Shadow

Batismo do Senhor – Ano C

Por: Quininha Fernandes

Leituras: Is 42,1-4.6-7 – Sl 28 – At 10,,34-38 – Lc 3,15-16.21-22
João batizava às margens do rio Jordão e pregava a conversão dos pecados como condição para se receber o reino de Deus que já se avizinhava… para os judeus, o batismo era um rito penitencial, por isso aproximavam-se dele confessando seus pecados. Jesus vai ao Jordão e se faz batizar pelo mesmo batismo, mas lhe dá outro sentido! A conhecida manifestação da “voz” do céu, do rico cenário teológico do texto, dão um sentido preciso e único a este gesto. Jesus é proclamado “filho bem-amado” e sobre ele desce o Espírito que o investe da missão de profeta – o anúncio da mensagem da salvação – o sacerdote, – o único sacrifício agradável a Deus – é rei, – messias esperado como salvador! Esta teologia batismal ainda é hoje a base da igualdade fundamental de todos os cristãos! Todos os batizados são investidos deste tríplice “múnus” = carisma, não só os ordenados…
O batismo cristão tem sido muito refletido e até problematizado nos espaços teológico e pastorais da nossa Igreja… muito se fala, muito se escreve pouco se vive… muito se romantiza, monopolizando e até distorcendo o sentido do Batismo do Senhor que celebramos hoje… Quando se pergunta o “porquê” do batismo, as respostas vão do folclore ao misticismo, do infantilismo ao sectarismo religioso. Mas a pior resposta , talvez a mais diabólica é a que diz que o batismo nos torna filhos de Deus, como se os não-batizados não o fossem! Ou fossem de uma casta menos privilegiada que os batizados… Todos somos filhos/as de Deus, batizados ou não: ele nos ama a todos! Morreu por todos! O batismo é um sinal de adesão, de compromisso responsável a este Filho bem-amado, que nos foi apresentado pela voz do céu! Ou deveria ser…
O batismo cristão – e todas as suas implicações – nos coloca num patamar de dignidade e de compromisso com o Projeto do Reino, tanto quanto os nossos pastores: o papa, bispos, padres… todos temos a mesma responsabilidade com esse reino… e, obviamente com as atribuições para implantá-lo, sem hierarquia, sem supremacia, mas num processo sinodal – tema do Sínodo há pouco realizado – e ainda não compreendido por muitos!
O Batismo de Jesus e a sua mensagem, coloca o dedo nas feridas da nossa Igreja e do uso que ela faz do poder, do clericalismo, da não-sinodalidade. Pensemos nisso… e vamos rever o que realmente sobrou do “meu” batismo na atual conjuntura político-eclesial… que sentido eu tenho dado a ele??? Como tenho vivido a adesão feita por meus pais e padrinhos por ocasião do meu “sim” a este irmão amado que morreu para que vivêssemos em plenitude?? Como vejo a ausência dos leigos/leigas no processo de condução da evangelização e do anúncio da Palavra de Deus??? Estas são algumas questões que as leituras de hoje suscitam… Que possamos viver o nosso batismo de forma consciente e humana, comunitária e responsável. Que seja assim!

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