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Comunidade: Fraternidade e Diálogo em tempos de Quaresma, um jeito de viver a caridade.

A Campanha da Fraternidade deste ano propõe o diálogo como compromisso de amor. Algumas palavras são tão usadas, tornaram-se tão corriqueiras no nosso linguajar, que nem prestamos atenção para o significado e a importância que elas contêm, “diálogo” é uma delas.  Muito usada por peritos em relacionamentos, serve de orientação e receita para amenizar discórdias, indicada para desfazer mal-entendidos, para salvar casamentos, reatar laços desfeitos, para desfazer equívocos e até para acalmar os corações angustiados: a receita é dialogar com Deus! Nada em contrário. Mas uma pergunta se impõe: o que quero dizer com a palavra “diálogo”?

No campo da linguagem significa falar e escutar, ouvir e responder, pessoas que se comunicam alternadamente, troca de ideias ou opiniões com o propósito de chegar a um entendimento, comunicação, interação… No entanto, quando ela vem precedida da palavra “fraternidade”, a coisa muda de figura.

Trata-se de diálogo entre irmãos, entre família, entre pessoas queridas. A fraternidade desde o livro do Gênesis é o maior e mais importante laço afetivo. A história de Caim e Abel chama a nossa atenção sobre os vínculos fraternos. É sobre ele que Deus nos pedirá contas: “Onde está o teu irmão?” – cf. Gn 4,1-16 – não seremos interrogados pelos cultos ou celebrações que participamos, trabalhos que desenvolvemos ou títulos de honra que conseguimos obter ao longo da nossa caminhada. O diálogo entre fraternos passa então a ter outro sentido: o da caridade, o do amor, o amor que se dá, o dar-se amoroso!

Vivemos tempos difíceis. Jamais, em algum pesadelo ou sonho ruim ousamos vislumbrar uma pandemia que nos mantivesse isolados por tanto tempo, à mercê de Deus – e à graça por Ele distribuída aos nossos cientistas e pesquisadores – e reféns de um vírus mortal e mutante. Um vírus que escapa ao entendimento da ciência e das sofisticadas tecnologias que se empenham incansavelmente para rendê-lo à sua eficácia.

A Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021 está inserida neste contexto, e propõe o diálogo como ferramenta de conversão não só para tempos de quaresma, mas para toda a vida. Mas como dialogar com os irmãos e irmãs em situação de isolamento, e trabalhos home office, quando nos apresentamos de máscaras, via internet, on-line… Estamos num momento propício para exercitarmos a criatividade e vivermos a caridade evangélica. Entendendo que caridade é mais doar algo que outro necessita, mas doar-se junto ao que se doa.  Dar e dar-se junto.

A pandemia veio nos mostrar o quanto somos necessários uns para os outros, dependentes de todos… o quanto o abraço é salutar, o toque é restaurador, o olhar é acariciante, a palavra confortável. Veio nos ensinar a ser presença na ausência por meio das mídias, de um telefonema, de um “olá”, de escutar um lamento, de um choro dividido. É uma forma diferente de dialogar! E este aprendizado se faz no contraste: na ausência física. Nunca precisamos tanto uns dos outros. Talvez nunca nos tenhamos percebido ou visto como humanidade, como família humana, como carne que sofre, como lágrima que chora a mesma dor e a mesma falta, que sente o mesmo peso da morte e a dor do luto, independentemente do país, da terra natal, da cor da pele, do sexo ou gênero.

Esta pandemia e oportunamente a quaresma que nela acontece, nos trazem a oportunidade do diálogo fraterno com aqueles que são diferentes, que pensam diferente, que amam diferente e que vivem a fé diferentemente.

O encontro de Jesus com a samaritana é um belo exemplo a ser seguido – cf. Jo 4,1-42 –. Os samaritanos não eram bem quistos pelos judeus e Jesus pede água para beber a uma mulher samaritana, duplamente discriminada. O diálogo acontece e a interação entre ambos muda o coração daquela mulher. É Jesus quem vai ao seu encontro, estabelece um diálogo, caminha com ela até a sua cidade, permanece alguns dias com os samaritanos, cria laços.

Nestes tempos, chamados à conversão, façamos do diálogo instrumento que derrube os muros que separam e construamos pontes. Que saibamos ver na diversidade étnica, sexual e religiosa oportunidades de enriquecimento com o diferente. Que aprendamos a valorizar o que nos une e a respeitar o que nos separa. Que nada impeça de nos reconhecermos como irmãos/irmãs, irmãos/irmãs de Jesus, filhos/folhas do Pai. Que seja assim. Beijos no coração.

Por Quininha – Regional Leste I

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