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Carta da Diocese de Roraima Sobre as Eleições. Restauremos a vida, o direito e a Justiça

No final da Romaria de Aparecida, desta sexta-feira, 12 de outubro, o bispo de Roraima, Dom Mário Antônio, fez a leitura da carta Diocesana de Roraima sobre as Eleições 2018.

O momento ocorreu logo após a comunhão, no Ação de Graças. O documento é assinado pelo próprio pastor da Igreja Católica, com reforço das Pastorais Sociais e Rede Eclesial Pan-Amazônica

A Romaria iniciou às 17h, na frente da Catedral Cristo Redentor, e seguiu rumo à Igreja Nossa Senhora de Aparecida, local que aconteceu a Santa Missa. Após a leitura oficial da carta durante a Santa Missa, o documento será amplamente divulgado nas comunidades eclesiais, imprensa, redes sociais, entre outros meios de comunicação.

Leia na íntegra:

Carta da Diocese de Roraima Sobre as Eleições. Restauremos a vida, o direito e a Justiça

12 de Outubro, Dia da Festividade de Nossa Senhora de Aparecida

A Justiça e a Paz se abracem! (Sal 85)
O Direito e a Vida prevaleçam!!

Caros irmãos e irmãs em Cristo

Estamos vivendo um momento muito importante e delicado que nos desafia. Nos próximos dias, devemos decidir, com consciência e sabedoria, qual é o projeto político e de convivência que queremos para o nosso país. Não é uma escolha qualquer, porque possivelmente nunca como hoje a nossa jovem democracia esteve tão ameaçada. Como cristãos e cristãs, nossa resposta deve ser determinada à luz da fé e da esperança que professamos, em permanente diálogo com todos para a construção de uma sociedade mais justa.

Precisamos nos deter um momento, com honestidade. Esta campanha eleitoral e o primeiro turno das eleições foram marcados por uma polarização muito intensa que não ajuda à reflexão serena e consegue, muitas vezes, confundir e cegar as pessoas até o ponto de defender propostas que, em nosso caso, são contrárias a nossas convicções mais profundas como cristãos e cristãs, seguidores de Jesus de Nazaré. Devemos reconhecer que nestas últimas semanas, o ódio, o revanchismo e a mentira ocuparam muitas vezes o lugar da lucidez, da convivência e da verdade. Nestes últimos dias se sucedem no Brasil as notícias de pessoas sendo ameaçadas, agredidas e atacadas. Diante disso não podemos ficar calados.

Na democracia, as divergências políticas e a diversidade de propostas são legítimas; fazem parte da saúde de nossa convivência em um país rico e plural como o Brasil. Porém, quando o candidato e seus apoiadores, aproveitando-se da liberdade de uma sociedade democrática, incita a divisão, o preconceito e o desprezo pelo outro, ele perde sua legitimidade. Mensagens que enaltecem a violência e a memória dos torturadores, que propõem mais armas para resolver problemas sociais, que ameaçam minorias e desprezam direitos fundamentais não têm lugar na democracia e são radicalmente contrárias à Boa Nova do Evangelho de Jesus de Nazaré. E quem apoia com o voto esta violência ofende a Deus e ao irmão.

Hoje, na Festividade de Nossa Senhora de Aparecida, queremos dizer juntos: em Jesus e com Maria, somos chamados a restaurar a vida, o direito e a justiça. Chamados a recuperar o sentido profundo da Política, que é a busca do Bem Comum acima de interesses particulares, da justiça social frente à desigualdade e da convivência em lugar da violência.

Estamos completando 30 anos de nossa Constituição Federal. Ela foi o fruto de uma sociedade plural que se mobilizou e trabalhou para que direitos fundamentais como educação, saúde, trabalho, moradia e liberdade fossem garantidos para todos, superando juntos uma das noites mais escuras da História recente de nosso país: a ditadura. A Igreja também se empenhou e contribuiu decisivamente naquele momento histórico. Nossos filhos mais jovens têm direito em saber disso: os direitos e as oportunidades de hoje são resultado de muitas mobilizações pacíficas e da generosidade de muitos homens e mulheres. Agora, 30 anos depois, somos desafiados a confirmar estas conquistas sociais; não podemos voltar atrás. Temos diante de nós dois candidatos, mas para nós há uma única opção: a defesa da vida e da democracia!

Assumamos esta Hora, queridos irmãos e irmãs, com esperança e profecia. Façamos o esforço para conhecer de verdade as propostas das pessoas que pedem nosso voto. Que nossa escolha, como cristãos e cristãs, promova políticas públicas para o acesso à educação e à saúde pública, à moradia e a um emprego digno. Que nosso voto promova a garantia dos direitos humanos, a igualdade de direitos entre homens e mulheres, o compromisso das instituições públicas e o combate à corrupção. Que nossa decisão priorize a defesa da vida e da ecologia integral, das famílias trabalhadoras e dos que enfrentam o peso do desemprego, dos jovens e das mulheres, os pequenos agricultores, ribeirinhos, povos indígenas e nossos irmãos migrantes. Que nossas palavras e atitudes, nestas eleições, sejam de paz e de democracia, para continuar construindo um Brasil mais justo, plural, diverso, feliz e democrático, livre de violência.

Com Maria, a mãe de Jesus, a quem hoje veneramos com o nome de Nossa Senhora de Aparecida, possamos cantar: “A minha alma engrandece o Senhor e meu espírito se alegra em Deus meu Salvador. Ele mostrou a força de seu braço e dispersou os que tem planos orgulhosos de coração. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e mandou embora os ricos de mãos vazias” (Lc 1, 47. 51-53).

Boa Vista – RR, 12 de outubro de 2018.
Dom Mário Antonio da Silva
Bispo da Diocese de Roraima

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