Nono Encontro Intereclesial das CEBs do Regional sul2.
Tema: “CEBs, fortalecendo a caminhada Sinodal no Cuidado da Casa Comum!”
Lema: “Caminhavam juntos, partilhavam o Pão e perseveravam nas orações e no Bem Viver!” (cf At 2,42).
- Resgate Histórico dos Oito Encontros Intereclesiais do Paraná
A Arquidiocese de Curitiba acolherá, no ano de 2026, o Nono Encontro Intereclesial do Regional Sul2. Será a terceira vez que o Intereclesial acontecerá na Arquidiocese de Curitiba e a segunda vez que que será na Capital. Explico-me: o primeiro Intereclesial do Regional Sul2 (1979), teve 85 participantes, foi na Arquidiocese de Curitiba, mas aconteceu no município de São José dos Pinhais, vizinho da capital e que ainda não era Diocese. Teve como tema: “CEBs – Reflexão Sobre as Comunidades Eclesiais de Base”. Segundo testemunhas que participaram deste Encontro ele teve um caráter de Assembleia e tinha como objetivo preparar e estudar os temas para o 6º encontro nacional (1986), que aconteceu em Trindade, Goiás. Já o segundo intereclesial (1996), aconteceu na Capital, Curitiba, nas dependências da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, e contou com a participação de 800 pessoas. Teve como tema: “CEBs: Sal e Fermento nas Massas”. E como lema: “Cantemos a Deus que nos Libertou”. É como que um Prelúdio ao Nono Encontro Intereclesial Nacional (1997), em São Luís do Maranhão.
O terceiro Encontro se deu em Fevereiro de 1999 na cidade de Londrina e teve como Tema: CEBs 2000 anos de caminhada Lema: Memória e caminhada – sonho e compromisso. Teve como motivação, a preparação para o X Encontro Intereclesial Nacional (2000), em Ilhéus na Bahia. O quarto Encontro Intereclesial, aconteceu em Maringá (2004), e teve como tema: CEBs: Espiritualidade Libertadora. Teve caráter preparatório para o Décimo Primeiro Encontro Nacional (2005), em Ipatinga, Minas Gerais. O quinto Encontro Intereclesial das CEBs no Regional Sul2 aconteceu na Diocese de Foz do Iguaçu (2008), e teve como tema: “CEBs: Ecologia e Missão”. Teve o caráter preparatório para o XII Intereclesial Nacional (2009), em Porto Velho, Rondônia.
O sexto Encontro Intereclesial das CEBs do Regional Sul2 (2012), aconteceu na Diocese de Jacarezinho e teve como tema: “CEBs: Romeiras do Reino no Campo e na Cidade”. Cumpriu a função de preparação para o XIII Intereclesial (2013), Juazeiro do Norte, na Diocese do Crato no Cariri Cearense. O sétimo Encontro Intereclesial do Regional Sul2 (2016), aconteceu na Diocese de Umuarama e teve como tema: “CEBs Paraná e os Desafios no Mundo Urbano”. E como lema: “Eu Vi e Ouvi os Clamores do Meu Povo e Desci Para Libertá-lo”. O oitavo Intereclesial das CEBs do Regional Sul2 (2022), seria em Apucarana, mas, depois de adiado por um ano, aconteceu na modalidade virtual, devido à pandemia da COVID-19 e teve como tema: “CEBs: Igreja em Saída em Defesa da Vida das Juventudes”. E como lema: “O Meu Desejo é a Vida do Meu Povo” (Est. 7,3)”. O oitavo Encontro Intereclesial constituiu-se um grande desafio e muitos aprendizados paras as CEBs do Paraná.
Proponho às CEBs do Regional Sul2 que preparam o seu Nono Intereclesial na Arquidiocese de Curitiba e às CEBs do Brasil, que já se organizam para o seu Décimo Sexto Intereclesial na Diocese de Vitória nos Espírito Santo, em 2027, duas ações: a primeira é que, como sugere o título deste artigo, retome-se a dimensão memorial e testemunhal, fazendo renascer a Igreja que nasceu do Povo pelo Espírito, para caminhar rumo à Libertação, nos três primeiros Encontros Intereclesiais Nacionais. Segunda, para tornar possível a primeira, uma atualização na hermenêutica das CEBs. E o faço inspirado no Teólogo Johann Baptist Metz, que traz o seguinte testemunho. “Em seu livro a Conquista da América, o problema do outro, o filósofo e linguista búlgaro T. Todorov mostra que essa conquista teve Êxito no séc. XVI, sobretudo porque os europeus eram hermeneuticamente superiores aos nativos”. (METZ, 2013, p. 56).
