Definitivamente, este é o Sínodo das mulheres e a ecologia integral, do cuidado da Casa Comum, aos quais, no último briefing do Sínodo para a Amazônia, se juntou à questão ecumênica, foi o único dia em que se esteve presente um dos delegados fraternos, o pastor luterano Nicolau Nascimento de Paiva, mas também o protagonismo dos povos originais não pode faltar.
Foi o último briefing, mas não é o fim de um processo que definitivamente será perpetuado no tempo e feito institucionalmente, porque tem sido eleitos 13 bispos, 4 do Brasil, para fazer parte do chamado conselho pós-sinodal, onde vão estar outros membros nomeados pelo Papa Francisco. Isso é um impulso a mais em um Sínodo que definitivamente não é um parêntese e é o começo de uma novo modo de ser uma Igreja na Amazônia e, quem sabe, em muitos outros lugares do planeta.
A força e a importância das mulheres no Sínodo para a Amazônia se fizeram presentes nas palavras da superiora geral das lauritas, Inês Zambrano, uma das congregações que em seus 105 anos de existência incorporou melhor o que hoje queremos chamar como uma Igreja com um rosto amazônico. Em seu discurso, que pela primeira vez nessas três semanas foi respondido com palmas sinceras pelos jornalistas, ela começou agradecendo “tantas pessoas que colocaram o coração na preparação do Sínodo”.
A religiosa insistiu que “o Sínodo era vivido em um ambiente familiar, todos e todas nós fomos ouvidos”, o que pode ser considerado um elemento significativo dessa nova forma de estrutura eclesial que o Papa Francisco propõe para toda a Igreja. O Sínodo foi um período de “escuta permanente da voz da Amazônia, dos povos e da Mãe Terra”, enfatizou a superiora geral, que destacou o ambiente de testemunhos, testemunho que foi visto em primeiro lugar no Papa Francisco, em sua humildade e simplicidade, definindo-o como “alguém que tem Deus e o dá”, que não tem problema em ser abençoado por dois indígenas, algo que não foi revelado até agora e que foi realizado por Yesica Patiachi e César Licuy .
Inés Zambrano quis destacar algo que, sem fazer parte do programa oficial do Sínodo, considera importante, o Pacto das Catacumbas, que renova o compromisso com os pobres e assume um novo compromisso com os povos originários e a Casa Comum. Ao mesmo tempo, afirmou com veemência que “como mulheres vivemos com paixão neste Sínodo”, algo que elas expressaram em uma carta que as mulheres entregaram ao Papa Francisco, fato que também não era conhecido. Mas ela pensa no futuro e retoma um desafio: “construir uma Igreja com um rosto amazônico”, ideia já expressa, em outras palavras, por João Paulo II em sua viagem ao Equador em 1984.
Para isso, é necessário continuar vivendo e transmitindo o Evangelho nos ritos, visões de mundo e espiritualidades indígenas, o que exige o aprendizado das linguas, um elemento decisivo para entrar na vida dos povos, entendê-la e não demonizá-la, como muitos insistem em fazer, mesmo neste Sínodo. O fundamental, segundo a religiosa, é que não vamos trabalhar sozinhos e sim em parceria com os povos, numa tentativa comum de tornar o sumak kausay uma realidade. Nesse sentido, a vida religiosa deseja desempenhar um papel decisivo, desde a proximidade, itinerância e intercongregacionalidade, sempre com o coração amazónico e indígena.
Esse papel feminino na Igreja da Amazônia é evidente, como Dom Evaristo Spengler confirmou, observando que 60% das comunidades amazônicas são coordenadas por mulheres, o que exige um ministério reconhecido para as mulheres, que pode até ser especificado no diaconato feminino, exigido por 40% dos participantes do processo de escuta. Isso é algo que o Código de Direito Canônico permite após a reforma que o Papa Bento XVI fez do cânon 1009.
O Sínodo deve ajudar a entender a realidade da Igreja latino-americana, que soube dar grandes passos depois do Vaticano II, que se concretizaram nas conferências dos episcopados, a última em Aparecida em 2007, que foi destacado pelo Diretor da Adveniat, Michael Heinz, que insiste em que “na Alemanha queremos viver outra maneira de ser Igreja”, tendo como referência esta Igreja e essas propostas que foram apresentadas no Sínodo, que também desafia os europeus a repensar seu modo de vida, porque da ecologia integral eles devem entender que “se todos vivessem como nós na Europa, este planeta não existiria”.
Esse aspecto da ecologia integral, os cuidados da Casa Comum, da Amazônia, do ponto de vista da fé, pode ser um bom ponto de partida no progresso do trabalho ecumênico, como apontam os outros dois convidados para o briefing, Pastor Nicolau Nascimento de Paiva, que definiu o Papa Francisco “como um presente da ação do Espírito Santo para os luteranos”.
Dom Joaquin Pinzón, que disse que a Amazônia roubou seu coração e que as comunidades amazônicas estão vendo o Sínodo “como uma maneira de tornar-se visível no coração da Igreja ”, insistindo na necessidade de uma bom viver para um bom conviver, que, segundo os indígenas, se traduz em um trabalho para que a Amazônia seja saudável, as relações fraternas sejam vividas e Deus seja reconhecido como aquele que nos incentiva a cuidar da sua obra criadora.
Luis Miguel Modino
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