Shadow

28º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Por: Quininha Fernandes Pinto

Leituras: Sb 7,7-11 – Sl 89 – Hb 4,12-13 – Mc 10,17-30
A concepção de riqueza e pobreza diverge tanto entre o Antigo e o Novo Testamentos que em alguns casos chegam a parecer opostas. No Antigo, riqueza é sinal de generosidade divina, imagem da abundância e também sinal de benção e aceitação de Deus. Hoje, o Evangelho nos oferece uma passagem bastante conhecida e instigante em que Jesus deixa até mesmo seus discípulos desapontados e perplexos. É a conhecida narrativa do “jovem rico”. Homem muito rico e piedoso, cumpridor dos mandamentos desde sua juventude, pergunta a Jesus o que é necessário fazer para ganhar a vida eterna… a resposta conclusiva de Jesus, após saber era fiel cumpridor dos mandamentos, caiu como um raio: “vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres…”. Ao ouvir isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza. E Jesus continuou a sua “catequese”: “Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!”.
A palavra de Deus exige docilidade ao seu seguimento e na maioria das vezes, não é fácil! Hoje ela nos coloca diante de uma opção: Deus ou as riquezas. Não se pode servir a dois senhores, e o dinheiro é um senhor exigente; sufoca, no avarento, a palavra do Evangelho, faz esquecer o essencial, a soberania de Deus, bloqueia no caminho da perfeição os corações mais bem dispostos, como o caso do homem rico do Evangelho de hoje. O dinheiro não é mau; torna-se mau quando colocamos nele o nosso coração, a nossa riqueza última e fazemos dele o nosso deus, dizendo-lhe o “amém” que só a Deus deveríamos dizer. Em si, o dinheiro é uma realidade boa que serve, ou deveria servir, a todos. Mas a nossa realidade é diferente… o dinheiro empobrece-nos humanamente, tira-nos a liberdade e a generosidade. Impede-nos de ouvir o chamado de Deus a uma vida mais plena e humana. A pobreza proposta ao rico, não significa não ter nada, mas comprometer-se com os pobres, especialmente com os que não têm capacidade de organizar-se, de defender-se, de libertar-se. A pobreza radical de Francisco – celebrado nesta semana – foi uma denúncia e um protesto ao acúmulo de riquezas que naquela época, e também hoje, ofende a justiça régia de Deus. A teológica “opção pelos pobres” vai por essa linha, é uma convocação a olhar com os olhos de Pai/Deus para aqueles que o mundo tornou invisível. A Teologia da Libertação é uma mudança de olhar sobre uma realidade que fabrica pobres, que se alimenta da sua fome, que denuncia as estruturas político-econômicas que os mantém sobre a sua tutela. E, é claro, isso não é aceito… é visto como comunismo, como subversivo à ordem e ao “status quo” estabelecidos e corroborado pelo sistema. É tudo isso, mas não é cristão!
Quando Jesus sai a caminhar… precisamos ir com Ele! É este o convite que o evangelista nos faz hoje: caminhar, observar, perceber, deixar-se tocar pela realidade, sair do nosso comodismo, dos nossos quadrados intimistas, egoístas, e entrar em sintonia com o Mestre. Ir a lugares não tão seguros e confortáveis, mas necessários para encontrarmos os irmãos com fome, os doentes, os marginalizados, os pobres… Que Jesus toque o nosso coração e não façamos como o homem rico, mas que tenhamos coragem de optar pela partilha, pela generosidade, pela luta contra a fome, pelos direitos dos mais pobres, pela justiça social. Que seja assim. Que assim seja! Bjs no coração.

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