Pois bem, os adversários e os inimigos da Teologia da Libertação; das CEBs; da CNBB; do Papa Francisco e da Sinodalidade, da Igreja em Saída, dos empobrecidos, por fim, a meu ver, no contexto de hoje, estão sabendo interpretar melhor o nosso tempo do que nós, a Igreja-Povo-de-Deus. É, a meu ver, aquele mesmo embate entre os filhos da Luz e os filhos das trevas. (Lc 16,8), tema tão presente na Teologia Pastoral de Nosso caríssimo Padre Michelangelo Ramero, o Padre Miguel.
- Importâncias, Desafios e Oportunidades presentes no Nono Encontro Intereclesial das CEBs para a Província de Curitiba e para o Regional SUL2
São dois momentos que se relacionam de forma simbolicamente profunda e se completam nos seus sentidos eclesial, hermenêutico, teológico e profético: trata-se do Nono Intereclesial das CEBs do Regional Sul2, que acontecerá na Arquidiocese de Curitiba, e o Décimo Sexto Intereclesial Nacional que acontecerá provavelmente no ano de 2027 na Diocese de Vitória no Espírito Santo. A importância do tema e do lema do Nono Intereclesial está nos desafios de se estudar, refletir e conhecer a Sinodalidade como sendo o rosto, a face, da Igreja-Povo-de-Deus. Desafios dos quais surgem oportunidades.
A começar pela oportunidade de reconciliação das CEBs com a Palavra de Deus, com a dimensão profético-libertadora e com a Espiritualidade Libertadora. Dito de outra forma: as CEBs terão a oportunidade de desparoquializar as suas ações, fortalecendo a Igreja em Saída; de desclericalizar a sua agenda, retomando à identidade de Igreja-Povo-de-Deus; de desditocomizar a relação clero-leigo, fazendo valer a máxima evangélica proposta pela Papa Francisco que “Somos todos e todas irmãos e irmãs”. Reconciliar a Igreja sendo o Povo de Deus na Terra com a Palavra, e para isso é de fundamental importância ser uma Igreja Sinodal. Entretanto, essa necessária reconciliação precisa ser antecedida de uma reconciliação com a Casa Comum, de uma Conversão ecológica, assumindo como prioridade e imperativo ético, a Pastoral da Ecologia Integral.
A humanidade e o cosmos por ela habitado estão envoltos a seu modo, pelo mesmo mistério da Reconciliação que flui do coração misericordioso de Deus. Ambos se entrelaçam na realização de seu destino, numa relação de mútua dependência. A humanidade depende do universo. O universo encontra seu sentido no serviço à humanidade. Na relação de respeito e submissão está a solução dos desvios que destroem a natureza e põem em risco a sobrevivência da humanidade. (FASSINI, 2024, p. 11).
As CEBs terão a oportunidade para protagonizar a Igreja Sinodal, impedindo assim, que a Sinodalidade se torne uma sloganização, sendo definida como simplesmente caminhar juntos. Ora, caminhar juntos é um hábito comum aos animais irracionais. E não seria exagero dizer que eles o fazem até com mais frequência que os cristãos. A Sinodalidade precisa da comunhão, que por sua vez, precisa dos valores da democracia participativa. Precisa, carece, da vivência comunitária.
A Análise de Conjuntura da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – apresentada pelo CONSEP, para subsidiar os Bispos por ocasião do último Sínodo, diz que, “No entanto, para além das identificações e simpatias, é impossível negar que estejamos vivenciando um momento histórico que, entre outros aspectos, pode ser identificado como um período de crise de comunhão”. (CNBB, 2024, p.3/4). Como Igreja-Povo-de-Deus, as CEBs têm o compromisso de promover a Leitura Popular da Bíblia. É a Palavra como Luz para os nossos pés, que nos garante a Comunhão Fraterna. “A Bíblia para as comunidades constitui, assim, o espelho da realidade, a fonte de vida, o coração das CEBs (…) de fato, é a Palavra da fé que vai garantir a legitimidade cristã das CEBs”. (TEIXEIRA, 1996, p.73).
