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É tempo de acumular forças, pensar para além do golpe. É tempo de construir um projeto popular para o Brasil. Esse pensamento estratégico esteve presente em várias falas das mais de 500 pessoas presentes na programação da 29ª Romaria das Trabalhadoras e dos Trabalhadores e 1ª Romaria da Terra e das Águas de Mato Grosso.
As atividades começaram nesta terça-feira, 1º de Maio, Dia Internacional da Trabalhadora e do Trabalhador, com cantos, místicas e debates, no campus de Cuiabá da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Também houve brincadeiras com as crianças e feira agroecológica/economia solidária. As discussões prosseguem na quarta (02) pela manhã no mesmo local e à tarde ocorre uma caminhada na cidade pelas ruas do Centro Político Administrativo, onde ficam órgãos públicos estaduais e federais.
O evento é inspirado na frase “Direitos não se pede de joelhos, exige-se de pé”. O autor é dom Tomás Balduíno, bispo emérito da Cidade de Goiás (GO) e um dos fundadores da Comissão Pastoral da Terra (CPT), organismo da CNBB.
“Também temos direitos. E a união faz a força”, afirmou Wesley
Os participantes vêm de dezenas de municípios, como Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis, Sinop, Nova Guarita, Acorizal, Cáceres, Mirassol D´Oeste, Nova Olímpia e Diamantino.
Integraram a equipe de organização: CPT; Centro Burnier Fé e Justiça; Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)/Arquidiocese de Cuiabá; Centro de Estudos Bíblicos (Cebi); paróquia Sagrada Família; Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); Conselho Indigenista Missionário (Cimi); assessoria do deputado federal Ságuas (PT); Economia Solidária/Cáritas; Central Única dos Trabalhadores (Cut); Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público (Sintep/MT); Sindicato do Trabalhadores Técnico-administrativos da UFMT; Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat); Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários e do Ramo Financeiro (Seeb/MT); Sindicato dos Servidores Públicos Federais (Sindsep/MT); e Juventude do PT.
Primeiros passos
O golpe contra a presidenta Dilma, o ataque a direitos sociais via Congresso Nacional e a prisão arbitrária de Lula foram muito mencionados. Primeiro, para mostrar o momento difícil. Depois, para ressaltar que é preciso unir as organizações sociais do campo e da cidade e retomar o trabalho de base.
Wesley Henrique Alves, de 20 anos, está no acampamento “Che”, em Tangará da Serra, a cerca de 40 km do centro urbano da cidade, que fica no Médio-Norte de Mato Grosso. É a primeira vez que ele participa de uma movimentação relativa ao 1º de Maio. “É bom porque reforça a luta. Também temos direitos. E a união faz a força”, afirmou.
Ele, o pai, a mãe e a esposa estão no acampamento com mais 150 famílias. Wesley trancou o curso de Educação Física no campus de Tangará da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) para ajudar na luta pela reforma agrária, mas pretende voltar logo.
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“Precisamos ter cuidado com a terra, saber usar ela. E tem que ser sem veneno, porque o agrotóxico aumenta a produção, mas prejudica o solo e a saúde. O povo ainda não sabe disso, e por isso temos que mobilizar pra informar”. Foi o que Wesley disse após a análise de conjuntura feita no salão de debates do Sintuf, que fica nas dependências da UFMT.
Desse modo ele toca num ponto central para um projeto popular para o Brasil. Ainda mais num momento em que as corporações capitalistas querem vender aquilo que não é produzido pelo ser humano: terras para cultivo; campos de petróleo; reservas de minérios; mananciais de águas.
Poesia
Situação que Jucely Lira de Andrade, de 38 anos, enfrenta com poesia. “Poesia é realidade, transmite humanidade, solidariedade, cumplicidade”. Ela escreve poemas desde a adolescência, vários deles encharcados de luta pela reforma agrária, um legado do avô.
