Nos Intereclesiais foram produzidos os primeiros e mais destacados trabalhos teológicos e sociológicos a propósito das CEBs, o que suscitou uma expressão de uma eclesiologia mais autóctone, com traços marcadamente latino-americanos.
Video elaborado pelo colaborador das CEBs Pe Edegard Silva Junior do Regional Sul II
Encontros Intereclesiais das CEBs
Há quase cinco décadas, sob o influxo do Vaticano II e no calor das Conferências Latino-americanas do episcopado reunido em Medellín e Puebla, as comunidades eclesiais de base pulularam como uma pequena “flor sem defesa” . Depois, na década de 1970 veio o seu aprumar. Foi nesse momento que surgiram os Encontros Intereclesiais de CEBs, cujo objetivo era uma maior e melhor articulação das comunidades dispersas pelo Brasil .
A partilha de experiências durante os encontros é um dos traços marcantes. Os relatos da caminhada das comunidades, seus desafios, sofrimentos, lutas e conquistas, uma vez socializados, tornam patente a unidade até mesmo nos problemas e aponta para questões teóricas e práticas. O panorama apresentado fornece aos assessores referências para um aprofundamento teológico e sociológico.
Foi justamente nos Intereclesiais que foram produzidos os primeiros e mais destacados trabalhos teológicos e sociológicos a propósito das CEBs, o que suscitou uma expressão de uma eclesiologia mais autóctone, com traços marcadamente latino-americanos.
A participação seja dos delegados e delegadas leigos, seja de membros do clero, foi progressiva ao longo dos encontros intereclesiais. Também a dinâmica dos encontros passou por uma modificação, passando de uma postura reflexiva para uma mais celebrativa, especialmente a partir do VI Encontro de Trindade (GO). A participação das bases foi cada vez mais significativa, sobretudo a partir do II Encontro de João Pessoa, em 1978, quando elas passaram a assumir a organização, a condução, a reflexão e o processo decisório do Encontro.
Sem sombra de dúvida, outro aspecto de relevo nos intereclesiais – além da partilha e das reflexões – é o fato de cada encontro constituir-se numa fonte de animação para as comunidades. Cria-se a familiaridade, a unidade, o sentimento de pertença recíproca, o que gera ânimo, força na autoconsciência e auto realização, esperança e entusiasmo. Numa expressão, trata-se de uma estrutura de apoio, que reforça a eclesialidade das CEBs .
A década de 1970 representou, para as CEBs, um momento de efervescência muito significativa, de vitalidade em sua articulação dialética entre fé e vida, de criatividade bíblica e litúrgica, de sua manifestação pública mais ostensiva. O fechamento político da época, a censura a vários canais de expressão popular levou a uma atuação da pastoral popular de forma mais incisiva e da opção pela defesa da vida. O crescente empobrecimento do povo, o recrudescimento da violação dos direitos humanos e da repressão generalizada suscitou o compromisso de engajamento social dos setores sociais da Igreja, mormente das CEBs.
A conjuntura eclesial mais ampla estimulava este compromisso social . A Igreja ensaiava os primeiros passos nos caminhos de abertura do Vaticano II, incentivando as experiências inovadoras das Igrejas locais e as práticas evangélico-libertadoras. Na América Latina, Medellin gerava seus frutos.
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