Leituras: Eclo 27,5-8 – Sl 91 – 1Cor 15,54-58 – Lc 6,39-45.
Por: Quininha Fernandes Pinto
Deus se revelou através de suas obras e de suas palavras. Também nós manifestamos o que somos pelo nosso agir e pelo que falamos. A primeira leitura do livro do Eclesiástico ensina como conhecer as pessoas pela sua fala e o Evangelho oferece um convite implícito ao ser humano para conhecer-se a si mesmo. As palavras de Jesus, aos seus discípulos, parecem bastante óbvias: pode um cego guiar outro cego? Um discípulo não é maior que o seu mestre; como podemos querer tirar um cisco do olho do irmão se temos uma trave que nos impede de enxergar? Não existe árvore boa que dê frutos ruins… são ensinamentos fáceis de serem compreendidos e que já foram absorvidos pelos ditos populares da nossa gente. Fáceis de serem ditos… difíceis de serem vividos. São metáforas éticas e morais de convivência que norteiam a nossa vida, os nossos “manuais” e os nossos discursos. Mas hoje Jesus nos fala deles de uma forma contundente, direta, sem subterfúgios, fala ao nosso coração! São palavras que chamam à conversão, que exigem uma mudança radical; não é um pedido para que nos comportemos de um modo diferente neste ou naquele setor, mas que reorientemos a profundeza do nosso ser pessoa, para Deus. Sob este ponto de vista os ensinamentos morais de Jesus diferem de todos os ensinamentos rabínicos da época e de todos manuais éticos de hoje. Eles levam-nos à originalidade de uma opção que não é uma opção qualquer, mas é uma opção de fé, feita na dinâmica da nossa vida, todos os dias, aberta ao novo, que se revela nos fatos da história. É uma opção radical… As leituras de hoje são provocativas, são duras, fazem pensar. E pensar é muito difícil, pensar dói… As preocupações, os problemas e a pressa de cada dia nos levam de um lado para o outro, sem nos permitir sermos donos de nós mesmos, roubando-nos o tempo para pensar, para o encontro consigo mesmo e com Deus. O recolhimento, o silêncio, o sossego indispensáveis para refletirmos está quase impossível e até parece desnecessário, pois há quem pense por nós, quem se preocupe e diga o que devemos fazer… e nós fazemos, obedientemente: acusamos e apontamos o cisco no olho do irmão/irmã, exigimos bons frutos de uma árvore doente, arvoramo-nos a ser guias de cegos e, na nossa mútua cegueira, caímos todos ribanceira abaixo. Agora, quando a guerra contra a Ucrânia foi deflagrada, e as sérias consequências se aproximam, “rezemos pela paz na Ucrânia” é o grito! Vamos clamar pela paz que não foi construída no cotidiano da humanidade, pois esta estava ocupada em obter lucro, benécias, conforto, poder. Vamos clamar a Deus para que Ele faça o que os países ricos não fizeram pelos países mais pobres. Vamos imputar a culpa da guerra a uns poucos que se destacam no cenário político quando tantos outros “comem pelas bordas” as conquistas obtidas pelo imperialismo, pelas potências que controlam e fazem o mundo curvar-se à sua vontade. Vamos rezar pela paz… Jesus convida “o homem bom” – não tenho dúvidas que nós somos esse ser humano bom – a tirar coisas boas do bom tesouro do seu coração! Isso porque, ela sabe que temos esse tesouro! Um tesouro que foi colocado por Deus Criador no coração humano. Um tesouro que na teologia chamamos de Graça, Espírito Santo, Imagem de Deus, a qual fomos criados. E esta certeza nos faz acreditar que o mundo tem jeito. Mas não é um movimento mágico, é um processo de adesão ao Projeto de Jesus. É conversão, é tirar a trave do meu olhar, humanizando-o; é adubando a boa árvore com a Palavra de Deus para que dê frutos cada vez mais saborosos. É encher o coração de coisas boas para que o nosso falar manifeste a bondade do Senhor que lá faz morada. Tenhamos coragem de pensar nisso. Assim seja. Bjs 😘 no coração
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