Acontece que as CEBs abandonaram, literalmente o gosto pela Palavra. Há quanto tempo as CEBs não promovem a Leitura Popular da Bíblia? E a metodologia dos Círculos Bíblicos, não vale mais? O que inspira às CEBs na caminhada profética? Uma pergunta que brota das fontes proféticas e conciliares precisa ser refeita, sobretudo, neste momento de tantas exigências e urgências que antecedem o Nono Intereclesial do Regional Sul2 e o Décimo Terceiro Intereclesial Nacional. É significativo que o Sínodo de 1975 e o Papa Paulo VI, nos proponham como primeira pergunta, “O que é feito, em nossos dias, daquela alegria escondida da Boa Nova, suscetível de impressionar profundamente a consciência dos homens?” (PAULO VI, EN Nº 4). Eu somente acrescentaria: e das mulheres. Duas opções se apresentam para as CEBs frente aos desafios que a espreitam: considerar esta pergunta, como uma Pergunta Geradora, ou ignorá-la considerando-a ultrapassada e dizer que está tudo bem. As duas atitudes têm consequências, só que diferentes.
A opção feita pelas CEBs, mas do que simplesmente significar uma escolha, significa uma atitude e um jeito de ser que fortalecerá ou negará a sua identidade. Se continuará papagaisticamente repetindo os provérbios do Papa Francisco ou se será a presença dele nas periferias do mundo, sobretudo as existenciais. Aliás, inclusive, se as CEBs também farão parte das lideranças coca-cola, solidarizando-se com o clericalismo midiático e sua teologia do pano e da renda. “E também não à “coca-colização da pesquisa e do ensino”. “São muitos, infelizmente, os discípulos da coca-cola espiritual”. (Francisco, Vatican News, 2024). Aqui apenas cabe dizer um antigo adágio popular: para quem a carapuça servir, pode ser usada.
As CEBs terão a oportunidade de desmistificar a relação fé-vida, sobretudo desdemonizar a relação fé-política. As acusações de comunistas e de petistas e outras asneiras tão ideologicamente pensadas, não podem nos incomodar como parece que incomoda. A Igreja clericalizada demoniza esta relação fé-vida e por consequência, demoniza as lideranças das CEBs e as CEBs em si. Desta situação, no entanto, surge o desafio de retornar às fontes e atualizar a hermenêutica da Igreja, especialmente com relação ao seguimento de Jesus de Nazaré. “O radicalismo do seguimento é, ao mesmo tempo, místico e político”. (METZ, 2013, p.181). A Espiritualidade das CEBs é política, porque é de olhos abertos. As perguntas a serem feitas e respondidas todos os dias e a todo momento é: a quem eu sirvo? A quem eu sigo? Quem é o meu Deus? O que é ser Igreja para mim?
- As CEBs Precisam Retornar às Fontes Mais Vivas e Proféticas
Têm algumas referências proféticas e evangélicas que estão deixadas de lado e quando não esquecidas, mas que precisam ser revisitadas. Por exemplo: o princípio “Eu vim para que todos e todas tenham vida e a tenham em abundância” (cf. Jo 10,1-10). A Vida em Abundância é para este Mundo, mas este Mundo não tem lugar para a Vida em Abundância, porque, a Vida em Abundância, ou será para todos e todas ou não será para ninguém. O Capitalismo, como um sistema demoníaco, quer de todo jeito, convencer que “vida com abundância”, é a mesma coisa. A classe (mentalidade), sobretudo, nas Igrejas sem Deus e nos “cristianismos” sem Cristo, que fazem grande sucesso por aí, acredita nessa mentira, e por isso, se faz o grande empecilho para que a Vida em Abundância aconteça. Ideologiza as questões sociais e políticas a seu gosto, pautando assim os filhos da Luz.
As Igrejas são mais capitalistas do que cristãs. Haja vista a flagrante incompatibilidade entre cristianismo e capitalismo. Ou se é uma coisa ou se outra. “A coca-cola espiritual” de que fala com tanto humor e irreverência profética o Papa Francisco é uma denúncia genuína de um profeta que não se acomoda a este mundo. Uma das características da Igreja de Francisco é sua identidade Paulina de Igreja Doméstica.
Eu vos exorto pois, irmãos, em nome da misericórdia de Deus, a vos oferecerdes vós mesmos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este será o vosso culto espiritual. Não vos conformeis ao mundo presente, mas sedes transformados pela renovação da vossa inteligência, para discernirdes qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que lhe é agradável, o que é perfeito. (Rm 12,1-2).
