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CEBs: PROJETO DE SOCIEDADE E UTOPIA

Arte: Luis Henrique A. Pinto
Arte: Luis Henrique A. Pinto

 

Por Celso Pinto Carias – Assessor Nacional das CEBs do Brasil

 

Podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que a experiência eclesial das COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE (CEBs) está marcada pela relação FÉ e VIDA. Sempre que se pretende discernir sobre a identidade das CEBs é lembrada a dimensão profética, a luta pela justiça, a necessidade de se fazer próximo da humanidade. É uma experiência profundamente enraizada na consagrada opção preferencial pelos pobres. Porém, tudo também fruto de umaespiritualidade inserida no seguimento de Jesus Cristo, na busca incansável de realizar sinais do REINO DE DEUS..

As CEBs ainda não acumularam uma longa tradição. Seu início está no pós Concílio Vaticano II, década de 60 do século XX. Mas elas nascem justamente dentro de uma mudança de época, uma época que tem encontrado diante de si desafios exigentes, cuja resposta e direção não podem mais ser buscada com o simples recurso ao passado ou com projeções apressadas quanto ao futuro. Elas mesmas, ao longo de sua existência, encontraram resistência, perseguições e, honestamente, podemos afirmar, conheceram a exclusão enquanto opção pastoral.

Hoje, precisamos avaliar com profundidade os desafios a nossa frente e buscar pistas para continuar o nosso caminho de fidelidade ao Projeto de Jesus. Não sou cientista social. Sou teólogo. Mas creio que poucas vozes estão percebendo a gravidade da situação e a necessidade de reconfigurar um projeto de sociedade que, de fato, garanta um pouco mais a dignidade de vida para a grande maioria da humanidade. Creio que estamos dando respostas velhas para perguntas novas. O limite deste texto não possibilita uma avaliação mais cuidadosa. Todavia, vamos apontar apenas duas questões, entre outras possíveis, que precisam ser avaliadas com profundidade se queremos um futuro melhor.

Cidadania ativa. O Estado se tornou, predominantemente, em Estado eleitoreiro (aqui estou sendo ajudado por Adela Cortina, uma filósofa espanhola). Então, a opção de muitos, para se manter em governos, foi por uma cidadania do consumo. A idéia do “Estado de bem-estar”. Trata-se de ter “direitos” que se constituem exclusivamente por possuir bens de consumo. Na verdade, a responsabilidade política foi praticamente reduzida a eleições. Alguém hoje pode se perguntar: como um trabalhador, sabendo que sua aposentadoria está seriamente comprometida não protesta? Ora, como diz Adela, quem não é tratado como cidadão tampouco se identifica a si mesmo como tal. Consequentemente, abre-se espaço para a discussão em torno da democracia. É preciso ir ao encontro de uma democracia participativa.

Decrescimento. Na esteira do tipo de cidadania a ser construída vem à questão do modelo econômico (aqui estou sendo ajudado por Serge Latouche, economista francês, professor emérito da universidade de Paris). Como diz Serge,todos os governos são, queiram eles ou não, “funcionários” do capital. Os governos ditos de esquerda conseguem, no máximo, distribuir melhor a riqueza, mas não alteram a concentração do capital nas mãos de poucos e o modelo desenvolvimentista que destrói a natureza. A pergunta é se existiria outra forma. Aqui entra a UTOPIA. Chegamos a um limiar: ou repensamos o modelo econômico ou nosso futuro não está garantido. Não se pode mais buscar umPROJETO DE SOCIEDADE com mais do mesmo.

            Ao longo da história, o cristianismo contribuiu com a humanidade quando foi capaz, em fidelidade ao novo que Jesus Cristo representa sempre, de reconstituir o tecido social em outra direção. E hoje, isso só possível se unindo a várias forças sociais. As CEBs poderiam, portanto, buscar tal aliança. Vivenciar o urbano hoje, por exemplo, significa ampliar o leque das relações humanizadoras que escapam ao controle das instituições cristãs.

Fonte:  jornal A CAMINHO 3ª EDIÇÃO   http://www.cebsdobrasil.com.br/jornal-a-caminho.html

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