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Jucely está no acampamento “Padre José Ten Cate”, em Jaciara, a quatro km do centro urbano da cidade, e perto de terminar o segundo grau. “Hoje a luta tá difícil. Não temos apoio político, somos mal vistos, mas continuamos fazendo as lutas, um apoiando o outro”, destacou.
Mesma perseverança presente no poema “Água sagrada”, que compôs e recitou pela manhã na “fila do povo”. Alguns trechos:
“Água sagrada
Mas sua beleza, sua riqueza tá ameaçada
Não é o sol que traz a seca tão malvada
É o agro salgado
Quão grandes leitos agora viraram esgoto
Secaram rios, veias fluviais dos poços
Agro salgado
(…)
Ainda que pouca, insuficiente,
De fresca à fervente,
Tem o seu legado
E pode ser restaurada
Água sagrada”
O valor de quem trabalha
As palavras da poetisa não são ingênuas, mas de quem tem esperança e crença na força do povo. O que Camila Sales da Silva, 23 anos, reforçou ao mencionar: “Não é um dia pra se comemorar, é pra conscientizar, informar o valor do trabalhador. Vamos prosseguir na luta. Criticar e correr atrás. Unir o campo e a cidade, senão quando isto acontecerá?”.
Camila dá aulas para o ensino fundamental no município de Jangada. Ela mora na comunidade rural Mutum, a 25 km do centro da cidade e também atua nas CEBs.
Camila é conhecida de Ermina da Silva Mialho, 47 anos, que mora na mesma cidade e tem 25 anos de CEBs. “Ou a gente grita agora ou vai acomodar e piorar”, falou, com a experiência de já ter sido presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da região nos anos 2000.
“Não é um dia pra se comemorar,
é pra informar o valor do trabalhador”, ressaltou Camila
“Quando estive à frente do sindicato é que vi o machismo e o individualismo, até de mulher. Por isso que digo que isso também aconteceu com a Dilma”. “E outra: no governo do Lula teve um efeito contrário: em vez do povo lutar pra conseguir mais, não. Parou de lutar. Agora tá tendo que voltar a lutar”.
Ela observou que com o governo Temer o quadro social piorou para a população, e que há muito pelo que se batalhar. “70%, 80% dos direitos são fachada. Moradia, reforma agrária… não andam, é muita burocracia. Olha tanta gente debaixo de lona, o desemprego…. Temos que agir, e a CEBs é uma das frentes que puxa o povo”.
Direitos e desafios
Na parte da tarde houve miniplenárias em salas do bloco de Zootecnia da UFMT. Os participantes foram divididos em dez temas: Perda de direitos trabalhistas e previdenciários; Educação no campo e cidade; Desafios do mundo urbano; Relação de gênero: mulher e LGBTs; Desafios das juventudes; Titularização de assentamentos; Agroecologia; Violência no campo e cidade e criminalização de movimentos; Cerrado, Pantanal e Amazônia e grandes projetos do capital; Direito à saúde.
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Entre as informações e ideias expostas, destaque para:
– a devastação silenciosa do Cerrado com agronegócio, ferrovias e hidrovias;
– a invasão do hidronegócio na Amazônia expulsando populações tradicionais;
– a importância da educação popular na relação com as comunidades locais;
– perceber a estratégia da mídia comercial em diminuir as vitórias do povo;
– valorizar iniciativas como o Congresso do Povo Brasileiro;
– desconfiar da visibilidade midiática dada ao feminismo e à mulher, pois homens continuam ganhando mais e tendo o poder político;
– enfrentar a cultura patriarcal e a divisão sexual do trabalho a partir da educação das crianças;
– entender que os ataques ao MST são tão fortes porque a propriedade privada é um dos pilares do capitalismo;
– investir em candidaturas populares progressistas para o Legislativo e não só Executivo;
– enxergar a importância da agroecologia para a saúde, a economia solidária e o desenvolvimento sustentável.
Por Gibran Luis Lachowki (texto) e Ana Paula Carnahiba (fotos), da Comunicação das CEBs/Regional Oeste 2
Acompanhe as fotos no álbum:
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