Conformar-se com este mundo, não é o mesmo que aceitar o desvirtuamento da profecia feito pelos coach religiosos, convencendo as multidões que a vida que Jesus veio trazer e anunciar é “com abundância” não importando os meios dos quais se faça uso para consegui-lo? Ademais, o último processo eleitoral deixou muitas lições, muitos sinais e alertas para as CEBs. A demonização da política levada acabo pela “espiritualidade coca-cola”, mostrou que o boteco influencia mais a escolha das pessoas na hora de votar que as Igrejas. E estas, quando influenciam, é a partir do tropeço de suas lideranças. Grosso modo, não generalizando, mas sem “comprar” as “lideranças” das Igrejas, “deus” não abençoa a candidatura. Embora esta não seja necessariamente uma novidade, é o desvio de conduta que se naturalizou e se agrava a cada dia ou a cada processo eleitoral. As CEBs precisam revisitar os Teólogos da Libertação e suas profecias à moda Belchior “Eu quero é que canto como faca corte a carne de vocês”. Parafraseando Paulo VI, “Onde anda a Espiritualidade das CEBs, que já foi capaz de formar Consciência Crítica e converter uma geração?
Neste meio tempo, “espiritualidade” tornou-se uma palavra da moda, com muitos sentidos. num deles, ela é a expressão, que se tornou semanticamente indefinida, de um movimento de busca pela “nova religiosidade”, no outro, é o interesse por uma espécie de “função substituta” para um tempo concebido como estritamente pós-religioso. Como sempre, numa situação como essa, parece-nos importante perguntar pela essência da espiritualidade cristã. (METZ, 2013, p. 13).
Seria essa “função substituta” da espiritualidade cristã, a sua versão cocacolizada? Em que medida as CEBs não estão bebendo desta versão, embora viva dizendo que é “zero”? Sem açúcar. Qual é a Espiritualidade das CEBs? Nossa utopia é a Vida em Abundância. E no caminho desta utopia, necessariamente, as CEBs precisam parar para pensar na tenda da Sinodalidade e na tenda da Igreja em Saída. Mais que uma paixão entorpecente com cores saudosistas pela utopia dos Povos Andinos do Bem-Viver, as CEBs são chamadas a encontrar os laços sanguíneos desta utopia andina com a Vida em Abundância do Cabeludo de Nazaré. Li na Análise de Conjuntura da CNBB, que a Igreja vive uma tripla crise: de comunhão; de esperança; e de vida comunitária. Me pergunto desde então, as CEBs, com o que lhe resta da Igreja Povo de Deus, também vive estas crises? Precisamos nos responder estas perguntas. Afinal, na esteira de Agenor Brighenti, “A rigor, numa comunidade de fé, por mais duras que sejam as condições em que lhe toca missionar, jamais poderia perder a esperança e o horizonte da terra prometida ou da civilização do amor”. (BRIGHENTI, 2000, p. 22). Para onde caminham as CEBs, hoje? Quem é o Deus das CEBs, hoje?
As CEBs continuam ao lado dos pobres? Não no discurso ou na piedade. Na prática. As CEBs atualizaram o seu conceito de pobre e de pobreza ou ainda seguem aquele do século passado cuja consciência a fez ser a Igreja-Povo-de-Deus, mas que, em tempos de pós-verdade, já não serve mais? Até que ponto temos consciência de que o Deus de Jesus não fez nascer pobres e que são os processos de colonização e de opressão que os faz empobrecidos? Nos incomoda tanto que os “cristãos sem cristo” e que a “Igreja sem Pobre” e sem Deus, portanto, nos rotule e nos ameace e nos amedronte? Não devia ser assim. Esta é uma fala de Dom Frei Severino Clasen na reunião da Ampliada das CEBs em Maringá, quase ao pé da letra. Saí daquela reunião com suas palavras pululando em minha mente.
Uma das paradas necessárias que as CEBs não podem ignorar, nessa caminhada rumo ao Nono Intereclesial do Regional Sul2 é na tenda da memória e do testemunho. Nesta tenda estão os profetas que conduziram a Igreja-Povo-de-Deus na segunda metade do século XX. “Os pobres, não no sentido puramente econômico, mas todos os rejeitados pela sociedade, os desprezados por qualquer motivo que seja. É claro que os pobres no sentido estrito fazem parte desse grupo. Por natureza os pobres são rejeitados e desprezados”. (COMBLIN, 2010, p. 88). Na esteira de Celso Carias, “(…) mas uma família de classe média que vê seu filho cair nas dependência química também sofre. O dependente químico também é um pobre”. (CARIAS, 2016, p. 102/103). As lentes de Celso Carias ajudam as lentes das CEBs.
