Temos que avançar na perspectiva do diálogo intercultural e interreligioso, com aqueles que são diferentes, que não compõem e nem comungam com a ideia de uma Igreja Una e Trina.
As CEBs nascem no final da década de 1950 e início da década de 1960. Elas circundaram o Brasil, no campo e na cidade, e procuraram mostrar a caminhada da Igreja junto dos pobres e se fazer Igreja com os Pobres. As CEBs hoje, apesar de estar vinculada a uma estrutura de Igreja quase desconectada da vida das pessoas, são ainda uma dimensão profética da Igreja. Falta, no entanto, a força dos pobres, aqueles que deveriam ser Igreja, mas que, em geral, são representados na Igreja. Apesar disso, os Intereclesiais refletem e reforçam a necessidade da luta pela justiça e da entrega da vida pelas vidas.
Temos que avançar na perspectiva do diálogo intercultural e inter-religioso, para incluir aqueles que são diferentes, que não compõem e nem comungam com a ideia de uma Igreja Una e Trina. A Igreja deve ser o reflexo de um Brasil pluricultural e plurirreligioso. E, em estando com os pobres e com os diferentes, ela precisa se fazer igual a eles e não querer que eles sejam iguais ela. E nessa dimensão da interculturalidade se inserem os povos indígenas, cada um ao seu modo, cada um com sua cultura e com sua religiosidade.
A participação consciente e organizada dos indígenas vem se consolidando ao longo dos anos. Durante o 10º Intereclesial realizado em Ilhéus na Bahia, por todas as circunstâncias ligadas às celebrações dos 500 anos, os índios ocuparam um lugar de destaque. A Celebração inicial contou com a oração e bênção do pajé, a Celebração da Missa girou em torno do perdão aos índios e da comunhão com eles, terminando com um compromisso.
Os Povos Indígenas tiveram suas discussões em grupo e ocuparam um bom tempo em todos os plenários para falarem de seus problemas e sonhos. De maneira plástica, descreveram como seus territórios foram, desde o início da colonização, retalhados e deles sendo expulsos. Até hoje são molestados em suas terras por contínuas invasões e grilagem. Insistiram muito no aspecto cultural e religioso. A vida e a religião estão sempre interligadas, portanto, não são estanques.
O 11° Intereclesial realizou-se em Ipatinga (MG), de 19 a 23 de julho de 2005, o tema abordado: ‘CEBs, Espiritualidade Libertadora, e o lema: ‘Seguir Jesus no compromisso com os excluídos’. O encontro contou com a participação 89 indígenas de várias regiões do Brasil. Momento de profunda espiritualidade e partilha.
O 12º Intereclesial realizado em pleno coração da Amazônia Brasileira na Arquidiocese de Porto Velho – Rondônia – trouxe mais uma vez a questão indígena para o centro das atenções das CEBs. Na Amazônia se encontra a maior biodiversidade do planeta, um grande potencial de água, como também uma extraordinária diversidade cultural, porém com uma complexidade devido aos diversos processos colonizadores, que foram implementados na região, levando ao exterminio e exploração de muitas especies, povos e culturas. Neste encontro cerca de 150 indigenas de todo o Brasil participam, socializando suas lutas, experiencias e espiritualidade. Podemos relembrar o discurso do índio Seattle (1854): “Ensinarão vocês às suas crianças o que ensinamos às nossas? Que a terra é nossa mãe? O que acontece à terra acontece a todos os filhos da terra. O que sabemos é isto: a terra não pertence ao homem, o homem pertence à terra. Todas as coisas estão ligadas, assim como o sangue nos une a todos. O homem não teceu a rede da vida, é apenas um dos fios dela. O que quer que ele faça à rede, fará a si mesmo. Uma coisa sabemos: nosso Deus é também o seu deus. A terra é preciosa para ele e magoá-la é acumular contrariedades sobre o seu criador… Assim como nós somos parte da terra, vocês são parte da terra. Esta terra é preciosa para nós, também é preciosa para vocês. Uma coisa sabemos: existe apenas um Deus. Nenhum homem, vermelho ou branco, pode viver à parte. Afinal, somos irmãos”. Esta é a mistica que de vivência cotidiana que os povos indígenas tem para compartilhar na grande riqueza e diversidade de nosso país.
O tema do 13º Intereclesial “Justiça e Profecia a serviço da Vida” e lema “CEBs romeiras do reino no campo e na cidade” vêm contribuiu para as reflexões sobre as realidades vividas pelos povos indígenas. Durante a análise de conjuntura social e eclesial apresentada pelo padre Manfredo Oliveira, Raquel Rigotto e Roberto Malvezzi, e apareceram como grandes desafios a demarcação, homologação e ocupação das terras indígenas.
O líder do Guarani-Kaiowá, Anastácio Peralta, explica que é preciso valorizar a terra. “A natureza não é para ser explorada, mas admirada e cuidada. Aprendemos isso com os nossos antepassados e sabemos fazer”, afirmou.
Para o cacique Valério Vera Gonçalves e sua esposa Ana Lúcia, é urgente a necessidade da demarcação. “Queremos a demarcação da nossa terra. Ela é o nosso meio de sobrevivência que Deus deixou pra nós”, comentam. Para eles, o apoio da Igreja tem sido fundamental neste debate. “Sentimos o apoio da Igreja que está a favor de nossa luta. Estou feliz porque este encontro das CEBs sempre lembra a demarcação das terras”, destaca Valério.
O 14º Intereclsial das CEBs, a realizar-se em Londrina, Paraná terá como tema “CEBs OS DESAFIOS NO MUNDO URBANO”. Os indígenas que se farão presentes, em sua maioria, serão oriundos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
Mas haverá representações de vários outros estados, acolhidos nas delegações e caravanas das dioceses. Eles vão querer expor, nas miniplenárias os desafios que enfrentam com o intenso processo de urbanização que enfrentam e são diariamente afetados, de modo especial no que tange as influências culturais no seu cotidiano, e como as políticas públicas e os direitos a demarcação e usufrutos das terras sofrem revés em função dessa urbanização que chega ser devastadora, porque produs-se nela a pobreza, a violência, os vícios, a prostituição, as doenças, o consumismo, o lixo, o modismo, a dependência e a falta de perspectiva.
Espera-se que – apesar das dificuldades relativas às distâncias e as diferanças étnicas e culturais – os representantes indígenas consigam explicitar suas realidades, angústias e esperanças. Que a organização 14º Intereclsial das CEBs procure acolher os indígenas numa dimensão missionária e pluricultural.
Os missionários e missionarias do Cimi se colocarão a disposição e a serviço do Intereclesial para que haja uma boa participação indígena neste, que é um dos espaços mais esperançosos, proféticos e profícuos da Igreja Povo de Deus.
Há 40 anos, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), acompanha e apoia os povos indígenas em todo o Brasil. Essa parceria é reconhecida pelas lideranças que, com a solidariedade de outros aliados, retomam suas terras e garantem a preservação de suas culturas.
Chepecó, janeiro de 2018.
Conselho Indigenista Missionário-Regional Sul.
fonte: Cimi e cnbb.org.br
Fotos: Leoni e Ivo Ayres
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