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Com Coletiva de Imprensa e Ciranda Cultural, MT abre a Semana da Cidadania do 27º Grito dos Excluídos e das Excluídas

Por Marilza Schuina

“Vida em primeiro lugar” é o que reafirma a 27ª edição do Grito dos Excluídos/as ocupando as ruas no próximo dia 07 de setembro, por todo o país. Organizada tradicionalmente no “Dia da Independência”, o Grito mobiliza comunidades religiosas, instituições e organizações sociais, movimentos populares, partidos políticos e pessoas comprometidas “Na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda já”.

Tratando da situação conjuntural do país e do Estado do MT, a articulação regional realizou neste 31 de agosto a coletiva regional de imprensa (acesso: https://www.facebook.com/fdhtmatogrosso/videos/145197631110553)  , com as presenças de Pe. Reinaldo Braga, secretário de pastoral da CNBB/Regional Oeste 2; Hiparidi Xavante, da Terra Indígena Sangradouro, Aldeia Abelhinha; Alan T. de Lima, do Fórum POP RUA de Cuiabá e Movimento Nacional de Moradores em situação de rua; Amandla Silva Souza, da Frente Brasil Popular e Campanha Fora Bolsonaro; Inácio Werner, do Fórum de Direitos Humanos e da Terra de MT.

Hiparidi Xavante destaca em sua fala a fragmentação do território e que “o nosso povo é alvo do governo federal e estadual, com a entrada em nosso território do agronegócio, isto tem complicado.  Em 88 nosso ancestrais brigaram para conseguir os direitos para as novas gerações e, isto garantiu muita coisa e hoje voltando para regredir este direito. É o momento mais difícil que estamos vivendo, o estado brasileiro quer impor que a nossa história só começa em 1988, por vontade de ruralistas. Nossa mobilização é para dizer não a isso, a nossa história começa bem antes, com a invasão do Brasil. Por isso teremos também a Marcha das Mulheres para defender nossos direitos. Estamos em Brasília para defender nossos direitos, estamos buscando nossa força espiritual… esse governo… é um momento difícil para nós. Em Brasília estamos correndo risco, com a doença da pandemia e querem acabar com nossos direitos e nossa história… A luta é incerta, mas nós vamos ganhar esta luta”.

Pe. Reinaldo Braga, destaca que o grito com sua história de 27 anos, a cada ano, é uma oportunidade para que as pessoas se reúnam a favor da vida. E neste ano o lema com esse “já” no final é algo provocador, que desinstala e fomenta a luta a ser assumida o quanto antes. Destaca a importância da mobilização e que a Igreja é também protagonista nesta lucidez e consciência de sua presença e atuação a favor da vida… o grito é contra a exclusão, a favor da inclusão e quer denunciar toda causa de exclusão, pois a proposta do Evangelho, do Reino é que todos sejam incluídos e tenham seu lugar com dignidade. “O pp. Cristo em Jo. 10,10, que todos tenham vida em abundância, vida plena. O Papa Francisco insiste de forma contundente por Terra, Teto e Trabalho que são imprescindíveis para uma economia justa e adequada, é preciso darmos alma, vida para a economia, contra um mercado, um sistema que empobrece, descarta as pessoas, descuida da casa comum…. Como podemos compactuar com esse sistema? Como estamos assistindo à negação dos direitos, da ciência e a forma como se encara a vacina e o desemprego, com a democracia e a soberania sob ataques, como não falar de um genocídio sem precedente? O Grito faz o reconhecimento de toda essa situação e aponta para a necessidade de uma sociedade mais justa e fraterna. Nesse momento de insegurança, instabilidade, com recordes de desemprego, preços elevados de alimentos, combustíveis, tudo isso vem no 27º Grito para iluminar nossa cabeça e nos ajudar a encontrar caminhos de esperança”.

