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Pluralismo: Ecumenisno e Dialogo inter religioso – VER/JULGAR

 

VER

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JULGAR

Em 2017, entre as cenas de violência que caracterizam o cotidiano urbano brasileiro, algumas provocaram a pergunta pelo sentido da fé em Jesus Cristo.

Lembro dos casos de ataque aos terreiros no Rio de Janeiro, proferidos em nome da fé em Jesus Cristo. O vídeo com uma pessoa portando um taco escrito “diálogo”, enquanto obrigava a liderança religiosa do terreiro, quebrar os seus símbolos sagrados expressou a virulência e o ódio presentes nestes ataques.

A pergunta sobre os desafios do mundo urbano, desde as perspectivas do pluralismo religioso e do diálogo inter-religioso, necessariamente, nos remete à pergunta sobre o sentido da missão no século XXI.

Parte da história missionária cristã deu ênfase à necessidade de levar a fé em Jesus Cristo a todos os povos. A orientação para essa prática se fundamenta no Evangelho, cito como breves exemplos, entre outros: Mt 10. 1-42; Jo 8. 31.-32; Jo 14. 5-7; At 2.31-41, Rm 6. 15-23.

Não são desconhecidas as violências praticadas em diferentes partes do mundo e também na América Latina com a justificativa de fazer pessoas se converterem a Jesus Cristo, compreendida como a fé verdadeira.

Projetos missionários cristãos foram e, ainda hoje, alguns permanecem associados à violência. Em especial, quando têm como centro de sua autocompreensão uma verdade absoluta, a afirmação de sua própria identidade religiosa, a negação do outro e a compreensão de que a pluralidade é sempre algo negativo, seja ela religiosa ou não.

Um dos desafios que temos é a revisão dessa compreensão missionária, pois ela, por parecer fácil e lógica, é bastante tentadora. Em primeiro lugar, é importante compreender que missão e violência não são a mesma face da moeda. Missão não é a conversão do outro à fé em Jesus Cristo. Também não é levar a igreja verdadeira aos que “permanecem na ignorância”.

Nesse sentido, destaco o importante documento do Conselho Mundial de Igrejas, do Pontifício Conselho para o Diálogo inter-religioso e da Aliança Evangélica Mundial: “Testemunho Cristão em um mundo de pluralismo religioso – recomendações sobre a prática do testemunho”.

Este documento destaca a base para o testemunho cristão: recupera 1 Pe 3.15 que destaca a santificação de Cristo como a razão da esperança. Outro aspecto fundamental é ter sempre presente que o testemunho cristão é uma forma de compartilhar o testemunho de Jesus Cristo (conf. Jo. 17.37) que proclamava o Reino, o serviço ao próximo e a doação incondicional de si mesmo, mesmo que isso tenha significado a morte na cruz. O que precisa guiar a missão são os ensinamentos de Jesus (conf. Mt 15. 21-28; Lc 4.17-20) e as práticas da Igreja Primitiva (At 2.42-47; Rm 2.1-11). O testemunho cristão em um mundo plural inclui o compromisso de dialogar com outras culturas e tradições de fé (conf. At 17.22-28). Preservar a solidariedade (conf. Mt 18.19-20; At 1.8). A adoção de meios coercitivos ou enganosos no exercício da missão é traição ao Evangelho, porque causarão sofrimento. É necessário arrependimento e a recordação permanente da necessidade da graça de Deus (conf. Rm 3.23). A conversão é obra do Espírito Santo (conf. Jo 16.7-9) e não imposição humana. Não se pode esquecer que o Espírito Santo é livre, sopra onde quer. O ser humano não pode controlá-lo (conf. Jo 3.8).

Esta base resume os desafios que deveriam ser assumidos desde a perspectiva da fé cristã para a prática do nosso testemunho em contextos urbanos e plurais. Esta base pode orientar, junto com outras experiências, o diálogo inter-religioso. A fé cristã é relacional. Ela não existe sem o próximo que é distante (Lc 10.25-37).

Em contextos plurais somos tensionados entre optar por uma política de identidade religiosa ou uma política do próximo. O testemunho de Jesus Cristo aponta para que assumamos a política do próximo, aproximando-nos do outro, dialogando e aprendendo, reconhecendo seus direitos e jamais esquecendo que a praticar a fé como Jesus a praticou conduz aos princípios da justiça, da igualdade e da convivência.

 

Referências:

KILPP, Nelson; Mota, Sônia Gomes. Diálogo inter-religioso – uma abordagem bíblica. In. http://www.conic.org.br/portal/files/subsidios_consulta_aos_regionais.pdf

Testemunho cristão em um mundo de pluralismo religioso – recomendações sobre a prática do testemunho. In http://conic.org.br/portal/files/recomendacoes_CMI.pdf

 

Faustino Teixeira

Graduação em Ciência das Religiões pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1977), graduação em Filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1977), mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1982) e doutorado e pós doutorado em Teologia pela Pontificia Universidade Gregoriana (1985 e 1998 – com supervisão de Jacques Dupuis). Concluiu também o Estágio Sênior (CAPES) no Instituto Studi Ecumenici San Bernardino (Venezia) em 2016, trabalhando o tema da teologia do pluralismo religioso e a hospitalidade. Atualmente é professor titular da Universidade Federal de Juiz de Fora. O seu campo de atuação acadêmica e de pesquisa relaciona-se aos temas de teologia do pluralismo religioso, diálogo inter-religioso e mística comparada das religiões.

 

Pa. Romi Márcia Bencke

Mestre em Ciências da Religião pela UFJF. Bacharel em Teologia pelas Faculdades EST. Secretária Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, Pastora da IECLB.

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