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Iniciativa popular rompe ciclo de violência contra mulheres em Teresina (PI)

Fé e pé na estrada: assim se constrói alternativas transformadoras.

Joana*, 32 anos, mãe de três filhos, moradora da zona Norte de Teresina (Piauí). Rute*, 25 anos, namorava há quatro, moradora da zona leste. O que as aproxima é que ambas foram assassinadas por seus companheiros.

*Nomes fictícios para preservação dos familiares das vítimas. O texto foi elaborado durante oficina realizada no 2º Encontro de Comunicadoras e Comunicadores de CEBs do Nordeste, entre 20 e 22 de julho em Teresina (PI).

Desta triste forma, Joana e Rute entraram para o grupo das 54 mulheres assassinadas no Piauí, em 2017. Deste total, 57,4% foram vítimas de feminicídio (crime contra a mulher pelo simples fato de ela ser mulher).

Conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, com estes números o Piauí assume a liderança entre os estados com maior índice de feminicídio no Brasil.

O feminicídio foi um dos assuntos tratados na oficina de produção de textos, vídeos e áudios.

Na legislação brasileira, um homicídio simples pode ser punido com penas de seis a 20 anos de reclusão. Em casos de feminicídio, a pena aumenta para 12 a 30 anos. Mesmo assim, rotineiramente, os boletins de ocorrência relacionam assassinatos como o de Joana e Rute ao termo “passional”.

Associar tais casos à paixão e ciúme foi uma estratégia encontrada por advogados de  defesa por volta dos anos 1940 para conseguir perdão aos assassinos de mulheres. ”O dito crime passional é uma criação patriarcal para justificar a agressão contra a mulher”, explica a advogada criminal Luiza Nagib Eluf em entrevista ao site do Senado.

 

Superação

Entretanto, iniciativas populares indicam caminhos para a superação do feminicídio. No bairro do Poti Velho, uma comunidade tradicional da periferia de Teresina, conhecida pelo trabalho em cerâmica exercido inicialmente pelos homens, houve uma organização feminina, com apoio do Sebrae e outros atores sociais, que trabalhou a geração de renda e empoderamento das mulheres do local.

A partir daí, nasceu a Cooperart Poti. Seu trabalho tem reconhecimento nacional, por provocar uma mudança na estrutura social daquela comunidade. Atualmente, as agora microempresárias motivam uma ruptura num ciclo de violência contra as mulheres e assumem papéis sociais antes exercidos somente pela figura masculina.

 

”O dito crime passional é uma criação patriarcal para justificar a agressão contra a mulher”, explica advogada

 

“Em 2004, como já tinham várias mulheres na parte de pintura ficamos incomodadas e pensamos: por que não a mulher ‘meter a mão na massa’? E conseguimos uma parceria que nos ofereceu um curso de modelagem e cerâmica. Nosso olhar já mudou, de esposas e filhas de artesãos, donas de casa, para fabricantes de peças”, conta Raimunda Troca, mais conhecida como Raimundinha.

 

Ligue 180

Em caso de agressão contra a mulher, a população pode recorrer à Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, no telefone 180. A ligação é gratuita para qualquer lugar do Brasil.

 

Matheus Coimbra, jornalista e estudante redentorista no Ceará, e Leoni Alves Garcia, do GT de Comunicação  CEBs do Brasil

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