Em forte depoimento, Alan de Lima chama a atenção para a realidade das pessoas em situação de rua e pergunta “por que elas não estão morrendo de coronavírus? Porque elas já têm uma exclusão social de muito tempo, ninguém chega perto, ninguém pega na mão. Os albergues servem como vitrine de propaganda, não tem uma política sincera para a população de rua com moradia, consultório de rua… o Fórum do POP RUA articula para lutar contra a violação dos direitos da população em situação de rua… O morador em situação de rua não tem terra, não tem casa, está lutando por uma moradia para ter um endereço fixo, é onde começa a dignidade de qualquer pessoa… como alcançar essa moradia? A pessoa em situação de rua não aguenta viver mais essa situação, não temos um defensor para a população em situação de rua… precisamos de socorro, não aguentamos mais, não tem banheiro público, não podemos dormir nas praças, jogam bomba para acordar às 3h da manhã, não aguentamos mais apanhar da polícia, não tem atendimento médico, odontológico… para onde nós vamos”?

Amandla Silva destaca as parcerias estabelecidas na construção do Grito e, neste ano, em especial, a Frente Brasil Popular, que desde 2018 vem denunciando as atrocidades do Governo Bolsonaro e sua política de retirada de direitos, de ataques aos povos, ao meio ambiente, aos trabalhadores e trabalhadoras. Enfoca a questão da educação, direito amplamente atacado pela retirada de recursos da educação, ataques à autonomia das universidades, desconsiderando a consulta popular. Nesse processo avançou nosso processo de construção da unidade com diversas frentes e entidades e com a pandemia do coronavírus, não podendo ir para as ruas em respeito à vida do povo, buscamos as mídias digitais para denunciar esse projeto de negligência, genocídio que jogam a com avida do povo brasileiro, buscando propina e não vacina, como tem demonstrado a CPI da covid-19. Sem um plano de isolamento social e pensando em “salvar a economia”, a vida do povo não foi o ponto central do governo, pelo contrário, o que se viu foi uma política de busca de lucro, pois faltou dinheiro para o auxílio do trabalhador, enquanto foram liberados bilhões e bilhões para os bancos. Diante disso, o povo voltou à rua em busca da defesa ada vida, pois diante da crise da pandemia, enfrentamos a crise do desdém do presidente. Transformamos o luto em luta… a rua foi o lugar de quem defende a vida do povo, construímos uma unidade para superação desse neofascismo… com solidariedade, doando o que se tem. Enquanto isso, o agronegócio lucra às custas do povo, que vai para a fila dos ossos.

Inácio Werner, lembra que nesses 27 anos, nós realizamos o Grito, que começou em 1995. Em todos esses gritos, trazemos a situação do país, questionando de qual independência estamos falando? Nesses 27 anos, passávamos pelo desfile oficial, quando acabava o desfile, nós chegávamos para dizer que não acabou. Estamos aqui para denunciar e buscar formas para superação da exclusão, como é a realidade trazida aqui hoje da população em situação de rua e dos povos indígenas. Lutar por políticas públicas é necessário para que sejam superadas as situações de violência contra a população em situação de rua e em situação de vulnerabilidade, contra os povos indígenas, contra os acampamentos, pois os conflitos no campo são muito violentos. Isto nos angustia, assim como o Grito do Pantanal que vai acontecer em Cáceres, lembrando o esgotamento da água, do meio ambiente diante desse modelo econômico de exploração.

No dia 01 de setembro, aconteceu a Ciranda Cultural, com artistas da caminhada, que você pode acessar e cantar e se encantar com a luta, para que não deixemos morrer a esperança. Participaram Patrícia Itaibele (jovem contadora de história de Juína), Pedro Nery (cantor e compositor das Comunidades Eclesiais de Base de Rondonópolis), Vanda e Salomão (compositores e cantores pantaneiros de Cáceres), Maria de Jesus (animadora popular, compositora, cantora de São Paulo), DJ Taba (jovem compositor e cantor de Cuiabá) e Adriano Plácido (animador das Comunidades de Lucas do Rio Verde). Link para acesso: https://www.facebook.com/fdhtmatogrosso/videos/210319071148290 .

Vamos juntos e juntas nesta teimosia, participar do 27º Grito dos Excluídos e das Excluídas, na certeza de que “a utopia é possível se nós optamos por ela, vencendo o passado escravo, forjando o duro presente, forçando o novo amanhã” (Pedro Casaldáliga).

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