavam acontecendo o mesmo que nas igrejas de Vitória, a realidade das Comunidades de Base. O que se pensou era num encontro entre igrejas irmãs que trocam suas experiências, despretensiosamente, sem ambicionar ser uma cúpula, nem um congresso.
Assim, o primeiro Intereclesial foi realizado em 1975, em Vitória, Espírito Santo, reunindo cerca de 70 pessoas entre bispos, padres e outros religiosos e teve como tema “CEBs: uma Igreja que nasce do povo pelo Espírito de Deus” e desde então, a cada poucos anos, os encontros se tornaram momentos marcantes de partilha, celebração e profecia. Os leigos só participaram do segundo encontro.
O segundo encontro, também aconteceu no Espírito Santo, entre os dias 29 de julho a 1 de agosto de 1976, e contou com a presença de bispos brasileiros e latino-americanos (México, Peru e Chile), representantes da igreja da Belgica, da Alemanha e da Áustria, e a participação de mais de 100 pessoas incluindo leigos. Desta vezes o tema escolhido foi: CEBs: Igreja, povo que caminha”. A partir daí começa-se a delinear a identidade das CEBs; passa-se a utilizar o jargão “caminhada”. Identificadas as semelhanças entre si, as várias comunidades eclesiais de base passam a se tratar como companheiras de caminhada. As CEBs dão seus primeiros firmes passos, tendo os pequenos à frente.
Ao longo das décadas, os Intereclesiais abordaram temas como direitos humanos, ecologia, economia solidária, cultura indígena, racismo, juventude e a luta pela terra. A diversidade cultural e social das comunidades é celebrada, enriquecendo a Igreja com suas múltiplas vozes.