Leituras: Ap 7,2-4.9-14 – Sl 23 – 1Jo 3,1-3 – Mt 5,1-12a
Por Quininha Fernandes Pinto, do Regional Leste 1.
A Bíblia reservou a Iahweh o título de “Santo” – palavra que tinha, no princípio, um significado muito próximo ao de “sagrado”. Deus é o “Outro”, tão transcendente e tão longínquo que o ser humano não pode pensar em participar da sua vida. A santidade era algo distante, e para efetuar a santidade a que Deus chamava, o povo eleito tinha apenas meios legais e práticas de purificação exterior. Aos poucos foram tomando consciência de que tais meios eram insuficientes e procuravam a “pureza de coração “, aspirando uma santidade que seria comunicada diretamente por Deus. Esta aspiração se realiza em Jesus Cristo. O Evangelho nos apresenta um dos textos mais conhecidos do Novo Testamento, conhecido como o Sermão da Montanha ou as Bem-aventuranças. Jesus subiu ao monte e, após sentar-se, começou a ensinar chamando de bem-aventurados os pobres, os que estavam aflitos, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os que são perseguidos, os que fossem injuriados. A cada uma dessas pessoas ou grupos citados, Jesus oferece uma compensação, um prêmio: o Reino de Deus, consolo, a terra, a saciedade da fome, a misericórdia, a visão beatífica de Deus, e consequentemente sua filiação… e convoca à alegria, à exultação, ao júbilo. Promete uma estado de felicidade. Já no contexto cultural de Jesus, isto causou muito espanto. Hoje também é bastante inusitado. Prometer recompensas, alegria e felicidade aos pobres, aos que choram, aos que são perseguidos???? Parece um despropósito… não condiz com a alegria e a felicidade que o mundo moderno e o sistema capitalista apregoam. Ser feliz hoje equivale a ter dinheiro, a ter bens suficientes para não passar apertos; é rir – não chorar! – e jamais ser perseguido por alguém, antes, ser bajulado e admirado por todos, é viver bem! As bem-aventuranças põem em xeque as nossas certezas e as nossas convicções, para enaltecer aqueles que não foram aceitos, amados, acolhidos por um sistema excludente e desumano. A terra, o mundo e a cultura são de todos – ou deveriam ser! – possibilitando o Bem Viver = conceito este que vem na contramão do atual modelo de desenvolvimento que considera a terra e a natureza apenas como insumos para a produção de mercadorias de rápido consumo e, mais rápido ainda incentiva e produz o seu descarte. Este modelo gera uma aviltante desigualdade social que grita por emprego, por saúde, moradia, enfim, grita por justiça! As bem-aventuranças são uma forma de Deus fazer justiça aos injustiçados e, consequentemente, àqueles/as que lutam por eles, sendo voz dos que não a tem. Nesta festa de Todos os Santos lembremo-nos de tantos santos e santas hoje reconhecidos como tais, mas nos lembremos também de tantos – igualmente santos – que passaram e passam invisíveis, fazendo o bem, amando e defendendo aqueles que o nosso Deus mais ama: os pobres, os vulneráveis, os indefesos, os injustiçados. O papa Francisco em sua exortação apostólica “Gaudete et Exsultate” – Alegrai-vos e exultai, chama o mundo todo à santidade, ao amor que santifica. Recentemente ele publicou a encíclica “Fratelli Tutti” = Todos Irmãos – como que explicando e apresentando o “como” sermos “santos” simplesmente sendo fraternos, sendo irmãos de todos! Sendo humanos. Este é o requisito para a santidade, ser humano de verdade. Que o Senhor nos ajude! Que assim seja. Que seja assim.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
Ooops...
Você precisa estar autenticado para enviar comentários.