Como anda o engajamento das CEBs, a adesão das CEBs à Pastoral da Ecologia Integral? Não basta ficar nas rodas de brindes de coca-cola mesmo que sem açúcar, legitimando um ecologismo de reunião. Também soa de mal gosto assumir as narrativas que invés de denunciar a gravidade dos crimes ecológicos e ambientais, apresenta justificativas anticristãs para justificar crimes e isentar criminosos.
Contribui, portanto, para a ação decisiva e estruturante para a construção de outra economia, que é desnaturalizar fenômenos sociais e históricos que tornam os condenados da terra reféns de interpretações que desresponsabilizam as relações sociais e econômicas pelos problemas sociais e políticos; por exemplo, culpando as fortes chuvas pelas mortes com enchentes, provocadas pelo capital imobiliário urbano; chamando de acidentes rompimentos de barragens provocados pela superexploração desenfreada dos recursos naturais por mineradoras, com conivência e apoio do Estado; responsabilizando os pobres e miseráveis por sua condição de miséria. (RICK & OLIVEIRA, (in) BRASILEIRO, 2023, p. 151/152).
As CEBs precisam contribuir de fato e de verdade para que a Sinodalidade, a Igreja em saída e o Bem-Viver, sejam realidades vividas e não apenas faladas. Esta é uma missão urgente e irrenunciável das CEBs. Somente uma Igreja Sinodal poderá ser Igreja-Mãe de todas e de todos, sobretudo das mulheres, das pessoas LGBTQIA+, das juventudes, das famílias que vivem em segunda ou terceira união, de todos os pobres e empobrecidos, por fim. Uma Igreja Sinodal é uma Igreja curada do clericalismo; é uma Igreja ecumênica; é uma Igreja com mentalidade e hábito ecológico. Fazer a vontade de Deus precisa é retornar os propósitos da Igreja, como seguidora de Jesus de Nazaré. Mas atenção! A vontade de Deus não pode ser a satisfação da vontade das lideranças religiosas. A palavra chave para se chegar à vontade de Deus é hermenêutica. A Igreja precisa atualizar a sua hermenêutica.
Muitos dizem: quero fazer a vontade de Deus! sem dúvida essa formula pode expressar a verdade, mas pode também expressar o erro. Depende do que se considera como a vontade de Deus. Se a vontade de Deus é ser criatura humana livre, a resposta é correta. Se a resposta significa evitar a condenação de Deus no final da vida por não ter feito a sua vontade, está errada. (COMBLIN, 2005, p. 240).
Pois bem, apenas para deixar uma explicação do que entendo por hermenêutica, sobretudo a partir de Paul Ricoeur, “A hermenêutica é a ciência da interpretação e a hermenêutica bíblica, portanto, é a ciência da interpretação do texto bíblico”. (SANTIAGO, 2023, p. 15).
- Considerações Finais
Este artigo é uma tentativa de comunicação com a Igreja-Povo-de-Deus e uma busca de diálogo com a Igreja e com a sociedade de nossos dias. De modo especial, deliberadamente busco contribuir com as CEBs do Regional Sul2 que se prepara o seu Nono Intereclesial e vive grandes dificuldades de reconhecimento e de legitimidade, dentro e fora da Igreja. Ressalte-se e registre-se a forma atenciosa, respeitosa e encorajadora com que os Bispos da Arquidiocese de Curitiba acolheram o Nono Intereclesial e vêm nos tratando. Mas não basta. É preciso avançar para águas mais profundas (Lc 5,1-11), é preciso que busquemos nos olharmos e nos enxergarmos mutuamente como Neófitos, aprendizes, como diz o Papa Francisco. Somos todos Neófitos, do Papa ao mais humilde catequista, no mais longínquo rincão desta casa Comum. A Sinodalidade na Igreja está condicionada à superação da mentalidade clericalizada que divide as pessoas pelas funções e pelas vestimentas. O Batismo nos iguala em dignidade e o serviço nos identifica como filhas e filhos do mesmo e amoroso pai e irmão do Nazareno que veio para servir e é bom o tempo todo.
Abraço Fraterno,
João Ferreira Santiago
Teólogo – Poeta e Militante.
Doutorando em Teologia pela PUC-PR
Assessor das CEBs na Província de Curitiba
Coordenador Estadual da CEBI-PR.