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IDENTIDADE DO CRISTÃO LEIGO E LEIGA, VERDADEIRAMENTE SUJEITO ECLESIAL. Marilza José Lopes Schuina

Participar da função sacerdotal de Cristo nos faz sacerdotes como ele o foi na dimensão do serviço.

IDENTIDADE DO CRISTÃO LEIGO E LEIGA, VERDADEIRAMENTE SUJEITO ECLESIAL
Marilza José Lopes Schuina

Introdução

Estaremos comemorando o “Dia Nacional dos Cristãos Leigos e Leigas”, na Solenidade de Cristo Rei, neste domingo, 24 de novembro. Convido-os a uma breve reflexão sobre a identidade do cristão leigo e leiga.

Desde o Concílio Vaticano II a Igreja tem dado ênfase ao protagonismo do leigo e da leiga na Igreja e na Sociedade, especialmente a Igreja na América Latina e Caribe, através de suas Conferências Episcopais. Na Conferência de Aparecida (2007), o leigo é apresentado como “verdadeiro sujeito eclesial”. Falar do cristão leigo e leiga como sujeito eclesial é falar de alguém enviado, com clareza e consciência de sua identidade, vocação, espiritualidade e missão.

Identidade do cristão leigo e leiga

O Batismo é a fonte da nossa identidade cristã que nos incorpora a Cristo e pelo qual recebemos a comum dignidade de todos os cristãos, membros do Povo de Deus. É o Batismo o sacramento que confere a cada cristão a plena pertença à Igreja, constituindo-o, por Cristo, Povo de Deus, participante do mesmo múnus sacerdotal, profético e real de Cristo. É assim que os cristãos leigos e leigas são definidos, em seu caráter positivo, pelo Concílio Ecumênico Vaticano II: “São, pois, os fiéis batizados, incorporados a Cristo, membros do povo de Deus, participantes da função sacerdotal, profética e régia de Cristo, que tomam parte no cumprimento da missão de todo o povo cristão, na Igreja e no mundo” (LG 31a). Esta é a graça que o cristão leigo e leiga adquire pelo Batismo de ser sacerdote, profeta e rei, assumindo a mesma opção de vida de Jesus de Nazaré com todas as suas consequências.

Participar da função sacerdotal de Cristo nos faz sacerdotes como ele o foi na dimensão do serviço. Assim como Jesus ofereceu toda a sua vida à causa do Pai, à causa do Reino, para gerar vida abundante a todos nós, assim também, o cristão leigo e leiga que segue a Cristo, deve fazer o mesmo, “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Sua vida deve pautar-se pelas opções do Cristo, ser oferecida e entregue a este fim, como hóstia viva! “Os cristãos leigos e leigas são portadores da graça batismal, participantes do sacerdócio comum, fundado no único sacerdócio de Cristo” (CNBB, Doc. 105, 2016, p.65). “A nossa primeira e fundamental consagração lança as suas raízes no nosso Batismo. Ninguém foi batizado sacerdote nem bispo. Batizaram-nos leigos e é o sinal indelével que jamais poderá ser apagado” (Papa Francisco, Documentos da Igreja – 31, 2016, p. 12). Nesta perspectiva, todas as ações que os cristãos, especialmente os leigos e as leigas, realizam no mundo, nos diversos âmbito de sua atuação, tanto na família como na vida profissional e/ou eclesial, são ações de consagração do mundo a Deus.

Todas as suas obras, orações e iniciativas apostólicas, a vida familiar e conjugal, o trabalho cotidiano, o descanso do espírito e do corpo, se forem realizados no Espírito, e até mesmo as contrariedades da vida, se levadas com paciência, convertem-se em sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo (cf. 1 Ped. 2,5); e na celebração da Eucaristia, tudo isso é oferecido piedosamente ao Pai, juntamente com a oblação do corpo do Senhor. Assim também os leigos, procedendo santamente, em toda parte como adoradores, consagram a Deus o próprio mundo (LG, 34).

