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Escutemos o Grito que vem do Rio Juruá.

“por uma Igreja que leve em conta que a Amazônia tem vários rostos, e um deles está aqui em Juruá, um rosto indígena, ribeirinho, jovem, feminino, caboclo, que requer por parte da Igreja uma atuação mais próxima, mais presente, sobretudo junto as comunidades distante das cidades”

O processo do Sínodo para a Amazônia tem sido de muita riqueza e esperança, e deve levar os povos da região a refletir e tentar assumir novas dinâmicas, novos caminhos, uma atitude que vai sendo assumida nos diferentes cantos. No Rio Juruá, que faz parte da Prelazia de Tefé se encontra a Paróquia Nossa Senhora de Fátima, que recentemente refletia sobre o Sínodo, com a orientação de Francisco Lima, Secretário Executivo do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB e assessor da REPAM-Brasil.

A assembleia foi momento para mostrar como o Evangelho deve ser inculturado na vida do povo e as celebrações, na medida em que mostram a vida cotidiana, são instrumento que ajuda a descobrir melhor a presença de Deus. Isso apareceu, segundo Francisco Lima, em um “ambiente todo preparado de forma amazônica, com canoa, frutos, e flores, um altar feito com um tronco de árvore com uma taboa onde as mulheres ribeirinhas lavam suas roupas”.

Na história da evangelização da Amazônia aparece a “lembrança de missionários e missionárias que gastaram suas vidas neste chão, também no Rio Juruá”, afirma Francisco Lima. Para lembrar essas figuras, a REPAM tem elaborado materiais audiovisuais que mostram a importância de quem deu a vida pela Amazônia e seus povos. Uma delas é a Ir. Cleuza, religiosa que trabalhou na Prelazia de Lábrea, realidade próxima da vida do povo do Juruá, de quem foi realizado um documentário sobre seu Martírio, exibido durante a assembleia.

Seguindo o método do ver, julgar e agir, a partilha de vida, de experiências, mostrou muitas emoções e muitos exemplos de vida, mas também muitos desafios, segundo o Secretário Executivo do Regional Norte 1. Isso foi julgado tendo como base o texto do livro de Gênesis, 2,15, em que Deus confia ao homem e a mulher a criação divina, o que cobra sentido numa região onde os povos originários tem sabido estabelecer uma relação de harmonia com a Mãe Terra. O agir, segundo Francisco Lima, foi momento de renovar as esperanças, de sonhar, como diz o canto: “um sonho bom, sonho de muitos… sonhar ligeiro, sonhar companheiro, sonhar em mutirão”.

A Igreja do Rio Juruá é uma Igreja que sonha, como foi expressado por um grupo formado pelas crianças e adolescentes que estava na assembleia, sonharam com uma Igreja que dê mais atenção a elas, que trabalhe mais a vocação, que tenha mais padres, que esteja mais próxima. Junto com isso, como informa Francisco Lima, os demais grupos pediram uma Igreja que se preocupe mais com a Casa Comum, que cuide da natureza, da criação; Uma Igreja que valorize mais os diversos ministérios que tenham diáconos permanentes, sacerdotes, missionários e missionárias, leigos e leigas, uma Igreja Sinodal, comunhão, participação. Que esteja mais perto das comunidades, que pense não a partir dos grandes centros, mas a partir da última comunidade, da mais distante, que forme seus leigos e leigas, que se preocupe com a vida de seu povo. Um gesto concreto surgiu a partir desta assembleia, as comunidades foram organizadas em setores, cada setor identificado por nomes de missionários e missionárias que gastaram a vida nesta região.

Um forte Grito ecoa desde o Rio Juruá, da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, nesta assembleia as cerca de 70 lideranças clamam, segundo Francisco Lima, “por uma Igreja que leve em conta que a Amazônia tem vários rostos, e um deles está aqui em Juruá, um rosto indígena, ribeirinho, jovem, feminino, caboclo, que requer por parte da Igreja uma atuação mais próxima, mais presente, sobretudo junto as comunidades distante das cidades”.

O Assessor da REPAM-Brasil destaca que “a Assembleia que foi acompanhada pelas bênçãos de Deus, através da chuva foi encerrada também em meio as águas que caíram do céu”. Ele define a ocasião como um “momento bonito, vivenciado e celebrado por este povo de fé, que mesmo em meio a tantos desafios é perseverante e pede que a Igreja tenha um olhar carinhoso, que valorize sua história, suas culturas, sua vida, um olhar cuidadoso, que ajude a cuidar de suas vidas e um olhar esperançoso que toda a Igreja possa perceber que aqui neste pedaço da Amazônia chamado Juruá, é também uma grande fonte de vida para Igreja e para o mundo”.

Luis Miguel Modino

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