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Como assim “’deus’ acima de todos”? Ex 3,7-8

 O Deus Cristão, não está acima de todos, mas está no coração e na pessoa daquelas e daqueles que sofrem, são perseguidos, caluniados, difamados, escravizados, assassinados e executados!

Nas últimas semanas começou a surgir uma frase que me fez pensar em minha Teologia. Donde vem essa frase? Estaria se referindo ao evangelho de Mateus 5,45 “o que faz brilhar o sol sobre perversos e bons, e manda a chuva sobre justos e injustos”?

Não. Do ponto de vista judaico, cristão e muçulmano, trata-se de uma distorção e um abuso. Aliás, tem sido frequente nos últimos anos no Brasil. O “deus” acima de todos, deve ser escrito em letra minúscula porque não tem nada a ver nem com o SENHOR da Tradição judaica, nem com Aláh muçulmano, e muito menos com o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O SENHOR da Tradição Judaica, se apresenta dizendo: “Eu vi a miséria do meu povo … , ouvi o seu clamor, pois conheço as suas angústias. Por isso desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios” (cf. Ex 3,7-8). Não ficou “acima de todos”, indiferente à violência egípcia, nem foi ao palácio do Faraó para um “culto” fingido, mas entrou na vida dos escravos (estrangeiros) judeus para com eles sofrer a discriminação até os dias de hoje.

Jesus de Nazaré, o único Messias, o único Cristo – não há outro em lugar algum – não nasceu num palácio do imperador romano, nem num pseudo-templo salomônico, mas numa família simples que não tinha touros e bois para oferecer, apenas um par de pombas-rolas! Identificou-se com as pessoas que tem fome e sede, estão doentes e presas, são estrangeiras (peregrinos) e que sequer tem roupa para vestir (cf. Mt 25,31 em diante). Porque veio para perdoar e salvar os pecadores e pecadoras (bandidos) e não para matar (cf. Mc 2,17; Jo 12,47), e ensinou esse perdão no Pai Nosso: “perdoai nossas ofensas como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Ensinou o amor até mesmo aos inimigos (cf. Lc 6, 27-36) e, portanto, aos que são contra meu modo de ver e pensar, com a consequência de que a vingança e a morte dos meus inimigos, ou dos inimigos de Deus, não tem aprovação do Evangelho.

Por isso tudo, Jesus foi acusado de blasfêmia pelas “ortodoxas” autoridades judaicas, a mando justamente dos homens do templo e dos que se apresentavam como os “sem pecado”. Foi entregue aos súditos do Imperador Romano, pelos que apelavam para a religião e para “deus”. Foi condenado e executado pelos grandes do seu tempo, também gente religiosa, e pelos deuses romanos.

Essa é a revelação do Mistério Divino cristão. O Deus Cristão, não está acima de todos, mas está no coração e na pessoa daquelas e daqueles que sofrem, são perseguidos, caluniados, difamados, escravizados, assassinados e executados! Sim, em cada vítima da violência, seja de assaltante, ou de Estado, seja individual ou estrutural, seja social ou religiosa, política ou policial. Aí, nessa concretude desprezada e nesse abaixamento está o Mistério Divino revelado em Jesus de Nazaré, em sua encarnação, vida, morte e ressurreição no Espírito. Ser seguidor ou seguidora é entrar em sua diaconia – serviço – até onde seja possível, até mesmo a morte, se for preciso.

Reflexão do Teólogo Érico Hammes

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