Participar da sua função profética, tão urgente e necessária para o tempo atual, é ter uma voz profética de denúncia das injustiças de tudo o que o oprime o povo, mas também uma voz de anúncio apresentando ao mundo os sinais de esperança e de realização do Reino de Deus, “assim na terra como no céu”. Exercer a função profética, é buscar sempre a unidade dentro do corpo eclesial, favorecendo a verdade e a justiça para que as mulheres sejam também sujeitas eclesiais, os negros, os índios, as crianças e os jovens sejam profetas da esperança, sujeitos da evangelização, exercendo assim, no mundo, sua missão profética unindo fé e vida. É na vida de fé e nas dimensões da vida que o cristão leigo e leiga testemunha fielmente uma espiritualidade profética que transforma e propicia o encontro com a Palavra de Deus inserida, a oração comprometida com o Reino de Deus, na lógica da caridade, da fé encarnada e do “entusiasmo missionário” (EG, 80), da “alegria da evangelização” (EG, 83), do “ideal de amor fraterno” (EG, 101).

Cristo, o grande profeta que, pelo testemunho da vida e a força da palavra, proclamou o reino do Pai, cumpre o seu múnus profético até a plena manifestação da glória, não apenas por meio da hierarquia, que ensina em seu nome e em seu poder, mas também por meio dos leigos aos quais estabelece suas testemunhas e aos quais dá o sentido da fé e a graça da palavra (cf. At. 2, 17-18; Apoc. 19,10), para que forçam brilhar a força do Evangelho na vida quotidiana, familiar e social. Eles apresentam-se como filhos da promessa, quando, fortes na fé e na esperança, aproveitam o tempo presente (cf. Ef. 5,16; Col. 4,5) e com paciência esperam a glória futura (cf. Rom. 8,25). Não escondam esta esperança no interior da alma, mas exprimam-na também através das estruturas da vida secular, por uma renovação contínua e pela luta “contra os dominadores deste mundo de trevas e contra os espíritos do mal” (Ef. 6,12) (LG. 35).

Esse testemunho de fé e vida leva-nos à participação na função régia de Cristo, correspondendo assim à aceitação e a ação do Reino de Deus inaugurado por Cristo durante a sua vida e nós somos convidados a continuar esta sua ação. Um Reino, cuja realização vai além deste mundo, mas não abandona este mundo. Um Reino que não separa fé e vida, um Reino que não separa profano e sagrado, um Reino que não separa Igreja e mundo, pois o mundo foi criado por Deus que fez dele a sua morada. É diretamente no mundo que atuam os leigos e leigas, para a transformação da realidade, fazendo a sociedade humana verdadeiramente justa, fraterna, solidária, reconhecendo assim que o Reino de Deus chegou e já está no meio de nós.

“Cristo que se fez obediente até a morte, e por isso mesmo exaltado pelo Pai (cf. Fil. 2, 8-9), entrou na glória do seu reino; a ele estão submetidas todas as coisas, até que submeta ao Pai e a si mesmo e consigo toda a criação, a fim de que Deus seja tudo em todos (cf. 1 Cor. 15, 27-28). Ele comunicou este poder aos discípulos para que, também eles fossem constituídos na liberdade própria de reis, e, pela abnegação de si mesmos e por uma vida santa, vencessem em si próprios o reino do pecado (cf. Rom. 6,12); ainda para que, servindo a Cristo também nos outros, conduzissem pela humildade e paciência os seus irmãos àquele Rei a quem servir é reinar.

 Na verdade o Senhor deseja dilatar, também pela atividade dos fiéis leigos, o seu reino, reino “de verdade e de vida, reino de liberdade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz”; neste reino também o mundo criado será libertado das cadeias da corrupção para entrar na liberdade da glória dos filhos de Deus (cf. Rom. 8,21). (…) Através da sua competência [dos leigos] nas disciplinas profanas e por sua atividade, interiormente elevada pela graça de Cristo, procurem contribuir eficazmente para que os bens criados, segundo a ordenação do Criador e a luz do seu Verbo, sejam aperfeiçoados mediante o trabalho humano, a técnica e a cultura em benefício de todos os homens; e sejam mais justamente distribuídos, e contribuam, na medida que lhes é própria, para o progresso universal na liberdade humana e cristã. Assim Cristo, mediante os membros da Igreja, iluminará cada vez mais, com a sua luz salutar, toda a sociedade humana (LG, 36).

Assim os cristãos leigos e leigas constroem sua identidade e descobrem a radicalidade da novidade cristã que provém do Batismo, pois, a fé que professamos deve impregnar nossas ações, quer como cidadãos, quer como membros da comunidade eclesial, superando assim a dicotomia fé e vida a fim de podermos viver suas exigências, segundo a vocação que recebemos de Deus.

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