Carta às Comunidades Eclesiais de Base – nº10 Rondonópolis, 15 de outubro de 2021
Juventudes a caminho em busca de uma vida plena.
“Nunca percam a esperança e a utopia, vocês são os profetas da esperança, são o presente da sociedade e da nossa amada Igreja e por sobre todo são os que podem construir uma nova Civilização do amor.”
Papa Francisco
Queridas irmãs, irmãos e juventudes das CEBs do Brasil e de Nossa América,
Que alegria nos encontrarmos por essas veredas, sentipensando nossa vida e nossa história, contemplando a poesia dos povos e sabendo-nos parte de um tecido mais amplo, bonito e diverso que se estende por todo o continente.
Acreditamos que nesses relatos de fé comunitária há um poder libertador impressionante. Contemplar nossa experiência coletiva de fé, articular essa palavra com nossa teologia latino-americana e processá-la a partir do compromisso territorial de nossa juventude por todo o Brasil, torna nossa prática ainda mais fecunda, ajudando-nos a transitar integralmente nossos caminhos de luta.
Jesus, em suas andanças por tantos territórios marginais, foi um grande promotor de encontros. E não se limitava às rotas tradicionais: ousava desviar-se do caminho para encontrar-se com quem andava pelas beiras – as mulheres, os samaritanos, os doentes, os invisíveis. Somente aquelas e aqueles sensibilizados/as por Deus são capazes de parar e desviar-se do seu itinerário para atender às situações que nos necessitam à beira do caminho. Nós somos um povo capaz de seguir o caminho do Nazareno, fazer-nos presentes nas intersecções, atentas e atentos às realidades que nos rodeiam, dispostas e dispostos a encontrar-nos com o diferente e desvelar os invisíveis do caminho.
Assim como sofremos invernos eclesiais, onde assistimos dolorosamente a ascensão dos fundamentalismos e das forças de exclusão e de morte em nossa Igreja e sociedade, é preciso saber dar passos adiante na primavera. O contraste dos nossos sotaques, linguagens, experiências intergeracionais e interculturais enriquece nossa jornada e nos ajuda a apontar diferentes rumos que nos levam de volta ao Evangelho dos encontros.
A primavera que adentramos juntas e juntos nos faz aprofundarmos nossas raízes, ampliarmos nossa mente, escutarmos com o coração e nos questionarmos criticamente: como podemos cultivar a alegria para enfrentar a tristeza e a morte que nos impõem? A alegria, a festa e a celebração da vida comunitária não são elementos que nos afastam da realidade. Ao contrário, são um exercício socio-eclesial que nos convida a tecer relações horizontais, exercitar uma economia diferente, recuperarmos organizações que nos ajudam a viver coletivamente.
Esse é um tempo bendito! Conhecer e seguir a esse Jesus Nazareno, histórico, humano, rebelde e parte de um povo disposto a dar a vida pela outra e pelo outro, é uma convocatória para darmos testemunho do reino de Deus, porque outro mundo é possível a partir da comunidade e do serviço para os demais.
Em meio a uma conjuntura que teima em roubar de nós a fé no outro mundo possível, a nossa grande rebeldia é atrever-nos a sonhar! E temos consciência de que sonhar com uma terra sem males, com a sociedade da vida plena, é um exercício pra gente corajosa – essa é nossa responsabilidade e nossa tarefa. Nós, juventude das CEBs do Brasil, da Pastoral da Juventude, da América Latina e Caribe, seremos construtoras e construtores da Civilização do Amor com nossa criativa fidelidade ao projeto do Nazareno e com nossa capacidade teimosa de reciclar a morte em vida, de pensar processos, articular e organizar a esperança, movimentando experiências comunitárias, cozinhando uma teologia desde a fé popular, narrada desde baixo, do chão dos/das pobres, pois sabemos que eles e elas são sacramento histórico de libertação.
E nessa construção, não podemos jamais desencarnar aquilo que Deus quis encarnado: A Juventude, lugar sagrado. As juventudes são lugares teológicos. E o que fará Deus na sua morada? Se ele não é estático, sua presença jamais poderá ser estática, inerte, conformada, silenciosa. Deus é a expressividade do dinamismo, da inquietação, que produz nas juventudes vitalidade, força, subversão, cria mística. Deus é misturado com as realidades juvenis e as juventudes são transpassadas pelo seu espírito provocador.
Então, nós desejamos ardentemente que as CEBs sejam cada vez mais misturadas e transpassadas pelas realidades das juventudes, que possam sentar-se junto à mesa conosco, e comungar do pão que nos atravessa na mesa de nossos sonhos, dos nossos medos, fragilidades, inseguranças, e comunguem conosco, sobretudo, das nossas utopias. Que acolham as nossas experiências como sinais do sagrado, que sintam a nossa vida com paixão, que nos amem profundamente e se deixem amar também por nós.
Por fim, não menos importante, gostaríamos de externalizar toda nossa admiração e respeito a todas e todos vocês que estão fazendo o caminho ser possível desde antes de nós, queremos seguir honrando aquelas e aqueles que vieram antes e doaram suas vidas por causas tão justas e nos ensinaram o caminho da libertação.
Abraços afetuosos, cheios de admiração, respeito e amor!
Secretariado para o 15º Intereclesial
Colaboração:
Gabriela da Silva, 27 anos, da Arquidiocese de Londrina. Bióloga e educadora. Está a serviço da Coordenação Nacional da Pastoral da Juventude pelo Regional Sul 2 e compõe o GT de Formação, Fé e Política das CEBs.
Michelle Gonçalves, 24 anos, Diocese de Picos-PI, é poetisa, graduada em Letras, Pós graduada em Docência do Ensino Superior e Pós graduanda em Juventude no Mundo Contemporâneo. Atualmente está a serviço da Secretaria Nacional da Pastoral da Juventude e compõe o GT de Formação, Fé e Política das CEBs no Brasil.
Para refletir:
- Como está a acolhida e a valorização das juventudes em nossas CEBs?
- Como podemos avançar na interação com as juventudes apoiando e se enriquecendo com seu protagonismo?
Parabéns Jovens que Deus os ilumine na vossa missão. Coragem vamos pra frente