“A grande esperança está no povo organizado”
Por Luis Miguel Modino
Aproveitando a celebração do 14º Intereclesial das CEBs, o Laboratório de Estudo sobre as Religiões e Religiosidades, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), organizou ontem (24) uma mesa redonda onde estavam presentes a pastora luterana Romi Benke, o monge Marcelo Barros, Frei Betto e Pedro Ribeiro de Oliveira, refletindo sobre as CEBs e as perspectivas da política.
Junto com eles, num primeiro momento, se fez presente o Arcebispo local Dom Geremias Steinmetz, que ressaltava em sua fala a importância do Concílio Vaticano II e insistiu na necessidade da Igreja se fazer presente e se preocupar com os problemas da sociedade, destacando que as comunidades eclesiais de base nasceram para trabalhar em favor da transformação social, juntando a vida ao Evangelho e o Evangelho à vida.
Nunca esqueçamos que o projeto de Jesus era um poder político, que veio dar uma dimensão transcendente aos direitos humanos, que ele foi assassinado por pregar um Reino diferente, no objetivo de construir um novo processo civilizatório, segundo Frei Betto, quem começou sua intervenção com um “Fora Temer, todos são bem-vindos”. Ele lembrou uma frase do Papa Francisco na semana passada no Chile, “a política é a forma mais perfeita de caridade”, já falada por Pio XI e Paulo VI. Daí, o papel atual das CEBs é ser sementeiras de movimentos sociais.
Na história das Igrejas no Brasil, tanto católica como protestantes, houve muitos momentos de grande importância na construção da democracia, segundo Romi Benke, mesmo que na época da ditadura houve muita divisão dentro das próprias Igrejas, pois teve perseguidos, mas também apoiadores do regime militar.
A gente pode dizer que, no Brasil, as Igrejas nunca estiveram desvinculadas do poder, que elas não são totalmente inocentes diante das desigualdades sociais existentes. No panorama político todos sabemos que pessoas identificadas com as Igrejas participaram na construção do golpe, segundo a pastora. Ela afirmava que a religião realiza ações contraditórias e alertava sobre os perigos do fundamentalismo religioso e econômico, que agem em contra do amor ao próximo, considerando a muitos como descartáveis. Por isso, urge refletir sobre a relação entre religião e política.
Neste momento de crise, a saída, segundo Marcelo Barros, a mudança só pode vir desde o pequeno, de baixo, vendo nas comunidades eclesiais de base um micro projeto de uma nova sociedade, fundamentada no Bem Viver, inspirada na primeira Igreja, que agia como assembleia popular, longe daquelas Igrejas que se acham proprietárias de Deus. Ele vê nas CEBs um sinal de profecia na Igreja, pois elas não são propriedade da Igreja católica, elas são de ecumenismo, que ajuda retomar a vocação que ajude acreditar que outro mundo é possível, que pode se chegar numa democracia integral.
Pedro Ribeiro fazia um recorrido na história das CEBs, lembrando figuras proféticas muito ligadas com as CEBs, como o Cardeal Paulo Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo, que provocou uma verdadeira revolução dentro da Igreja e se enfrentou com a ditadura para defender os perseguidos. Tendo como método o ver, julgar e agir, as comunidades de base tiveram um forte impacto político, dando à Igreja uma grande capacidade de penetração e mobilização na sociedade.
Nas palavras dos presentes na mesa redonda se percebem caminhos para um futuro diferente, mas acima de tudo, temos de sermos conscientes que “não faz sentido depositar todas as esperanças numa única pessoa”, como bem nos lembrava Romi Benke. É preciso, a partir do Jesus histórico que desafiava os poderes e não desistia em seu empenho, descobrir que “a grande esperança está no povo organizado”. O Brasil deve aproveitar esse “momento de deserto que está passando, para rever nossa própria história, pois existem relações mal resolvidas dentro do país”, como o racismo, a situação das mulheres, as questões Lgbt, as desigualdades sociais, a imposição do agronegócio que provoca graves doenças.
“Não podemos pôr a Igreja no lugar de Jesus. Vamos destruir os templos, pois precisamos de movimento e estamos tão amarrados em nossa institucionalidade que não conseguimos fazer o nosso papel”, segundo Romi Benke. Sejamos conscientes da necessidade das CEBs ser realmente instrumento que ajude a superar esse momento que o Brasil vive.
Fotos: Ana Paula Carnahiba
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