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Sínodo Pan Amazônico e uma Igreja Sinodal. Pe. Nelito Dornelas

Para o Papa Francisco, a sinodalidade não é apenas uma forma de governo da Igreja, mas também um modo de ser Igreja.

O Sínodo é uma das heranças mais belas e promissoras do Concílio Ecumênico Vaticano II na corresponsabilidade do exercício de governo na Igreja. Na exortação apostólica Evangelii gaudium, o Papa Francisco afirma que cada um dos batizados, independentemente da própria função na Igreja e do grau deinstrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização, e seria inapropriado pensar em um projeto de evangelização realizado por agentes qualificados enquanto que o resto do Povo fiel seria apenas receptor das suas ações’.

Para o Papa Francisco, a sinodalidade não é apenas uma forma de governo da Igreja, mas também um modo de ser Igreja. “A Igreja nada mais é senão o ‘caminhar juntos’ do Rebanho de Deus pelos caminhos da história ao encontro com Cristo Senhor. No interior da Igreja ninguém pode ser ‘elevado’ acima dos outros. Ao contrário, na Igreja, é necessário que alguns ‘se abaixem’ para se colocar a serviço dos irmãos ao longo do caminho”. “Jesus constituiu a Igreja, colocando no seu vértice o Colégio Apostólico, no qual o apóstolo Pedro é a ‘rocha’ (cf. Mt 16, 18), aquele que deve ‘confirmar’ os irmãos na fé (cf. Lc 22, 32). Mas nessa Igreja, como em uma pirâmide invertida, o vértice se encontra abaixo da base. Por isso, aqueles que exercem a autoridade se
chamam ‘ministros’: porque, segundo o significado original da palavra, são os menores entre todos”.

O dom da escuta consiste em primeiro lugar a escutar a Deus até sentir com Ele o grito do Povo; escuta do Povo, até respirar nele a vontade a que Deus nos chama. A escolha do Papa Francisco em percorrer pelo caminho de uma Igreja sinodal é, em primeiro lugar, para colocar a fé cristã como um estandarte elevado entre as nações (cf. Is 11, 12). É um confronto direto com uma sociedade na qual, muitos daqueles que exigem participação, solidariedade e transparência na administração da coisa pública, acabam, muitas vezes, entregando o destino de populações inteiras nas mãos ávidas de restritos grupos de poder, comandada por indivíduos inescrupulosos e sem ética.

As criticas e as oposições ao Sínodo Pan Amazônico é devido a uma falta de reflexão sobre a sinodalidade, por grupos integristas presentes no catolicismo global, que acabam disseminando confusão e provocando incompreensão nas mentes e no coração das pessoas. O que o Papa Francisco está fazendo é o que já havia sido acolhido e aprovado pelo Concílio Vaticano II, ao instituir o Sínodo como forma de deslocamento de uma Igreja governada apenas pela colegialidade episcopal, para uma Igreja sinodal, subjugando a Cúria Romana à sinodalidade eclesial mundial. A diferença é que na colegialidade episcopal dá-se voz apenas aos bispos, enquanto que na sinodalidade procura-se dar voz a todo o Povo de Deus, aos outros membros da Igreja, especialmente as mulheres, mas também às periferias do nosso mundo e da Igreja, como já foram ouvidas as famílias, os jovens e agora estão sendo ouvidos os indígenas. Estes estão podendo dizer sua palavra pela primeira vez na história. Nunca foram ouvidos por ninguém.

O Sínodo Pan Amazônico terá implicações claras e diretas no nível universal da Igreja. O Papa Francisco insiste em não perdermos o foco do Sínodo e tomarmos consciencia de que possíveis mudanças concretas virão para ajudar a servir esta realidade, tão cheia de vida, mas também de ameaças, com implicações globais que poderão ser reproduzidas a partir dessas mudanças.

Desse Sínodo ressurgirá fortalecida uma Igreja com rosto amazônico e indígena. Dele sairão definições, acordos e exortações, mas o mais importante é este kairós de Deus, este tempo de graça. A periferia vai ao centro, não para substituí-lo, nem para perturbá-lo, mas para iluminá-lo e ajudá-lo a se purificar. Este Sínodo é um tempo de graça para vivermos as três conversões: pastoral, socioambiental e por uma maior sinodalidade na Igreja.

O Papa Francisco acredita na sinodalidade como uma dimensão fundamental do ser Igreja, que não conhece limites nem censuras, correndo todos os riscos desta opção. Nesta perspectiva o Sínodo Pan Amazônico, ao debater sobre os desafios para a Igreja nessa região e sobre a ecologia integral é nobre exemplo à sociedade civil, às organizações populares, aos grupos econômicos e políticos, para que estes se deixem pautar pelos princípios da ética, da justiça e da fraternidade, gerando um mundo mais belo e mais digno de todas as pessoas viverem, das gerações presentes e das que virão depois de nós e da vida do Planeta, do cuidado com esta Casa Comum, pela sociedade do bem viver e conviver.

Nelito Dornelas

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